Talibã nomeia representante na ONU e pede para discursar na Assembleia-Geral
Iniciativa do grupo extremista, que retomou o poder após a retirada das tropas ocidentais do Afeganistão, é mais um passo em busca de legitimidade internacional
Em busca de legitimidade internacional, o Talibã nomeou seu porta-voz baseado em Doha, Suhail Shaheen, como embaixador do Afeganistão na ONU e pediu espaço para um discurso de seu chanceler, Amir Khan Muttaqi, durante a Assembleia-Geral, que vai até segunda-feira (27).
A iniciativa do grupo extremista, que retomou o poder após a retirada das tropas ocidentais do Afeganistão, é mais um passo em busca de legitimidade internacional -que, por sua vez, auxiliaria a ampliar a ajuda humanitária e a obter fundos em reservas fora do país para reativar a economia.
Da primeira vez em que governou o país, de 1996 a 2001, o Talibã tinha reconhecimento oficial apenas de Paquistão, Emirados Árabes Unidos e Árabia Saudita. O movimento, porém, estabelece um conflito com o atual representante do país na ONU, Ghulam Isaczai, nomeado pelo governo de Ashraf Ghani. O ex-presidente, derrubado pelos talibãs, refugiou-se em Abu Dhabi no dia da reconquista da capital, Cabul.
A mensagem do Talibã diz que a missão de Isczai está “considerada encerrada”.
Um porta-voz da entidade disse que o secretário-geral recebeu também uma segunda carta, enviada pelo atual embaixador, com data de 15 de setembro, informando os integrantes da delegação afegã.
Em uma entrevista, Shah Mahmood Qureshi, chanceler do Paquistão, país vizinho ao Afeganistão, classificou o pedido do Talibã de complexo. “Quem ele representa? A quem ele se reporta? Que tipo de comunicação você pode ter com uma pessoa na ONU que não tem reconhecimento? É uma situação complexa e que está em andamento”, disse, segundo relatado pelo jornal americano The New York Times.Haq explicou que o pedido foi encaminhado para um comitê de credenciais, que possui entre seus nove membros EUA, China e Rússia -Pequim e Moscou buscam ocupar o vácuo de influência deixado pela retirada de Washington do Afeganistão e já disseram que podem firmar relações com os talibãs.
É improvável, no entanto, que a cúpula se reúna para discutir a questão antes de segunda, o que torna difícil um pronunciamento de Muttaqi no evento que reúne mais de cem líderes mundiais em Nova York.
Pelas regras da ONU, as credenciais continuam com Isaczai, que teria seu pronunciamento na Assembleia-Geral pré-agendado para o próximo dia 27. O comitê de credenciais se reúne geralmente entre outubro e novembro para analisar os pedidos das delegações.
Os demais membros do órgão são Bahamas, Butão, Chile, Namíbia, Serra Leoa e Suécia.
Segundo a Reuters, Guterres afirmou que o desejo do Talibã de obter reconhecimento estrangeiro é uma das armas da comunidade internacional para pressionar o grupo para cumprir promessas de respeito a mulheres e minorias e da formação de um governo inclusivo -elementos que não têm sido vistos até aqui.
O grupo islâmico radical, ademais, ainda é alvo de sanções econômicas de organismos multilaterais, e delegações alertaram à Assembleia-Geral que qualquer mudança na representação do Afeganistão precisaria ser analisada de forma criteriosa. Líderes que já discursaram no evento, entre os quais o brasileiro Jair Bolsonaro, nesta terça, manifestaram preocupação com o futuro do país da Ásia Central.