Para 89% dos pais, pandemia faz com que filhos passem mais tempo na TV, no celular e no videogame

Pesquisa Datafolha, encomendada pelo C6 Bank para medir os impactos da pandemia na educação, ainda mostra outros reflexos da quarentena imposta pelo coronavírus no comportamento de crianças e adolescentes

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Para 89% dos pais, pandemia faz com que filhos passem mais tempo na TV, no celular e no videogame
(Foto: Reprodução)

Em home office desde março do ano passado, a analista de sistemas Bruna Rafaela Paiva, 35, acabou deixando que o filho Samuel, 6, que também está em casa desde o início da pandemia, passasse mais tempo à frente da TV e na internet.

“A gente vai entrar em uma reunião de trabalho e aí libera para assistir TV. Aí emendamos outra reunião e surgem mais demandas e, quando vemos, a criança passou o dia todo na TV.”

Assim como Paiva, 9 em cada 10 (89%) pais de filhos com idades entre 6 e 18 anos afirmam que as crianças e adolescentes passaram a ficar mais tempo diante das telas, como TV, celular ou videogame, durante a pandemia.

Pesquisa Datafolha, encomendada pelo C6 Bank para medir os impactos da pandemia na educação, ainda mostra outros reflexos da quarentena imposta pelo coronavírus no comportamento de crianças e adolescentes: para 69% dos pais, os filhos ficaram mais dependentes; para 64%, ficaram mais irritados, ansiosos ou estressados; para 54%, os filhos engordaram; para 52%, ficaram mais tristes; e, para 45%, os filhos passaram a reclamar que se sentem sozinhos.

“A gente percebe que ele está mais triste, sente falta dos amigos e das professoras e está até mais ansioso. Tem roído as unhas até quando assiste TV. Estamos pensando em levá-lo a um psicólogo e também limitamos o horário na TV e na internet”, diz Paiva.

Para o levantamento, o Datafolha entrevistou presencialmente 2.079 brasileiros com mais de 16 anos, entre os dias 10 a 14 de maio, em todas as regiões do país. Do total, 744 declararam ter filhos entre 6 e 18 anos. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, na amostra total, e de quatro pontos percentuais, para mais ou para menos, na amostra de pais de crianças e adolescentes.

Segundo o instituto, 24% dos brasileiros adultos possuem filhos com idades entre 6 e 18 anos. Desses, 15% possuem um filho; 7%, dois filhos e 2%, três ou mais filhos nessa faixa etária.

Entre os que possuem filhos nesse recorte etário, 95% declararam que as crianças e adolescentes estão matriculados em escolas, sendo 81% nas unidades da rede pública, 12% na rede particular e 1% não respondeu.

Dos matriculados, 91% tiveram acesso ao ensino a distância durante a pandemia. Nos que estão na rede particular, esse índice chega a 99%. Já entre os inscritos na rede pública, a taxa cai a 90%.

Já a avaliação da experiência com o ensino remoto dividiu as opiniões dos pais: 38% classificaram como ótimo ou bom; 30%, como regular e 31%, como ruim ou péssimo. A taxa de aprovação é maior entre os matriculados na rede
particular, com 43% -ante 37% para pais de filhos em escolas públicas.

A satisfação com o ensino remoto também muda conforme a idade do aluno. Entre os os mais velhos, com idades de 16 a 18 anos, o índice de aprovação chega a 45%. Já para os pais que têm filhos entre 6 e 10 anos, cai para 36%.

A pesquisa ainda contemplou os efeitos negativos do ensino a distância. O maior problema -apontado por 46% dos pais- foi a dificuldade de aprendizagem. O descontentamento é maior, chegando a 53%, na fatia dos que têm filhos com idades entre 6 e 10 anos.

A segunda maior queixa entre os pais é a perda da capacidade de concentração. Quatro em cada dez afirmam que o filho não consegue se manter atento durante todo período da aula remota, como descreve Paiva.

“O Samuel até começa a aula atento, mas como são muitas horas na frente do computador, há momentos em que ele se dispersa. Levanta, quer pular, brincar. As professoras se esforçam, mas não dá para prender atenção a todo momento, principalmente de crianças nessa idade.”

O Datafolha também mostra que alguns impactos negativos do ensino remoto são sentidos de maneira distinta entre os alunos de escolas públicas e privadas.

As diferenças mais expressivas se deram nos quesitos falta da convivência dos amigos, dos professores e da escola, com 9% entre alunos da rede particular e 2% entre os matriculados em escolas estaduais, municipais e federais; psicológico afetado, mencionado por 23% dos que fazem parte da rede privada, ante 15% na pública; perda no interesse da escola , registrado em 36% dos estudantes das públicas, ante 28% das particulares e a piora da alimentação com a falta de merenda escolar, que foi apontada por 11% dos pais de alunos da rede pública e por 4% dos que têm filhos em unidades privadas.

Para 9%, o ensino a distância não trouxe efeito negativo. Mais uma vez, a aprovação da modalidade educacional se mostra maior entre pais de adolescentes com 16 a 18 anos (14%), do que entre os com filhos com idades de 6 a 10 anos (6%).

Dentre os entrevistados com filhos matriculados, 73% não os estão levando para a aula presencial e outros 27% têm enviado crianças e adolescentes para as escolas -esse índice chega a 55% nos estudantes da rede privada.
O principal motivo apontado pelos pais para não levarem os filhos às escolas é porque as unidades não reabriram para aulas presenciais, o que soma 65% das menções espontâneas na pesquisa.

Outros motivos ainda citados foram: agravamento da pandemia (13%), para não ter o risco de se contaminar pela Covid-19 (7%), a criança ou adolescente está com problemas de saúde (6%) e a escola não garante a segurança dos alunos (6%).

Mas o item que apresenta maior diferença de percentual entre as respostas de pais de filhos das redes pública e privada é o fato de ainda não ter vacina para todos. Enquanto isso foi apontado como impeditivo para retorno presencial por 20% dos pais de estudantes de instituições particulares, foi citado por apenas 5% dos que têm filhos em colégios públicos.

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