Putin cita ‘efeitos colossais’ de sanções e diz que Rússia não pode ser isolada
Ele afirmou que o país deve priorizar o desenvolvimento de tecnologia própria e o apoio a empresas de rápido crescimento
Vladimir Putin deu nesta segunda (18) uma rara declaração em que reconhece os efeitos das sanções do Ocidente contra a Rússia. “Tendo consciência das dificuldades colossais que enfrentamos, buscaremos novas soluções de maneira inteligente”, disse o líder russo a um conselho de desenvolvimento estratégico.
Ele afirmou que o país deve priorizar o desenvolvimento de tecnologia própria e o apoio a empresas de rápido crescimento, mas acrescentou que isso não implicaria no isolamento russo do resto do mundo.
“No mundo atual, não é possível separar tudo com um compasso e erguer um muro”, disse ele. “Simplesmente não é possível.”
As declarações de Putin vêm em meio a discussões da União Europeia (UE) sobre acatar recomendação do Executivo do bloco e aplicar o sétimo pacote de sanções contra Moscou. Desta vez, a medida visaria a proibição de importação do ouro russo, entre outras coisas.
O chefe da diplomacia do bloco, o espanhol Josep Borell, defendeu na sexta (16) que o mecanismo seria crucial para combater a Guerra da Ucrânia. Ele disse que, desde o início da invasão militar, mais de 1.200 pessoas e 100 organizações russas foram sancionadas pela UE.
“As sanções atingiram substancialmente a economia russa, privando o país do acesso aos mercados financeiros e a produtos de tecnologia avançada, prejudicando a indústria petrolífera, as companhias aéreas, as indústrias militar e automotiva”, afirmou Borell em um comunicado.
Essa é justamente a percepção que Putin diz querer combater. “Está evidente que isso representa uma grande mudança para o nosso país, mas não vamos desistir e mergulhar na desordem ou, como alguns preveem, retroceder décadas”, afirmou o russo a membros do governo.
Dmitri Peskov, assessor do Kremlin, ecoou a leitura de Putin durante entrevista a uma emissora de TV do Irã -o presidente russo deve viajar a Teerã nesta semana, naquela que seria sua segunda viagem ao exterior desde que iniciou a invasão do país vizinho.
“Talvez seja esse o preço que tanto a Rússia quanto o Irã têm de pagar por sua independência e soberania”, afirmou Peskov. “O que não te mata te fortalece”, seguiu, referindo-se às sanções do Ocidente, que chamou de medidas ilegais perante o direito internacional.
Enquanto Moscou viu as restrições se intensificarem na guerra, o Irã é alvo de sanções internacionais devido a seu programa de desenvolvimento de armas nucleares. O país tenta amenizar as restrições por meio da possível retomada do acordo nuclear de 2015, cujas cláusulas foram reiteradamente desrespeitadas.
RÚSSIA MIRA MÍSSEIS DE LONGO ALCANCE
No front da guerra, o ministro da Defesa russo, Seguei Choigu, ordenou a forças pró-Rússia que priorizem a destruição de mísseis de longo alcance e armas de artilharia da Ucrânia.
Ele afirmou que os equipamentos -muitos doados por países do Ocidente- estariam sendo usados para bombardear áreas civis no Donbass, o leste russófono do território ucraniano, e incendiar campos de trigo e silos de armazenamento de grãos.
Na cidade de Toretsk, na província de Donetsk, ao menos seis pessoas morreram durante um bombardeio russo, anunciou o Serviço Estatal Ucraniano para Situações de Emergência. Bombardeios também foram relatados na manhã de segunda em Mikolaiv (sul), bem como nas regiões de Kharkiv (nordeste) e Dnipropetrovsk (centro-leste).