Macron perderá maioria absoluta no Legislativo da França, indicam projeções
Reunião Nacional descreveu os prováveis resultados do pleito legislativo como um "tsunami" na política francesa
Projeções do instituto Ipsos apontam que a coalizão do presidente Emmanuel Macron conquistou a maior parte das cadeiras do Legislativo na França no segundo turno das eleições neste domingo (19), mas não a maioria absoluta almejada para que o líder recém-reeleito pudesse aprovar seus projetos sem a necessidade de alianças.
Os números iniciais projetam que a aliança Juntos, do centrista, reuniu 224 das 577 cadeiras -seria necessário conquistar 289 para ter a maioria absoluta. Em segundo lugar, ficou a aliança de partidos de esquerda Nova União Popular Ecológica e Social (Nupes), que, com prováveis 149 assentos, tornaria-se a principal força de oposição.
A ultradireita, representada pelo Reunião Nacional, de Marine Le Pen, ficaria com a fatia recorde de 89 cadeiras do Legislativo -seu antigo recorde datava de 1986, com 35 assentos conquistados à época. Já os tradicionais Republicanos ocupariam 78 lugares.
O Reunião Nacional descreveu os prováveis resultados do pleito legislativo como um “tsunami” na política francesa. “É uma onda azul marinho em todo o país; o povo francês fez de Emmanuel Macron um presidente minoritário”, disse Jordan Bardella, líder interino da sigla, referindo-se à cor que simboliza seu partido.
A população foi às urnas sob uma onda de calor na região, e projeções indicam que esta pode ser a segunda vez na história da 5ª República francesa, iniciada em 1958, em que o índice de abstenção supera metade dos eleitores na rodada final para o Parlamento.
O instituto Ipsos, com base na projeção da participação às 17h (12h em Brasília), calcula que 54% devem se abster de participar da votação -no primeiro turno, esse índice foi de 52,5%. Até aqui, o recorde de abstenção para a rodada final foi registrado em 2017, com 57,4%.
Às 17h, mostram informações compiladas pelo jornal Le Monde, a participação no atual turno chegava a 38,1%, queda em relação ao domingo passado, quando 39,4% já haviam votado neste horário. O número, porém, supera o registrado há cinco anos, no final da tarde, quando somente 35,3% tinham comparecido às urnas de votação.
O atual pleito é decisivo para o presidente centrista Emmanuel Macron, reeleito em abril, quando derrotou a ultradireita nas urnas. Sem maioria parlamentar, ele veria o cenário para a aprovação de projetos que pleiteia, como a mudança na idade de aposentadoria, complicar-se.
Macron e sua base de apoio vinham colocado em prática um discurso alarmista de que, sem apoio majoritário no Parlamento, haveria uma crise institucional sem precedentes. O ministro da Economia, Bruno Le Maire, correligionário do presidente, argumentou em entrevista a um canal local na última semana que “a maioria relativa nos obrigaria a negociações intermináveis, seria muita perda de tempo”.
O próprio Macron, antes de votar, disse a repórteres que “nada seria pior do que adicionar a desordem francesa à desordem mundial”
Houve apenas dois casos na história francesa recente em que a maioria absoluta não foi formada em torno do líder: com o general de Gaulle (1958-1962) e com François Mitterrand (1988-1991). Mas especialistas afirmam que isso não paralisou a ação do Executivo.
No primeiro turno das legislativas, a Juntos, coligação de centro-direita em torno de Macron, ficou praticamente empatada com a Nupes. Cada grupo obteve cerca de 5,8 milhões de votos, com uma vantagem de apenas 21.285 para o bloco do presidente.
O segundo turno também tende a forçar uma repaginação no governo de Macron. Quinze ministros nomeados por ele estão disputando o pleito, a maioria contra candidatos da esquerda, e o presidente já sinalizou que, se perderem a disputa, eles terão de deixar o cargo.
Foi o que já aconteceu com Justine Benin, secretária de Estado para o Mar, que foi derrotada em Guadalupe, território ultramarino francês no Caribe, pelo candidato de esquerda Christian Baptiste.