O presidente do Quênia, William Ruto, cedeu à pressão popular e afirmou nesta quarta-feira (26) que desistiu de seu plano de aumentar impostos.
O anúncio se dá depois de uma semana intensa de protestos contra a medida, configurando a mais grave crise política enfrentada pelo líder desde que ele assumiu o governo do país, há dois anos.
“Ouvi atentamente o povo do Quênia, que disse em alto e bom som que não quer esse projeto de lei orçamentária”, disse Ruto em um pronunciamento televisivo. “Por isso, não assinarei o projeto […], e ele posteriormente será anulado.”
Ruto acrescentou que implementaria medidas de austeridade, a começar por cortes no orçamento da Presidência, para tentar equilibrar as contas do país. E disse que, a partir daquele momento, buscaria iniciar um diálogo com a juventude queniana, que orquestrou os atos.
Na terça-feira (25), a polícia abriu fogo contra manifestantes reunidos em torno do Parlamento depois que este aprovou a lei orçamentária que previa o aumento de impostos. Segundo diversas ONGs, incluindo a Anistia Internacional, os tiros dos agentes fizeram a multidão a invadir a sede do Legislativo, agravando a violência.
Ao menos 22 pessoas morreram em confrontos naquele dia -incluindo 19 na capital, Nairóbi-, e outras 300 ficaram feridas, de acordo com a Comissão Nacional de Direitos Humanos do Quênia.
Além disso, edifícios por todo o país foram alvos de saques e de incêndios. O governo então acionou o Exército e, à noite, Ruto se comprometeu a reprimir firmemente o que chamou de “violência e anarquia”.
A jornalista e ativista Hanifa Adan pediu que os manifestantes homenageassem os mortos com uma nova marcha nesta quinta-feira (27). “Marcharemos pacificamente de novo, vestidos de branco, por aqueles que caíram na batalha. Não esqueceremos deles!”, escreveu no X.
O recuo do presidente representou uma vitória para os manifestantes, que transformaram uma onda de indignação online em atos massivos.
O jornal local Nation documentou protestos em ao menos 35 dos 47 condados do país, de grandes cidades a zonas rurais -mesmo a cidade natal de Ruto, Eldoret, no coração da sua etnia Kalenjin, foi palco de eventos do tipo.
Ao desistir de aumentar os impostos, porém, o presidente permanece na mira de credores como o FMI (Fundo Monetário Internacional), que exige que seu governo diminua o déficit fiscal antes de conceder a ele novos empréstimos.