Rússia anuncia exercícios da Marinha junto de China e Irã em meio à crise na Ucrânia
Segundo o governo russo, a operação contará com mais de 140 navios de guerra e de apoio, além de 60 aviões
A Rússia anunciou, nesta quinta-feira (20), que fará exercícios com sua Marinha em janeiro e fevereiro nos oceanos Atlântico, Ártico e Pacífico, além do Mar Mediterrâneo, em meio ao aumento das tensões com países do Ocidente e um temor de uma invasão à Ucrânia.
Segundo o governo russo, a operação contará com mais de 140 navios de guerra e de apoio, além de 60 aviões. Ao todo, 10.000 militares farão parte das ações. Esses exercícios vão ocorrer em “águas e mares adjacentes ao território russo” e em “zonas de importância operacional nos oceanos do mundo”, justificou o Ministério da Defesa.
“O principal objetivo é colocar em prática o envio de forças navais, aéreas e espaciais para proteger os interesses nacionais russos nos oceanos do mundo, além de combater as ameaças militares à Rússia nos mares e oceanos”, disse o Kremlin.
Moscou planeja ainda realizar manobras navais em conjunto com o Irã e a China, dois dos maiores adversários dos Estados Unidos hoje. A previsão é de que esses exercícios comecem na sexta (21) e durem três dias pelo Oceano Índico.
“Melhorar a capacidade de combate e a prontidão, fortalecer os laços militares entre a Marinha iraniana e a China e a Rússia, garantir a segurança comum e combater o terrorismo marítimo estão entre os principais objetivos desses exercícios”, disse o presidente do Irã, Ebrahim Raisi, em visita a Moscou.
A crise com a Ucrânia começou após a Rússia enviar 100 mil soldados à fronteira com o país, no que países ocidentais afirmam que é uma ameaça de invasão, que pode se concretizar nas próximas semanas. Moscou nega invadir o vizinho, mas tem usado a ameaça como uma carta para tentar impedir o avanço da Otan, aliança militar de países ocidentais, pela região, travando a adesão da Ucrânia ao grupo.
Em meio ao impasse, o país tem expandido suas operações militares na região e começou, nesta semana, a enviar soldados para Belarus, para exercícios nas fronteiras com a Ucrânia e países da União Europeia.
SANÇÕES E GAFE
Os Estados Unidos anunciaram nesta quinta a imposição de sanções a quatro autoridades e ex-autoridades da Ucrânia, acusadas de se envolverem em campanhas de desinformação da Rússia para desestabilizar a Ucrânia.
Entre os alvos estão dois membros do parlamento ucraniano, Taras Kozak e Oleh Voloshyn, além de Volodymyr Oliynyk e Vladimir Sivkovich, ex-autoridades do país, informou o Departamento do Tesouro dos EUA em comunicado. Segundo o governo americano, eles agem sob comando da agência de inteligência russa FSB e fizeram parte da campanha da Rússia para desestabilizar países soberanos.
Kozak controla canais de notícias na Ucrânia e apoiou planos para difamar membros do círculo íntimo do presidente ucraniano Volodimir Zelenski, além de acusá-lo falsamente de má gestão, disse o governo americano.
Oliynyk, que fugiu da Ucrânia para a Rússia, trabalhou com a FSB para coletar informações sobre a infraestrutura do país, segundo os americanos. Já Sivkovich, ex-funcionário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional, tentou construir apoio para a Ucrânia ceder oficialmente a Crimeia à Rússia, disse o governo Biden.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, que está na Europa, alertou em comunicado que os serviços de inteligência russos têm recrutado autoridades ucranianas para obter acesso a informações confidenciais antes de uma possível invasão.
Os EUA agem para tentar reverter uma gafe do presidente Joe Biden, que sugeriu nesta quinta que os países ocidentais estavam divididos sobre como reagir a uma “pequena incursão” da Rússia sobre a Ucrânia.
Em entrevista a jornalistas, o democrata afirmou que “uma coisa é se for uma pequena incursão e acabarmos tendo que brigar sobre o que fazer ou o que não fazer” e outra coisa seria uma invasão de fato, o que seria um desastre para a Rússia, em suas palavras.
A fala pegou mal e logo após o término da entrevista a Casa Branca correu para dizer que o presidente não toleraria nenhuma incursão, por menor que fosse. “Se qualquer força militar russa atravessar a fronteira ucraniana, será uma nova invasão, e será recebida com uma resposta rápida, severa e unida dos Estados Unidos e nossos aliados”, disse a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki.
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, reagiu. “Queremos lembrar às grandes potências que não há pequenas incursões e nações menores. Assim como não há poucas mortes e pouca dor pela perda de entes queridos”, escreveu o presidente em inglês e em ucraniano em rede social. “Digo isso como o presidente de uma grande potência.”
Ministros do Reino Unido, França e Alemanha, que se reuniram com Blinken em Berlim nesta quinta, também se esforçaram para demonstrar, por meio de declarações públicas, união em defesa da Ucrânia.
Boris Johnson, que está lutando para se segurar no cargo de primeiro-ministro do Reino Unido após uma série de crises internas, afirmou que “se a Rússia fizer qualquer tipo de incursão na Ucrânia, em qualquer escala, acho que será um desastre, não apenas para a Ucrânia como também para a Rússia.”
Sobrou até para o secretário-geral da Otan, esclarecer que a fala de Biden “não é de maneira nenhuma” uma luz verde para uma incursão russa, disse Jens Stoltenberg.
Autoridades, no entanto, expressaram frustração com os comentários de Biden em conversas reservadas, descritos por eles como uma gafe, algo que “não ajuda, e na verdade é um presente para Putin.”