Dólar fecha em queda e Bolsa dispara com novos estímulos na China e dados dos EUA
Moeda enfrentou uma sessão de desvalorização global, com quedas em relação ao peso chileno, ao peso mexicano e ao rand sul-africano
O dólar fechou em queda de 0,57% nesta quinta-feira (26), a R$ 5,444, com a repercussão de novas promessas de estímulos na China e de dados econômicos dos Estados Unidos.
A moeda enfrentou uma sessão de desvalorização global, com quedas em relação ao peso chileno, ao peso mexicano e ao rand sul-africano.
No índice DXY, que mede a força do dólar em relação a uma cesta de outras divisas fortes, as perdas foram de 0,33%, a 100,58.
Já a Bolsa disparou 1,08%, a 133.009 pontos, embalada pelo avanço de 6% dos papéis da Vale.
A cena externa dominou a atenção do mercado nesta quinta-feira. O grande destaque foi mais um anúncio vindo da China para tirar a economia do estado deflacionário e voltar a atingir a meta de crescimento do governo.
Nesta manhã, o Partido Comunista chinês prometeu “gastar o necessário” para que o país cumpra a promessa de terminar o ano com um PIB (Produto Interno Bruto) em 5%.
As falas, que incluíram orientações para sustentar o consumo das famílias e estabilizar o conturbado mercado imobiliário, foram feitas em uma leitura oficial da reunião mensal das principais autoridades do Partido Comunista, o Politburo.
A reunião de setembro não costuma ser um fórum para discussões macroeconômicas, o que sugere uma ansiedade crescente em relação à desaceleração do ritmo do PIB.
Na terça-feira, a China já havia anunciado o pacote de estímulo à economia mais agressivo desde o início da pandemia de Covid-19, em 2020. As medidas incluem cortes em algumas taxas de juros, uma injeção de liquidez de 1 trilhão de iuanes (US$ 140 bilhões) no sistema financeiro e outros impulsos.
Assim como aconteceu na terça-feira, a reação dos investidores ao anúncio de hoje foi positiva e fomentou a procura por ativos de risco, como os mercados acionários.
Nas praças europeias, o índice STOXX 600 bateu o recorde de fechamento e fechou em alta de 1,25%, a 525,61 pontos, também impulsionado pelo avanço de papéis de empresas ligadas a chips semi-condutores, após previsões de forte receita da companhia americana Micron.
Em Wall Street, o Dow Jones subiu 0,62%, a 42.175 pontos, o S&P 500 avançou 0,40%, a 5.745 pontos, e a Nasdaq ganhou 0,60%, a 18.190 pontos.
Para economias emergentes, em particular, o impulso também veio da valorização de commodities como o minério de ferro e cobre, diante da projeção de maior demanda da China. Na Bolsa de Dalian, o contrato mais negociado do minério de ferro teve alta de 1,75%, a US$ 103,73 a tonelada.
“Um pacote de estímulos econômicos vultoso como o chinês tem melhorado as expectativas de investidores em relação ao desempenho econômico do país, o que ajuda a elevar as expectativas de demandas por commodities”, disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.
“Mostra que aquele pacote de estímulos monetários divulgados há dois dias faz parte de um conjunto mais amplo de ação e demonstra que as autoridades chinesas estão preocupadas com a perda de ritmo do país.”
No Brasil, além dos ganhos no mercado de câmbio, isso se refletiu na disparada das ações da Vale, a empresa de maior peso no Ibovespa. A mineradora avançou 6%, e pares do setor também se beneficiaram do otimismo, como Usiminas (5,62%) e CSN Mineração (8,94%).
O avanço na Bolsa só não foi maior por causa da forte queda da Petrobras, que seguiu os preços do petróleo no exterior em meio a notícias de que a Arábia Saudita, maior exportadora da commodity no mundo, abrirá mão de sua meta de preço para aumentar a produção de barris.
Com isso, os papéis preferenciais e ordinários da petroleira perderam 2,15% e 2,09%, respectivamente.
Do outro lado do mundo, as atenções também se voltaram para novos dados econômicos dos Estados Unidos, com investidores em busca de sinais sobre a trajetória dos juros americanos.
O Departamento do Trabalho informou que o número de pedidos iniciais de auxílio-desemprego recuou para 218 mil na semana encerrada em 21 de setembro, abaixo da expectativa de 225 mil consultados pela Reuters.
Antes considerada mais secundária pelos operadores, a leitura de pedidos de auxílio-desemprego tem sido um termômetro semanal para o estado do mercado de trabalho dos Estados Unidos -agora o principal balizador do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) para a política monetária.
“Números melhores de emprego significam que o Fed fará um corte de apenas 0,25 ponto percentual na próxima reunião… por um lado, não teremos um corte maior na taxa, mas, por outro, isso indica que a economia está forte, o que é uma boa notícia”, disse Melissa Brown, diretora-gerente de pesquisa de decisão de investimento da SimCorp.
As atenções agora se voltam aos dados de inflação do PCE (índice de preços de despesas de consumo pessoal, na sigla em inglês), que serão divulgados na manhã de sexta-feira.
Já no Brasil, o BC (Banco Central) melhorou a projeção de crescimento econômico em 2024 a 3,2%, ante patamar de 2,3% estimado em junho, conforme Relatório Trimestral de Inflação.
No relatório, a expectativa de inflação para este ano também subiu. De 3,96%, no último relatório, ela foi para 4,31% -abaixo dos 4,37% esperados pelo Boletim Focus desta semana.
O BC cita como fatores por trás da alta a possível restrição de oferta de produtos devido ao clima seco e o encarecimento de preços de bens industriais, influenciados pelo avanço dos preços ao produtor, pela depreciação cambial e pelo aumento do imposto sobre o cigarro.
“Considerando o hiato do produto em campo positivo, que indica que a economia doméstica está operando acima da sua capacidade potencial, e os riscos inflacionários, o mercado avalia não haver outra alternativa se não a de intensificar o ritmo de aumentos da [taxa] Selic”, avalia André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências internacionais Remessa Online.