Separatistas russos na Ucrânia falam em guerra e pedem ajuda a Putin

Enquanto isso, líderes ocidentais iniciaram uma campanha de intensas negociações diplomáticas

Folhapress Folhapress -

IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Parte central e ao mesmo tempo ausente até aqui da crise de segurança na Europa, os separatistas étnicos russos do leste da Ucrânia fizeram uma entrada dramática no noticiário, alertando sobre o risco de guerra e pedindo ajuda à Rússia para reforçar suas posições.

Enquanto isso, líderes ocidentais iniciaram uma campanha de intensas negociações diplomáticas visando desescalar a tensão com o Kremlin e também tentar unificar posições caso a temida invasão russa da Ucrânia venha a se concretizar.

Os separatistas, que controlam dois territórios no Donbass (leste ucraniano) desde 2014, quando Vladimir Putin anexou a Crimeia e lhes deu apoio após a queda do governo pró-Moscou de Kiev, apareceram em duas entrevistas à agência Reuters.

Numa delas, o presidente da autoproclamada República Popular de Donetsk, baseada na cidade homônima, afirmou que “uma guerra total pode acontecer a qualquer momento”. “Não descartamos ser forçados a nos virar para a Rússia caso a Ucrânia ultrapasse certos limites”, disse Denis Puchilin.

Ao mesmo tempo, ele disse que tal conflito seria “uma loucura”. Mais cedo, havia sido a vez de Alexander Khodakovski, um influente e polêmico comandante militar de Donetsk, dizer que precisa de reforço militar do Kremlin.

“Nós temos 30 mil soldados, mas só 10 mil prontos para combate. Precisamos ao menos de 40 mil armados para a frente de batalha”, disse. Ele elogiou o apelo feito por Andrei Turtchak, um dos líderes do Rússia Unida, partido de sustentação de Putin, para que os russos enviassem tropas e reforços para o Donbass.

Até aqui, Putin não jogou com essa carta na crise, iniciada quando Moscou deslocou talvez 130 mil homens e equipamentos para frentes em torno da Ucrânia. O russo nega o intento de invadir, mas emitiu um ultimato com seus termos para a paz europeia, basicamente pedindo o fim da expansão da Otan (aliança militar ocidental), a começar pela renúncia de uma adesão ucraniana.

Desde 2014, é certo que forças russas operaram na região e entraram com equipamentos pesados, embora não seja dito publicamente de forma explícita. Até aqui, cerca de 700 mil passaportes russos foram emitidos para moradores da região, aumentando o laço com Moscou e reforçando o argumento de Putin de defesa de russos fora de seu território.

Essa movimentação acompanhou os esforços diplomáticos em torno da crise. O mais vistoso do dia foi a visita do presidente francês, Emmanuel Macron, a Putin. Logo no começo do encontro, no qual o Kremlin descartou previamente avanços significativos, o russo elogiou o esforço do colega, que por sua vez disse ser urgente desescalar a crise.

Macron vai nesta terça (8) a Kiev completar seu giro, que diz muito às suas pretensões: ele é candidato à reeleição nas eleições de abril.

Nos EUA, o presidente Joe Biden recebeu o novo chanceler alemão, Olaf Scholz, que está sob intensa pressão por sua instância ambígua em relação à crise. A Alemanha é uma das maiores clientes europeias de gás natural russo, e está segurando a abertura de um novo megaduto para o produto desde o fim do ano.

Berlim tem se recusado a fornecer armamentos letais aos ucranianos, e vetou inclusive voos com tais equipamentos do Reino Unido e EUA sobre seu território. O máximo que fez foi anunciar o envio de 350 soldados a mais para o contingente que lidera na Lituânia, uma das quatro bases multinacionais da Otan na linha de frente com a Rússia.

Sua ministra das Relações Exteriores, Annalena Boerback, está em Kiev ouvindo o mesmo sermão do seu homólogo, Dmitro Kuleba, e do presidente Volodimir Zelenski.

Ambos os líderes disseram estar “trabalhando juntos” para deter o que chamam de agressão russa. Como EUA e Otan rechaçaram o ultimato de Putin, o discurso segue na linha de que Moscou será punida com sanções caso avance a linha militar.

Já o secretário de Estado americano, Antony Blinken, reuniu-se com o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, que saiu do encontro dizendo que a Europa vive “o momento mais perigoso desde a Guerra Fria, e isso não é alarmismo”.

Em Bruxelas, o secretário-geral da Otan, o norueguês Jens Stoltenberg, manteve a fervura em alta dizendo que os reforços temporários em defesas no Leste Europeu, com o envio inicial de 3.000 soldados americanos e outras medidas, podem ser tornar perenes. “Estamos considerando ajustes de longo termo na nossa postura”, afirmou.

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