Vacinação contra Covid na rede privada patina com espera e falta de regras

No estado, 94% da população elegível para a imunização, acima de cinco anos, já completaram o ciclo vacinal básico –com duas doses ou dose única

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Vacinação contra Covid na rede privada patina com espera e falta de regras
Apenas 3% das crianças de 03 e 04 anos foram imunizadas em Goiás. (Foto: Divulgação / Governo de Goiás).

(FOLHAPRESS) – Enquanto São Paulo e Rio de Janeiro já iniciaram a imunização contra a Covid na rede particular, em clínicas e farmácias, em outras capitais brasileiras o setor ainda aguarda uma regulamentação mais clara sobre o tema e um aumento do número de interessados antes de encomendar o primeiro lote.

Na capital paulista, clínicas privadas têm adotado diversas políticas para vacinar contra a Covid-19. A imunização nesses locais começou no início do mês.

A reportagem entrou em contato com mais de 20 estabelecimentos e apenas quatro informaram que já deram início à vacinação contra a Covid –alguns já possuem o imunizante, mas ainda aguardam formar um grupo com dez interessado para abrir um frasco da vacina.

É possível encontrar diferentes instruções para a aplicação do imunizante. Na Clivan, clínica localizada na Pompeia (zona oeste), qualquer pessoa acima de 18 anos é elegível para receber a quarta dose sem apresentação de receita médica –o estabelecimento apenas exige quatro meses de intervalo da terceira dose.

Já o Vacinar, no Brooklin (zona sul), segue as orientações do Ministério da Saúde e vacina com a segunda dose apenas pessoas acima de 50 anos. Como a Folha revelou, a pasta deve anunciar na próxima semana a ampliação da medida para pessoas a partir de 40 anos de idade.

Laboratórios, como o Fleury e os do grupo Dasa, ainda não possuem o imunizante.

Entre as farmácias, a vacina é encontrada na Drogaria São Paulo. As unidades de Moema (zona sul) e Sumaré (zona oeste) informam que a busca tem sido realizada, principalmente, por pessoas acima de 50 anos. Já a unidade da Paulista afirma que 32 pessoas foram imunizadas no último fim de semana, e a procura foi, principalmente, entre quem tem entre 18 e 49 anos.

Jamal Suleiman, infectologista do Instituto Emílio Ribas, não enxerga a possibilidade de a vacinação engatar na rede privada neste momento.

“As vacinas são as mesmas que a rede pública”, diz ele. “Por que eu trocaria um lugar onde eu recebo a vacina gratuitamente por outro em que tenho que pagar?”

No fim de maio, a Abvac (Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas) estimou que o preço do imunizante ficaria entre R$ 300 e R$ 350 reais para o consumidor, devido a custos com logística e armazenamento.

No estado, 94% da população elegível para a imunização, acima de cinco anos, já completaram o ciclo vacinal básico –com duas doses ou dose única. Até esta quinta-feira (16), já foram aplicadas 31 milhões de doses adicionais –o número soma tanto terceira quanto quarta dose.

Geraldo Barbosa, presidente da Abcvac, analisa que a vacinação, em geral, tem sofrido uma queda e compara a situação com a da vacina da gripe. “Estamos em um período de frio e não alcançamos nem 50% da cobertura da influenza”, diz ele, que também atribui a demanda menor à falta de incentivo e publicidade do Ministério da Saúde.
Outro fator para a baixa procura é a crise econômica. “Toda vez que têm um aperto, as pessoas postergam o investimento em proteção.”

Para Barbosa, com a nova alta de casos de Covid, o mercado privado poderia estar auxiliando na celeridade da vacinação. Mas, sem um posicionamento claro do ministério, há “uma insegurança para o investidor e a clínica, porque não há uma regra clara de quem vai poder usar”.

“Acabamos usando o mesmo regramento do serviço público, o que nunca foi a lógica do serviço privado, que sempre serviu para complementar e acelerar a vacinação”, explica.

No Rio de Janeiro, a procura por vacina nas farmácias da cidade é considerada moderada pelos profissionais que atendem grandes redes. Em uma loja Pacheco da avenida Nossa Senhora de Copacabana, pelo menos uma vacina contra o vírus influenza é aplicada por dia, e a busca chega a ser de dez clientes por loja, segundo a farmacêutica responsável.

Já a aplicação contra Covid soa como novidade entre os atendentes, e a recomendação dos profissionais têm sido a ida ao posto de saúde.

Em Belo Horizonte, as principais clínicas que atuam no setor de imunização não trabalham, ao menos até o momento, com a vacina para o coronavírus. A justificativa dada em uma delas é que o SUS (Sistema Único de Saúde) já fornece o imunizante contra a doença.

A Abcvac, no entanto, afirma que ao menos três clínicas na capital mineira já possuem e aplicam doses da vacina, mas não especificou quais. A reportagem entrou em contato com a Drogaria Pacheco localizada no centro de Belo Horizonte, que informou que possui o imunizante.

No Recife, cujo estado atingiu uma das mais altas taxas de ocupação de UTIs no país na semana passada, de 72%, a vacinação contra a Covid-19 não acontece nas principais redes de farmácia e laboratório. Os estabelecimentos aplicam apenas imunizantes contra a gripe. O cenário é similar na região metropolitana do Recife.

O Sincofarma-PE (Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos de Pernambuco) atribui a ausência de vacinação contra a Covid nas farmácias a exigências específicas da vigilância sanitária para instalações de vacinação nesses estabelecimentos.

“Por enquanto, só quem está conseguindo é via liminar [na Justiça]. Eles [da vigilância] não entenderam que isso é um serviço prestado”, afirma Ozeas Gomes, presidente do sindicato. “Estamos negociando”, diz.

A vacinação para Covid-19 na rede privada também não avançou na Bahia. A reportagem consultou três redes de farmácias e dois laboratórios privados que informaram que ainda não estão oferecendo o serviço no estado.

Na rede pública, por outro lado, a busca pelas terceira e quarta doses da vacina cresceu desde a última semana com a alta no número de casos de Covid no estado. Pontos de vacinação enfrentavam longas filas na terça-feira (14), caso do 5º Centro de Saúde Clementino Fraga, nos Barris, em Salvador.

Em Porto Alegre, a vacina contra o coronavírus não está sendo comercializada em redes de farmácias. Em uma das principais delas, a Panvel, ainda não há previsão de chegada do imunizante.

A única clínica de Porto Alegre contatada que afirmou que oferecerá o imunizante é a MDC Vacinas. Ela está realizando um cadastro de interessados desde o início do mês e está prestes a atingir os cem interessados mínimos para fazer o primeiro pedido.

Conforme a clínica, os maiores interessados são pacientes acamados com dificuldade de obter a vacina em domicílio pela rede pública e pessoas imunizadas com a Coronavac, que pretendem viajar ao exterior e têm receio de não ter a vacinação aceita.

Em Curitiba, a Secretaria Municipal de Saúde não recebeu nenhuma solicitação de serviços privados de vacinação (farmácias ou clínicas) para aplicação de doses contra Covid-19.

Para disponibilizar a vacina é preciso autorização prévia da Divisão de Imunobiológicos da pasta, “para farmacovigilância e o registro de doses aplicadas”, informou a prefeitura, em nota.

Isabella Menon Mariana Moreira, José Matheus Santos, João Pedro Pitombo, Mauren Luc, Caue Fonseca, Leonardo Augusto

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