USP testa aplicativos para ajudar mães com depressão pós-parto

Quem quiser participar da pesquisa deve responder a um questionário no site oficial e aguardar o contato de um profissional da equipe

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USP testa aplicativos para ajudar mães com depressão pós-parto
Silhueta de mulher grávida. Foto ilustrativa de matéria sobre mulheres que sofrem de depressão pós-parto, doença cujos sintomas podem ser identificados menos de duas semanas depois do nascimento do bebê. (Foto: João Wainer/Folhapress)

(FOLHAPRESS) – Pesquisadores do Departamento de Psiquiatria da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) testam dois aplicativos contra a depressão pós-parto.

Batizados de Motherly e COMVC, eles fazem parte de um ensaio clínico randomizado denominado Maay, criado para testar as ferramentas contra a depressão-pós parto. A pesquisa é conduzida pela equipe liderada pelo psiquiatra e professor associado da Psiquiatria da USP, Guilherme Polanczy.

Os apps, disponíveis gratuitamente no Google Play e na Apple Store, têm abordagens diferentes. Sua eficácia será testada no estudo.

Quem quiser participar da pesquisa deve responder a um questionário no site oficial e aguardar o contato de um profissional da equipe. Depois, a interessada é submetida a uma conversa online com psicólogo e a um sorteio que determina qual aplicativo irá testar. As mulheres que entram para o estudo recebem suporte para aprenderem a instalar, usar e tirar melhor proveito dos recursos.

“Nós queremos saber se ao aprender as técnicas e utilizar os aplicativos os problemas de depressão e ansiedade serão reduzidos”, disse o psicólogo Daniel Fatori, um dos pesquisadores envolvidos na criação dos apps, durante o Brain Congress 2022, realizado em Gramado (RS).

O estudo dura dois meses, sendo um de intervenção e outro de seguimento, que verifica se o tratamento foi realmente eficaz.

Todas as participantes são monitoradas independentemente do app. Se em algum momento o avaliador achar que há a necessidade de um atendimento médico ou psicológico, a mulher é encaminhada à rede referenciada.

O tratamento disponibilizado no Motherly é baseado em técnicas psicológicas como ativação comportamental, reestruturação cognitiva, manejo de estresse, regulação emocional, meditação e relaxamento.

O Motherly ainda oferece uma agenda para consultas, exames e atividades, conteúdos sobre saúde mental, nutrição, desenvolvimento fetal, amamentação e vacinas, todos produzidos por médicos, psicólogos e nutricionistas.

Já o COMVC é voltado à saúde mental e usa a psicoeducação. O app reúne vídeos de dois e três minutos de duração com conceitos relacionados a técnicas psicológicas que auxiliam no tratamento contra a depressão, a ansiedade, o estresse, o burnout e a insônia, por exemplo. Há também métodos de relaxamento, meditação e respiração. São aulas com termos leves e para leigos.

“Enquanto o Motherly oferece modalidades mais ativas, os vídeos do COMVC são mais passivos. Você assiste e decide se aplica as técnicas no dia a dia”, diz Fatori.

Até a manhã desta terça (14), 161 mulheres já haviam entrado para o estudo. Os pesquisadores ainda precisam recrutar outras 103 participantes. A captação acontece através das redes sociais e por referenciamento.

O estudo procura mulheres entre 18 e 40 anos, com depressão pós-parto leve ou moderada, sem outros diagnósticos. Há outros requisitos como ter tido filho há no máximo 12 meses, ter um smartphone iPhone ou Android e conexão de internet.

Uma em cada quatro mulheres no Brasil desenvolvem depressão pós-parto, segundo estudo realizado pela Fiocruz com 23.894 puérperas de seis a 18 meses após o nascimento do bebê.

USO DA TECNOLOGIA EM PROL DA SAÚDE MENTAL

Para Ives Cavalcante Passos, professor do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da UFRS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), aplicativos direcionados a pacientes ajudam a suprir a demanda causada pela dificuldade de acesso ao tratamento de saúde mental.

“Das pessoas com depressão no mundo, 50% não têm acesso aos cuidados de saúde mental por três motivos: estigma em relação à doença, a falta de disponibilidade de profissionais na área em que a pessoa está ou a parte financeira.

Com esses aplicativos, acredita-se que algumas barreiras serão aliviadas. A intervenção é positiva, pois o aplicativo é pervasivo e está disponível de maneira mais ampla na sociedade, o que ajuda a diminuir o estigma da doença mental de maneira que as pessoas se informam sobre o problema”, disse Passos, também presente no Brain Congress 2022.

De acordo com o pesquisador, no Brasil há poucos estudos de aplicativos de saúde mental com eficácia e que respeitam aspectos como a privacidade dos dados, segurança, usabilidade, eficácia e disponibilidade de acesso.

Uma pesquisa divulgada recentemente pela FGV (Fundação Getulio Vargas) revela que o país possui 447 milhões de dispositivos digitais (computador, notebook, tablet e smartphone) em uso (corporativo e doméstico) -mais de dois por habitante. O smartphone é o mais usado.

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