SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Muhsin Hendricks, primeiro imã (sacerdote muçulmano) abertamente gay do mundo, foi morto a tiros na África do Sul no sábado (15), segundo a polícia.
De acordo com a BBC, o religioso de 57 anos -que administrava uma mesquita na Cidade do Cabo considerada um refúgio seguro para muçulmanos gays e marginalizados- foi baleado depois de o carro em que viajava ser emboscado.
“Dois suspeitos desconhecidos com os rostos cobertos saíram do veículo e começaram a disparar vários tiros contra o veículo”, disse a polícia em comunicado.
A Comissão de Direitos Humanos da África do Sul condenou o assassinato. Em nota, a instituição cita imagens que circulam nas redes sociais em que um homem encapuzado sai de uma caminhonete e dispara tiros pelas janelas de um carro em uma área residencial antes de fugir em alta velocidade.
A notícia da morte de Hendricks causou comoção na comunidade LGBTQIA+. Defensor dos direitos dos homossexuais e da tolerância com muçulmanos gays, o imã criou em 2018 a Fundação Al-Ghurbaah, organização sem fins lucrativos que acolhe adeptos do islã discriminados por sua orientação sexual.
O vice-ministro da Justiça da África do Sul, Andries Nel, disse que era muito cedo para dizer se o tiroteio foi um crime de ódio, mas afirmou que a polícia estava à procura dos suspeitos.
Julia Ehrt, diretora executiva da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexuais, pediu às autoridades que investigassem minuciosamente “o que tememos ser um crime de ódio”.
“Ele apoiou e orientou tantas pessoas na África do Sul e ao redor do mundo em sua jornada para se reconciliar com sua fé, e sua vida tem sido um testemunho da cura que a solidariedade entre comunidades pode trazer para a vida de todos.”
A associação disse estar “profundamente chocada” com o assassinato.
Em 1998, a África do Sul se tornou o primeiro país do continente a descriminalizar a homossexualidade, quando o Tribunal Superior de Joanesburgo decidiu que as leis existentes de sodomia violavam a Constituição pós-apartheid.
Mais de 30 dos 54 países africanos criminalizam casais do mesmo sexo e, nos últimos anos, pelo menos seis nações, incluindo Gana e Uganda, deram passos em direção a leis anti-gays mais severas.