Idosos em choque tentam se proteger e salvar familiares de ataque russo em Kiev
Impacto de um dos projéteis abriu uma cratera de cinco metros de diâmetro e três de profundidade
ANDRÉ LIOHN
KIEV, UCRÂNIA (FOLHAPRESS) – O centro de Kiev está calmo, com as ruas vazias e silenciosas, como grandes cidades ficam num feriado.
Chega a parecer que as pessoas não saem às ruas devido ao frio deste início de primavera na Ucrânia, não pelo medo da guerra que, nas regiões mais centrais da capital, só se revelam na forma de barreiras de controle que limitam ou impedem o trânsito de carros ou nos sacos plásticos cheios de areia, todos ainda muito limpos –até reluzentes–, que protegem janelas de prédios públicos.
As explosões no início desta manhã, em bairros de Kiev que ficam no meio do caminho para Irpin, porém, provam que o medo é que mantém os que permaneceram na cidade escondidos dentro de suas casas.
Às 5h desta terça-feira (15), três grandes bombardeios russos atingiram a capital. Desde então, tanto as sirenes da cidade que indicam o perigo de ataques como o aplicativo de celular que emite um alerta igual ao som das sirenes já soaram 23 vezes até o início da tarde, no horário ucraniano, manhã no Brasil.
O impacto de um dos projéteis, que atingiu um jardim em frente a um prédio de um conjunto residencial, abriu uma cratera de cinco metros de diâmetro e três de profundidade. Já a fachada do edifício ficou toda destruída, e bombeiros usavam caminhões com escadas para chegar aos andares superiores, em chamas.
Assim, muitos civis, principalmente idosos, eram resgatados. Por outro lado, o corpo carbonizado de uma pessoa não identificada foi encontrado ao lado de um parque infantil a poucos metros do prédio e levado para o mortuário da cidade. O comandante da operação de resgate, Andrei Kovalenko, disse que a chance de encontrar mais vítimas assim que os bombeiros acessarem o edifício e os apartamentos era certa.
Do lado de fora, uma senhora, chorando, tentava se desvencilhar dos braços de um homem que, sem sucesso, buscava impedi-la de se aproximar dos bombeiros. Ora dialogando, ora agredindo os jornalistas que a seguiam, ela tentava convencer os socorristas a salvar membros de sua família, apontando para o canto direito da face mais destruída do edifício, onde quase todas as janelas estavam tomadas pelo fogo.
Uma menina, em pé sobre pedaços de vidro das janelas do prédio ao lado, também chorava. Sem ninguém que a consolasse, cobria a boca com a mão e olhava para as chamas, acompanhando os pedaços de metal que perigosamente se soltavam dos escombros e caíam, quase atingindo os socorristas no chão.
Contrastando com o calor emitido pelo fogo, a água usada para apagar o incêndio virava gelo nos ramos das árvores desfolhadas ao redor do prédio. Os galhos dificultavam o movimento dos guindastes, e uma equipe dos bombeiros precisou cortar as árvores para que os moradores conseguissem ser resgatados.
Uma senhora, sem conseguir caminhar, vestida com um roupão laranja e chinelos de veludo, foi carregada como uma boneca por um homem que a levou até uma ambulância, na qual foi socorrida e consolada pelos paramédicos que estavam presentes no local.
Com os bombardeios desta terça, a região próxima ao centro de Kiev sofreu ao menos cinco grandes ataques, em ações que seguem o mesmo padrão: com alto poder de destruição, atingem áreas civis sem importância militar ou estratégica para o avanço das tropas russas em direção ao centro da capital.
A guerra está cada vez mais intensa na capital ucraniana, e a mensagem que Putin tenta passar ao governo ucraniano é muito clara e precisa: rendam-se ou todos vocês morrerão.