“Vou empacotar as minhas coisas”, diz Moro ao anunciar saída do Governo Bolsonaro
Ministro alegou que não concorda com interferência política na Polícia Federal e que o presidente da República não cumpriu promessa de "carta branca"
A frente do Ministério da Justiça e Segurança Pública desde o início do Governo Bolsonaro, em janeiro de 2019, Sérgio Moro anunciou que está deixando a pasta nesta sexta-feira (24).
O pedido de demissão dele foi entregue ao presidente da República durante a manhã após a exoneração do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, ser publicada no Diário Oficial da União.
Moro lamentou ter que anunciar a saída no momento em que o país enfrenta a pandemia de Covid-19, mas que não poderia concordar com uma clara interferência política no órgão.
Uma forte fala de Moro durante a coletiva foi a de que nem nos governos do PT, maior alvo da Operação Lavajato, iniciada em 2014, houve interferência na Polícia Federal e demais órgãos de controle e investigação.
“Certo que o governo da época [Dilma] tinha muitos defeitos, mas foi fundamental a autonomia”, disse.
Lembrou que ao aceitar o convite de Jair Bolsonaro para assumir o comando da Justiça e Segurança Pública, recebeu do então presidente eleito a garantia de que poderia trabalhar de maneira técnica.
“Como eu estava abandonando a magistratura após 22 anos, e sem previdência, pedi apenas que se algo me acontecesse, que a minha família não ficasse desamparada e recebesse uma pensão. O presidente concordou com todas essas condições e falou publicamente que me daria carta branca e aceitei acreditando [nessa promessa]”, destacou.
Segundo Moro, as tentativas de interferência de Jair Bolsonaro na Polícia Federal começaram no segundo semestre do ano passado quando ‘houve um desejo insistente’ do presidente em trocar o chefe da Polícia Federal, Maurício Valeixo.
“Presidente, eu não tenho nenhum problema [em concordar com a demissão], mas eu preciso de uma causa”, que segundo o ministro não foi apresentada.
Ao encerrar a coletiva, o ex-juiz disse iria “empacotar as minhas coisas” e que quer continuar contribuindo com o país ‘no que for necessário’. Saiu sendo aplaudido por servidores da Justiça e até por profissionais da imprensa que estavam presente.