Entenda por que a geada tira o sono dos agricultores

Ela está prevista para áreas do Sul, do Sudeste e do Centro-Oeste

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Entenda por que a geada tira o sono dos agricultores
(Foto: Folhapress)

Leonardo Vieceli e Katna Baran, do RJ e PR – A onda de frio que chegou ao Brasil traz consigo uma ameaça que tira o sono de agricultores. Trata-se da geada, prevista para áreas do Sul, do Sudeste e do Centro-Oeste.

A preocupação ocorre porque o fenômeno pode provocar prejuízos em plantações diversas. O tamanho de eventuais perdas depende da intensidade da geada e do estágio em que se encontram as lavouras.

Em linhas gerais, o fenômeno é caracterizado pela formação de camadas finas de gelo sobre superfícies, incluindo plantas. Para sua formação, é necessária uma combinação de fatores.

Essa combinação inclui temperatura baixa (perto de 0ºC), céu aberto e ventos calmos, segundo os meteorologistas Wallace Figueiredo Menezes, professor do Departamento de Meteorologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), e Naiane Araujo, do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).

“Com a geada, há um congelamento das células das plantas. Essas células são rompidas. O tamanho dos prejuízos vai depender da intensidade da geada”, diz o engenheiro agrônomo Alencar Rugeri, diretor técnico da Emater-RS.

“É como colocar uma garrafa de cerveja em um freezer. Se ficar por muito tempo, o líquido congela, o tamanho aumenta, e pode destruir a garrafa.”

Nesta semana, a onda de frio intenso põe em alerta sobretudo quem aposta em culturas como café, frutas em período de brotação e hortaliças.

No caso do café, a ocorrência de geada já trouxe prejuízos para agricultores de Minas e São Paulo na semana passada. Com mais um período de frio, a preocupação continua.

A Emater-MG projeta que a geada da semana passada tenha afetado 156,3 mil hectares de café em Minas. A estimativa sinaliza que 9.500 produtores tiveram áreas atingidas.

“O café até gosta do frio, mas não de tanto frio. É muito sensível à geada, já que há um congelamento nas plantas”, diz Ana Carolina Alves Gomes, analista de agronegócios do Sistema Faemg (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais).

Segundo Ana Carolina, apontar as medidas necessárias para recuperar os cafezais já danificados é uma tarefa que requer tempo. A espera é necessária para ver como as plantas vão conseguir reagir após o fenômeno climático.

De acordo com a analista, o nível de comprometimento de cada cafezal varia conforme a intensidade do frio ao qual cada um foi exposto. Nesse sentido, geadas mais intensas podem danificar completamente as plantas, atingindo folhas, ramos e caule. Ou seja, o prejuízo é mais elevado. Aquelas menos intensas tendem a gerar um efeito menor, prejudicando apenas as folhas, por exemplo.

“A geada pode impactar duas, três safras ainda, porque vai depender do manejo a ser adotado daqui para frente. Só é possível diagnosticar o manejo adequado com o passar do tempo”, diz Ana Carolina.

“Dependendo da queimadura com a geada, algumas plantas vão precisar de poda, outras de procedimentos mais extensos. Em casos mais trágicos, toda a planta é arrancada.”

Produtores de cana no oeste paulista também acompanham de perto as previsões para os próximos dias. É que, nessa região do estado, o cultivo da cana já foi prejudicado pelo registro de geada em junho e na semana passada.

André Bosch Volpe, engenheiro-agrônomo da Canaoeste (Associação dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo), diz que o fenômeno abala a safra deste ano e a do próximo. A cana costuma ser plantada entre fevereiro e abril, e a colheita fica para o ano seguinte.

No caso das hortaliças, a geada pode causar prejuízos imediatos à cadeia produtiva, diz o engenheiro-agrônomo Sergio Neres da Veiga, coordenador de fruticultura da Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina), vinculada ao governo catarinense.

Expostos ao frio sem nenhum tipo de proteção, esses produtos podem ser completamente danificados. Mas, como as hortaliças têm ciclo curto de produção, o agricultor pode voltar a produzi-las em um período mais rápido.

“Em hortaliças, o efeito da geada é imediato. Os produtos vão logo para o mercado. Sem algum tipo de prática de proteção nas plantações, a perda pode comprometer a renda do agricultor no mês. Ele pode ter novas colheitas em um mês ou dois”, aponta.

No caso de frutas como o pêssego, que está em etapa de brotação, os prejuízos com o frio só podem ser recuperados um ano depois, na próxima safra. Se serve de consolo, a geada tende a prejudicar só as frutas, e não a planta inteira, como é o risco de uma cultura tropical como o café.

“Cada ponto de uma planta tem nível diferente de resistência ao frio. No caso do pêssego, a geada pode matar a fruta, mas não a planta como um todo, a não ser que seja muito nova. O produtor não perde a plantação como pode ocorrer no café”, diz Veiga.

Alencar Rugeri, diretor técnico da Emater-RS, pondera que culturas de inverno não são ameaçadas pela geada neste momento, já que as plantações estão em fase vegetativa. Contudo, se o fenômeno voltar a aparecer em agosto ou setembro, quando o cultivo estará em fase mais avançada, haverá chance de prejuízos.

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