Inspiração para camisa de onça da seleção brasileira não foi Juma

Conceito e o design dos uniformes são desenvolvidos, em média, com dois anos de antecedência

Folhapress Folhapress -
Inspiração para camisa de onça da seleção brasileira não foi Juma
Camisa azul da seleção brasileira com estampa de onça. (Foto: Divulgação/Nike)

No horário nobre da Globo, Juma caça, ama Jove e vira onça quando está brava em “Pantanal”. Nas novas camisas da seleção feitas para a Copa do Mundo, estampas de onça-pintada -animal que tem justamente no bioma da região Centro-Oeste um dos principais redutos no território brasileiro.

A Nike diz que a convergência temática de dois canhões midiáticos, a novela e a seleção, “trata-se apenas de uma coincidência”- versão confirmada por quem estava na CBF na época.

“O conceito e o design dos uniformes são desenvolvidos, em média, com dois anos de antecedência. Não há qualquer relação entre o lançamento dos uniformes da seleção brasileira com a novela”, assegura Thiago Lia, gerente de marca para homens da Fisia, distribuidora oficial da Nike do Brasil.

Em setembro de 2020, a Globo anunciou que faria em 2021 o remake de Pantanal -a novela estreou, de fato, em março de 2022. Quando houve o anúncio no Fantástico, pelas contas da Nike e de quem discutia o assunto na CBF, o conceito do animal print para o uniforme da seleção já estava em andamento.

Se não foi uma união com a Globo- que apresentou a nova camisa em uma matéria com o atacante Richarlison em busca de onças num safari no Pantanal – como a onça-pintada foi parar na camisa do Brasil?

ESTAMPA, SIM, MAS COM LIMITE

Como ponto de partida, a fornecedora de material esportivo apresentou à CBF o conceito que imaginava para o projeto. Em anos de Copa do Mundo, o uniforme tem relevância ainda maior, pelo apelo que a competição tem.

“Queriam ter uma camisa inusitada, uma ideia nova, inovadora, que tivesse a ver com o jovem. Aí, mostraram muitos jovens, artistas vestidos de onça. O próprio Neymar, Anitta e astros da NBA. Argumentaram que a onça-pintada era um animal genuinamente brasileiro e merece apoio pela ameaça de extinção. Eles queriam fazer um negócio ousado e rolou”, contou Rogério Caboclo, presidente da CBF na ocasião.

A Nike ainda quis fazer uma conexão entre o que classifica como estilo de jogo da seleção: “tão feroz quanto artístico”, nas palavras de Thiago Lia. A campanha foi batizada de “Garra Brasileira”. Tecnicamente, o padrão de impressão de onça ajuda na “respirabilidade” da peça. Segundo a Nike, isso proporciona um ajuste sem costura que absorve o suor.

Mas houve muitas idas e vindas até que os modelos finais fossem aprovados. Em um dos formatos, a Nike chegou a apresentar as estampas de onça tanto na camisa quanto no calção. A CBF não aprovou de imediato.

“Ficou assim: se vai ter na camisa, não vai ter no short essa marca da onça. Não é com achômetro que derruba. Pode gostar ou não gostar, mas por trás daquilo tem um estudo bem preparado”, acrescentou Caboclo, que participava das reuniões acompanhado dos diretores das áreas de marketing, Gilberto Ratto, e comercial, Lorenzo Perales, além do secretário-geral, Walter Feldman.

O resultado final do uniforme se deu há mais de um ano, quando Caboclo ainda estava no cargo -ele foi afastado em junho de 2021, em decorrência de uma denúncia de assédio moral e sexual feita por uma funcionária.

O ELENCO PARA A CAMPANHA

Com os modelos definidos, a Nike partiu, então, para a escolha do elenco para apresentar o enxoval do Brasil. Jogadores, como Richarlison, Rodrygo, Coutinho, Alisson e Marquinhos participaram da campanha. A empresa recorreu também a Ronaldo Fenômeno, com quem tem contrato vitalício. Mas a campanha extrapolou o círculo do futebol.

“Estamos falando de um símbolo que representa um país inteiro. Por isso, o elenco da nossa campanha precisava ser heterogêneo e representativo. A Nike tem uma ligação muito forte com atletas, artistas, sneakerheads e os amantes do streetwear que influenciam o esporte, a moda, a música, o e-sports e muitos outros aspectos da cultura jovem”, pontua Thiago Lia.

Na prática, a Nike escalou nomes como Djonga e MC Hariel para o material de divulgação. Na visão do executivo da companhia, “rap, hip hop e outras manifestações culturais são a voz da nossa sociedade”. Esses movimentos -e o que eles acarretam em termos de estética para os produtos- geram identificação com a população, de acordo com o gerente da marca.

CUNHO POLÍTICO?

A Nike diz que todos os escalados para a divulgação, além de serem parceiros da Nike, compartilham os valores da empresa e da campanha.

Djonga faz parte de um movimento que tenta ressignificar a camisa amarela da seleção brasileira. Nos últimos anos, ela virou uniforme de protestos e manifestações políticas em apoio ao presidente Jair Bolsonaro. A Nike, oficialmente, tenta se desassociar disso. Na hora de personalizar a camisa no site de vendas, inclusive, a empresa proíbe que se use os nomes de Bolsonaro e Lula.

“Acreditamos que o uniforme brasileiro é como uma bandeira nacional, simboliza o país e seu povo. A Nike não interfere nos momentos e situações em que as pessoas usam o uniforme, seja para torcer, passear ou se divertir”, afirma Thiago Lia.

A seleção brasileira vai estrear o novo uniforme nos amistosos de setembro, contra adversários e locais ainda indefinidos. No Qatar, a estreia é em 24 de novembro, contra a Sérvia. O Brasil ainda tem em seu grupo a Suíça e Camarões. A caça por mais um título Mundial está perto de começar.

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