Fernández dá posse a ‘superministro’ na Argentina para salvar economia e governo

Deve anunciar também um pacote de medidas para tentar dar estabilidade financeira ao país que atravessa uma difícil situação cambial e inflacionária

Folhapress Folhapress -
Atual presidente, Alberto Fernández, precisará fazer alianças para governar. (Foto: Reprodução/ Instagram Alberto Fernández)

Com a difícil missão de reverter a crise que assola a Argentina, o advogado Sergio Massa assumiu na noite desta quarta-feira (3) o recém-criado “superministério” da Economia e deve anunciar um pacote de medidas para tentar dar estabilidade financeira ao país que atravessa uma difícil situação cambial e inflacionária.

O aguardado “Plano Massa”, como vem sendo chamado por parte da imprensa argentina, será feito por volta das 19h30 (horário de Brasília) e a expectativa é de que se sustente em dois pontos principais: revisão dos gastos sociais e fortalecimento das reservas do Banco Central para contornar a dívida argentina.

Caso as medidas venham nessa linha, o pacote marcaria um aceno pró-mercado ao trazer o ajuste fiscal para o centro da política econômica.

Segundo o jornal La Nación, Massa deve anunciar uma redução dos planos de assistência sociais, que representam 1,9% do PIB (Produto Interno Bruto) do país. Outra medida esperada é o corte de subsídios para energia elétrica e gás -o que aumentaria o preço final para os consumidores.

A priorização do ajuste fiscal sinalizaria um alinhamento do novo ministro ao pacto da Argentina com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Em janeiro de 2022, o presidente Alberto Fernández confirmou o acordo que, entre outras coisas, estabelece a meta de déficit fiscal em 2,5% do PIB em 2022.

O caminho até lá envolveria a recomposição imediata das reservas do Banco Central, que atualmente quase não possui dólar em caixa. Para isso, o Plano Massa deve envolver diferentes estratégias, como aumentar os incentivos para a agropecuária e setores de exportação -que são umas das principais portas de entrada de reservas para a Argentina-, e atrair investimentos de organismos internacionais, como o BID e o Banco Mundial.

Também é esperado que Massa anuncie um programa de estímulo à contratação de pessoas que recebem benefícios sociais do governo; o adiantamento do pagamento de imposto de renda para algumas grandes empresas, de abril de 2023 para 2022 -o que, de acordo com o jornal Clarín, poderia gerar uma receita de 200 milhões de pesos-; e a definição de um regime especial para que títulos de dívida sejam usados ​​como moeda para pagar dívidas fiscais

Com essas medidas, o governo espera reconquistar a confiança na economia argentina, controlar a inflação que pode chegar a 90% ao ano, e deter a disparada do dólar no mercado paralelo.

No entanto, os desafios do novo titular da pasta não ficarão restritos ao ambiente financeiro. O ministro também foi alçado ao cargo para ajudar a conter a crescente insatisfação popular e estancar parte da crise política que toma o país.

Conforme destacou o Clarín, a própria chegada de Massa à Economia é fruto de uma crise política. O presidente Alberto Fernández e sua vice, Cristina Kirchner, travam uma disputa por poder dentro do próprio governo. Nessa tensão, Cristina tem levado a melhor. Foi dela a indicação de Massa para o superministério, que ganhou este nome por agregar as pastas de Economia, Desenvolvimento Produtivo e Agricultura e Pesca -que eram independentes.

Na prática, segundo analistas, Massa deve agir como uma espécie de primeiro-ministro, respondendo diretamente a Cristina -situação que ilustra o atual escanteamento do presidente. A vice-presidente não foi à cerimônia de posse do novo ministro.

Para alguns membros da coalizão governista, o novo titular da Economia é visto como a última chance de o presidente Alberto Fernández enfrentar a perda de popularidade do governo e sobreviver politicamente até a eleição presidencial do ano que vem.

O momento, porém, não é ruim apenas para Fernández; Cristina também passa por turbulências. Nesta semana, começou a fase final do julgamento que apura irregularidades no período em que ela foi presidente da Argentina (2007-2015).

Na primeira de nove audiências programadas, ela foi acusada por promotores de criar e liderar uma “extraordinária matriz de corrupção” ao lado de seu marido, Néstor Kirchner (1950-2010), durante o período em que comandaram o país.

Esse conturbado contexto político não ficará de fora do gabinete do superministro, que será o terceiro a ocupar o cargo em menos de um mês.

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