Avós desabafam que não querem ser explorados e reforçam que ajudar os netos é diferente de assumir o papel dos pais

Após anos dedicados aos filhos, muitos avós começam a impor limites para preservar a própria saúde e uma velhice tranquila

Gabriel Yuri Souto Gabriel Yuri Souto -
Avós se sentem pressionados pelos filhos a criarem seus netos
Avós se sentem pressionados pelos filhos a criarem seus netos (Foto: Reprodução/ Freepik)

Durante muito tempo, a imagem do avô e da avó no parquinho, empurrando o balanço ou buscando as crianças na escola, foi tratada como algo natural, quase obrigatório.

Parecia uma extensão da maternidade e da paternidade: os filhos crescem, têm seus próprios filhos e, de alguma forma, os avós retomam uma rotina que já haviam cumprido décadas antes.

Só que essa expectativa, tão comum em países como Brasil e Espanha, está começando a gerar conflitos silenciosos dentro das famílias.

E é justamente esse desconforto que muitos idosos, hoje, decidiram verbalizar.

Eles desabafam que adoram estar com os netos, mas não aceitam mais a ideia de se tornarem cuidadores principais, assumindo jornadas inteiras enquanto os pais trabalham, estudam ou simplesmente buscam mais tempo livre.

“Ajudar é uma coisa. Criar de novo é outra.”

Cayetana Campo, de 71 anos, é um dos exemplos citados no material original. Mãe de quatro filhos e avó de seis netos, ela deixou claro desde o início que não aceitaria “reviver a maternidade”.

Para ela, ajudar em emergências é natural, mas assumir rotina diária de escola, almoço e atividades não faz parte dos planos.

“Eu tenho a minha vida, minhas amigas, meus passeios. Não posso estar disponível o dia todo”, contou.

E ela não está sozinha. Muitos avós relatam que, ao impor limites, se sentem culpados — como se estivessem falhando com a própria família.

Alguns, inclusive, evitam falar abertamente sobre o assunto para não parecerem egoístas. A cultura do “todo mundo ajuda” sempre pesou sobre as gerações mais velhas, que nem sempre têm coragem de dizer não.

A síndrome do “avô explorado”

Especialistas citados no material apontam que, na Europa e na América Latina, uma parcela enorme dos avós cuida dos netos por longas horas, muitas vezes sem escolha real.

Dados de pesquisas internacionais mostram que alguns chegam a dedicar entre seis e sete horas por dia ao cuidado dos pequenos, praticamente uma segunda jornada de trabalho.

Essa rotina intensa, porém, vem acompanhada de consequências importantes: estresse, exaustão, ansiedade, dores físicas, noites mal dormidas e até piora de doenças preexistentes.

Para os psicólogos, isso se aproxima do burnout, quando a pessoa se desgasta ao ponto de perder energia emocional e física.

E o mais preocupante: apenas uma pequena minoria desses avós cuida dos netos por prazer. A maior parte se sente pressionada, seja pela falta de creches, pela dificuldade financeira dos filhos ou por laços culturais que fazem muitos acreditarem que “é obrigação”.

O peso emocional do silêncio

Para alguns idosos, o maior desafio não é cuidar dos netos, e sim o medo do julgamento. Muitos sentem vergonha de admitir que não querem assumir esse papel novamente.

Outros acreditam que, ao negar ajuda diária, podem ser vistos como egoístas ou como avós pouco amorosos.

Só que os especialistas reforçam que cuidar dos netos ocasionalmente é completamente diferente de assumir a criação e que a velhice precisa ser vivida com dignidade, autonomia e liberdade.

Não é errado querer tempo para viajar, descansar, fazer exercícios, cultivar hobbies ou simplesmente não ter compromissos.

O caminho possível: limites claros e diálogo honesto

A orientação dos geriatras e psicólogos é simples: estabelecer limites desde o começo. Isso significa combinar horários específicos, deixar claro quando é possível ajudar e quando não é, e lembrar aos filhos que a responsabilidade principal continua sendo deles.

Contudo, impor limites não é falta de amor, é proteção. Um avô sobrecarregado não consegue aproveitar o neto, nem cuidar de si mesmo. Já um avô que participa de forma equilibrada cria vínculos mais saudáveis, mais leves e mais felizes.

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Gabriel Yuri Souto

Gabriel Yuri Souto

Redator e gestor de tráfego. Especialista em SEO.

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