Ministro da Saúde critica estados que anteciparam vacinação de adolescentes
O plano do governo federal era começar a vacinação de adolescentes somente em 15 de setembro
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, criticou nesta quinta-feira (16) estados que anteciparam a vacinação de adolescentes contra a Covid-19. Ele disse que 3,5 milhões de jovens desse grupo receberam ao menos uma dose antes do prazo apropriado.
O plano do governo federal era começar a vacinação de adolescentes somente em 15 de setembro, mas Queiroga observou que alguns locais abriram a campanha para menores de 18 anos ainda em agosto.
“Temos compromisso com todos os brasileiros, em especial com os adolescentes, que são o futuro da nação”, disse Queiroga. Segundo o ministro, 3,5 milhões de jovens receberam vacina de “forma intempestiva”.
Isso porque, de acordo com ele, o PNI (Programa Nacional de Imunizações) previa iniciar a vacinação deste público apenas nesta quarta-feira (15). A medida, porém, foi antecipada por estados e municípios. Queiroga relatou que no país houve o registro de 1.500 adolescentes que apresentaram algum evento adverso.
Queiroga orientou adolescentes que já receberam a primeira dose, mesmo da Pfizer, a não tomar a segunda vacina.
O ministro também disse que a imunização não pode ser uma “disputa de F-1” e afirmou que alguns gestores parecem querer apresentar resultados da campanha como troféus.
“O que nós dizemos: idosos a partir de 70 anos devem receber a dose de reforço a partir do dia 15 [de setembro]. Basta olhar o que vocês publicam: ‘já começamos a vacinar idosos com a terceira dose’, como se isso fosse um troféu a ser exibido”, disse Queiroga.
“Aí falta vacina para a terceira dose: ‘O ministério atrasou’. Vamos parar com isso”, completou o ministro.
Queiroga disse que recuou e passou a não recomendar a vacinação de adolescentes sem comorbidade por causa da suspeita de reações adversas em jovens que receberam as doses. Os casos estão sob investigação e não há prova da relação dos efeitos com a vacinação.
A mudança de postura da Saúde pegou gestores do SUS de surpresa. Até secretários de Queiroga e diretores da Anvisa não sabiam da alteração.
O recuo ainda foi feito no momento em que Queiroga era pressionado por aliados do presidente para interromper a vacinação de adolescentes.
Na declaração à imprensa, o ministro reconheceu que Bolsonaro apresenta preocupação sobre a vacinação dos mais jovens.
“O presidente me cobra todo dia essas questões de vacinação. Sobretudo com essa questão dos adolescentes”, disse Queiroga.
“O presidente é muito preocupado com o futuro do país. Hoje mesmo ele me ligou. ‘Queiroga, olha aí’. Sim senhor, presidente, pode ficar tranquilo que vamos olhar isso aqui com cuidado”, completou o ministro.
Do total de adolescentes vacinados, o ministro disse que 1.500 apresentaram efeitos adversos. Em 93% dos eventos houve “erro de imunização”, pois os jovens receberam vacinas não aprovadas para menores de 18 anos, segundo Queiroga.
No Brasil, a única vacina autorizada para adolescentes é a Pfizer, mas houve a aplicação também da Coronavac e Janssen, informou a pasta.
O ministro disse que pode rever a decisão sobre os adolescentes desde que tenha evidências científicas mais sólidas. A Anvisa, porém, já aprovou a aplicação das doses da Pfizer mesmo em jovens menores de 18 anos sem comorbidades.
“O Ministério da Saúde pode rever a decisão desde que haja evidências científicas sólidas em adolescentes sem comorbidade. Por enquanto, por cautela, nós temos eventos adversos registrados, nós temos adolescentes que tomaram a vacina que não estavam liberadas pela Anvisa.”
O ministro confirmou que há investigação aberta sobre a morte de um jovem em São Paulo que havia recebido a dose da Pfizer. Em nota, o governo de São Paulo disse que não há ainda prova de relação entre o óbito e o uso da vacina.
“É irresponsável a disseminação de qualquer informação que traga medo e insegurança aos adolescentes e familiares. Até o momento, não há comprovação de relação da vacina ao óbito de um jovem de São Bernardo do Campo. O Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado de São Paulo está investigando o caso devido à relação temporal com a aplicação da vacina. Qualquer afirmação ainda é precoce e temerária”, disse o governo paulista.