Medo de apagão provoca corrida por motores e geradores no Brasil

Com os reservatórios das hidrelétricas no pior nível desde o racionamento de 2001, especialistas do setor começam a alertar para o risco de blackout

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Medo de apagão provoca corrida por motores e geradores no Brasil
(Foto: Reprodução)

A crise hídrica faz a comercialização de motores e geradores utilizados nas termelétricas crescer em 2021. Empresas que atuam no setor têm registrado aumento nos pedidos e longas filas de espera: existem dificuldades para atender a demanda atual em meio à pandemia.

“Estamos no limite da produção, trabalhando em três turnos há muito tempo. A briga de foice é se vamos produzir motores para venda ou fazê-los para equipar nossos caminhões”, diz Silvio Munhoz, diretor de vendas de soluções da Scania no Brasil.

Segundo o executivo, houve alta de 20% na fabricação de motores entre janeiro e maio na comparação com igual período de 2020. Das 920 unidades montadas neste ano em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo), 720 foram faturadas para empresas do setor de energia elétrica.

A MWM Geradores tem percebido um volume de consultas entre 20% e 30% acima do normal para esta época do ano, quando a procura já costuma ser maior pelo efeito sazonal da seca no centro-sul do país.

Neste primeiro momento, diz o diretor da unidade de motores e geradores da empresa, Cristian Malevic, a maior preocupação da clientela é a possibilidade de falta de energia.

O mercado de geradores para substituir a rede no horário de ponta tem aumentado também. Nesses horários, em que a demanda por energia é maior, as tarifas são mais caras. Por isso, algumas empresas preferem se desconectar da rede e gerar a própria eletricidade. Para esse mercado, os equipamentos têm maior tecnologia embarcada, para programar o entra e sai da rede.

Malevic diz que a demanda é puxada pelas indústrias de alimentos e laticínios, por supermercados e por centros de distribuição do comércio eletrônico. “E, depois de muitos meses, em junho a gente percebeu o início de bufês e empresas de eventos.”

Em sua avaliação, a dificuldade na compra de insumos pode ser um gargalo ao fornecimento de geradores, caso a demanda se acelere em meio à crise energética. Hoje, diz, há problemas para adquirir aço e chapas metálicas. “Tudo o que tem a ver com fundidos, estamparia, tem tido maior restrição.”

Com produção em Curitiba, a Volvo Penta tenta driblar as dificuldades para atender à demanda. A entrega de motores para o segmento de geradores e propulsão náutica teve um crescimento de 86% na comparação entre os cinco primeiros meses de 2021 e o mesmo período de 2020. A fabricante entregou 698 unidades neste ano.

“Houve aumento de demanda nas usinas termelétricas, frigoríficos, data centers, supermercados, hospitais e condomínios residenciais”, diz Gabriel Barsalini, presidente da Volvo Penta na América do Sul.

As locadoras de geradores, mercado importante para os fabricantes, já têm antecipado pedidos para manter estoques para uma eventual explosão da demanda. “Se considerar o mercado voltando pós-vacinação, os eventos represados… A hora que abrir a porteira, vai vir uma grande demanda”, afirma Malevic.

Munhoz tem a mesma percepção. “Todos na área industrial têm que trabalhar com antecipação. Isso fez com que os fabricantes de grupos geradores começassem a se preparar, a fazer estoque de motores”, diz o executivo. “A demanda de energia elétrica vai crescer.”

O diretor da Scania afirma ainda que algumas empresas estão substituindo os motores dos geradores mais antigos, menos tecnológicos, enquanto outras montam termelétricas novas, mais modernas. São unidades que podem receber conjuntos alimentados por biometano, gás gerado a partir do lixo ou de resíduos agrícolas.

A Cummins, que produz geradores completos a diesel ou a gás em Guarulhos (Grande São Paulo), investiu R$ 4 milhões em uma nova sala de testes para esses equipamentos, que foi inaugurada em abril.

“Tivemos um crescimento dos serviços essenciais durante a pandemia em missões críticas como hospitais, data centers e agroindústria. Porém anotamos queda de vendas em outros segmentos, como a parte de entretenimento, hotéis e um pouco na construção civil”, diz Paulo Nielsen, líder da Cummins Power Generation para América Latina.

“No montante, comparando 2019 a 2020, tivemos um crescimento de 10%, considerado positivo para um ano de pandemia.”

Nielsen afirma ainda que houve uma alta de 10% nas vendas de geradores no primeiro trimestre de 2021 em relação ao mesmo período de 2020.

“Ainda é difícil estimar o quanto essa crise vai elevar as vendas neste atual momento, vai depender muito da situação e do que as agências e o governo vão fazer para mitigar isso, principalmente na questão das horas de pico. Se conseguirem mitigar um pouco este cenário, a Cummins estima um crescimento na ordem de 20%”, afirma o executivo.

Com os reservatórios das hidrelétricas no pior nível desde o racionamento de 2001, especialistas do setor começam a alertar para o risco de apagões localizados no fim do ano, principalmente nos horários de maior consumo.

A possibilidade de um racionamento ainda é considerada pequena, mas a avaliação é que, com pouca água, as hidrelétricas terão dificuldades para atingir suas potências máximas ao fim do período seco, entre setembro e outubro.

O governo iniciou uma ofensiva para tentar preservar os reservatórios e evitar o problema. Mesmo assim, é certo que o custo da energia vai disparar, o que justificaria investimentos em geração própria para substituir as distribuidoras nos horários em que a tarifa é mais cara.

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