No RS, morador de Anápolis foi confundido com bandido, levou tiros e ficou preso injustamente
Já a amiga dele, também baleada, morreu após dias no hospital. Viagem de férias dos dois se transformou em um verdadeiro pesadelo
No dia 11 de maio, Gilberto Andrade, de 26 anos, saiu de Anápolis para passar as férias com uma amiga de Cachoeirinha, região metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. O que era para ser um momento feliz, porém, acabou se tornando um grande pesadelo.
O jovem veio há cinco anos de Angola e é técnico de radiologia. No dia 17, viajou com Dorildes Laurindo para Tramandaí, no Litoral Norte, e alega ter pedido um carro pelo Bla Bla Car. Quando voltavam para casa, o motorista acelerou repentinamente e tomou um caminho diferente para fugir de uma viatura policial.
“Em uma curva o motorista parou o carro e fugiu. Quando descemos começou os disparos. Eu infelizmente tomei quatro tiros. Minha amiga está mais grave, tomou um tiro no peito, dois na barriga e um na mão e está na UTI”, contou em entrevista ao Portal 6 na tarde desta terça-feira (02).
“Eu disse que estava de férias, que só tinha contratado a corrida, e os policiais falaram que eu ia sangrar até morrer. Antes da Dorildes cair desacordada, disse que estava sendo morta por eles mesmo sendo inocente”, relembrou.
No local, os três militares atiraram 35 vezes. Gilberto foi algemado, chutado e só então socorrido por uma ambulância. Passou uma semana internado sob custódia policial e cinco dias detido: um na delegacia de Gravataí e outros quatro na Penitenciária Estadual de Canoas.
“Me prenderam alegando que eu estava em posse de uma arma e efetuei disparos contra eles. Na delegacia dormi no chão de concreto e as necessidades fisiológicas são feitas no mesmo lugar que se come. Já o presídio era bem estruturado, mas eu me senti revoltado. Sempre falava que era inocente e a humilhação era maior quando os agentes riam dizendo que na cadeia todos eram”, relatou.
Investigação
O caso segue sob investigação da Delegacia de Homicídios de Gravataí, comandada pelo delegado Eduardo Amaral. O Portal 6 tentou contato com a autoridade por telefone várias vezes, mas não obteve sucesso.
No entanto, à RBS TV, filiada da Rede Globo do Rio Grande do Sul, ele contou que o motorista era foragido por uma tentativa de feminicídio e já está preso. Ele também deverá responder por ter atentado contra os policiais e falsidade ideológica.
“No local próximo ao Gilberto foi encontrada uma arma de fogo, por isso em um primeiro depoimento a Polícia Militar acreditou que o Gilberto tivesse reagido também, mas apuramos que ele não reagiu e aquela arma de fogo encontrada provavelmente seria do foragido”, explicou.
“Como havia indícios de excessos praticados pelos policiais militares na ação, cópia do inquérito também foi remetida para o comando local da BM para a apuração de eventual infração penal/disciplinar militar”, acrescentou
Em tempo
Depois de receber a liberdade, Gilberto foi recebido com um churrasco pela Associação dos Angolanos do Rio Grande do Sul, presidida por Januário Gonçalves, e ficará acolhido no local até se recuperar.
No início desta noite, poucas horas após a entrevista com o rapaz, a reportagem foi avisada por Januário que Dorildes não resistiu aos ferimentos e faleceu.
Já a Bla Bla Car afirmou em nota à reportagem que o aplicativo só foi usado por Gilberto e Dorildes na viagem até a praia e que na volta eles teriam chamado o motorista para uma corrida particular.
Agora, após a prisão injusta e a perda da amiga, o desejo de Gilberto é voltar para Anápolis assim que receber alta médica. Ele foi selecionado por uma universidade de Portugal para fazer mestrado, mas já não sabe se conseguirá ir.
Veja na íntegra a nota da BlaBlaCar
A BlaBlaCar, líder nacional em viagens de longa distância por meio de caronas compartilhadas, lamenta profundamente o ocorrido e reforça o compromisso com a criação de um ambiente de viagem seguro e confiável para os mais de 5 milhões de usuários da plataforma no País.
A empresa ressalta que a viagem realizada pelo casal Dorildes Laurindo e Gilberto Andrade com a ocorrência de confronto com a polícia e o incidente com tiroteio não ocorreu por meio da utilização da plataforma.
A companhia informa ainda que é uma comunidade de confiança que conecta quem procura uma viagem com quem tem espaço livre no carro. Funcionalidades como verificação de foto, e-mail, telefone e avaliações permitem que os condutores e passageiros escolham com quem vão viajar antes da viagem.
Por não ser um serviço de cunho comercial, não existe a obrigatoriedade de verificação da documentação. No referido caso, o condutor Luiz Carlos Pail Junior optou por oferecer a carona sem cadastrar seus documentos, informação que fica disponível em seu perfil dentro do aplicativo, visível a todos que acessam a plataforma.
A BlaBlaCar preza pela segurança de seus usuários e reitera que se encontra à disposição das autoridades para colaborar com as investigações.