Entenda como Igor Viana pode ter lucrado com polêmica sobre filha e produzido provas contra si
Influencer anapolino aparece em diversos vídeos debochando e ofendendo a pequena, que sofre de paralisia cerebral
O modo vexatório e discriminatório como o influencer Igor Viana expôs a filha, Sophia Viana, de 02 anos nas redes sociais, deram uma turbinada nas visualizações dos conteúdos produzidos – conforme o próprio admitiu em uma live – e pode ter contribuído para um incremento também na conta bancária, mas que não deve passar de forma incólume.
Após aos vazamentos dos áudios e o escalonamento do caso em rede nacional, ele, assim como a ex-companheira, Ana de Santi, se tornaram alvo de inquérito da Polícia Civil de Anápolis – cujo último passo divulgado foi a quebra de sigilo bancário da dupla para saber onde o dinheiro arrecadado era ‘investido’. Ao explorar a deficiência cerebral da própria filha, Igor e Ana Santi, podem ter esbarrado em, pelo menos, cinco crimes.
Coincidentemente, a maior parte do conteúdo foi retirada do ar recentemente, como reflexo da polêmica envolvendo as denúncias de maus-tratos e estelionato.
Eram nesses conteúdos que milhares de usuários acompanhavam a rotina da garota. Em um dos vídeos, por exemplo, ele chega a chamá-la de “inútil do car@lho” – salientando um comportamento hostil que foi ganhando corpo e presença cada vez mais constantes nos materiais divulgados.
Uma das hipóteses levantadas é de que esse conteúdo agressivo e com exposição exacerbada da menor tinham um objetivo muito além do que simples doações. A estratégia viral, através de polêmicas, era de atrair o maior número de internautas possíveis, visando o lucro.
Especialista
Em entrevista ao Portal 6, sócio-diretor da agência de marketing digital 3ABS, Carlos Costa, explica que influencers abusarem de estratégias extremistas, com o intuito de lucrar, não é incomum.
Carlos ressalta que a monetização na internet se dá, dentre diversos outros fatores, por uma métrica que analisa quantas impressões – ou, basicamente, visualizações – o conteúdo alcançou, sendo esta normalmente avaliada por milhar.
“Então, há cada mil visualizações, por exemplo, o influencer pode ganhar 3 ou 4 centavos, mas é um valor que depende de cada plataforma e outros requisitos”, revelou.
Por conta dessa proporção, para gerar lucros palpáveis, é essencial que o conteúdo seja acessado por milhares e milhares de internautas, em diferentes plataformas e, segundo o especialista, na hora de perseguir esse objetivo, não é incomum ver materiais falsos, sensacionalistas e até apelativos, espalhados pela Internet.
Porém, no caso de Igor, especificamente em relação aos vídeos nos quais aparece ofendendo ou debochando da pequena, Carlos explicou que tais conteúdos violam expressamente os códigos de conduta da maioria dos aplicativos utilizados e que a conta do influencer “teve sorte” de não ser banida.
“Entendo o porquê de engajarem, já que tratam de temas visivelmente condenáveis e sim, tecnicamente, com quanto mais views, mais lucro. Porém, é uma corda bamba. Isso funciona até a conta cair, ele está andando à beira das regras, mesmo que seja de ‘brincadeira’, é um risco enorme, além de punível pela lei”, pontuou.
A fim de conscientizar a população de como não “dar palco” ou contribuir para a monetização deste tipo de conteúdo, Carlos explicou que é importante não reproduzi-lo e denunciá-lo, de forma imediata, no aplicativo.
“Conteúdos violentos só vingam por conta de engajamento, então tem que cortar o mal pela raiz. Passa para o próximo vídeo, denuncia, não repete uma, duas, três vezes, se não a plataforma vai entender que é um vídeo bom”, disse, por fim.
Crimes
O formato de exposição da imagem da pequena Sophia, também traz implicações na esfera penal. Até o momento, a Polícia Civil trabalha com a análise de cinco crimes: desvio de dinheiro de pessoa com deficiência, constrangimento de criança, maus-tratos, estelionato e discriminação contra pessoa com deficiência.
Igor Viana e a filha Sophia Viana. (Foto: Reprodução)
Ao Portal 6, o presidente da Comissão dos Direitos da Criança e Adolescente de Anápolis, Ismael Isaac Marcelino Mendonça, explica que, em uma primeira análise, a relação de maus-tratos do influencer com relação à filha é evidente.
“De primeira vista, ao destratar e ofender a criança, com palavras de baixo calão, e ainda mais por expor tudo isso no ambiente virtual, sendo uma figura pública com milhares de pessoas que o acompanham, tudo isso conta como agravante para o caso”, disse.
Além disso, o especialista ainda pontuou que as atitudes tomadas pelo influencer infringem diversas normas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
“No artigo 16, inciso V, por exemplo, é assegurado que a criança participe da vida familiar e comunitária, sem discriminação; o artigo 17 trata da inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral, o inciso II do artigo 18 também previne contra tratamento degradante. Ou seja, são uma série de crimes que podem estar sendo cometidos”.
*Colaborou Karina Ribeiro