Senado identifica 23 golpistas nem denunciados nem presos por ataques
Os invasores estão soltos e foram identificados pela Secretaria de Polícia do Senado a partir de imagens das câmeras de segurança do prédio
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), deve entregar à PGR (Procuradoria-geral da República) uma segunda representação contra mais 23 pessoas envolvidas na invasão ao Congresso Nacional, no dia 8 de janeiro.
Os invasores estão soltos e foram identificados pela Secretaria de Polícia do Senado a partir de imagens das câmeras de segurança do prédio. Os nomes dos vândalos não foram divulgados.
Nesta quarta-feira (25), a PGR enviou ao STF (Supremo Tribunal Federal) mais cinco denúncias contra pessoas envolvidas em atos de depredação e vandalismo às sedes dos três Poderes. Foi o quarto pacote de acusações enviado à corte, e o total de denunciados chega a 103.
Segundo a Procuradoria, os cinco acusados nesta quarta foram responsáveis por danos ao prédio da Câmara dos Deputados. Os nomes também não foram divulgados.
Eles deverão responder pelos crimes de tentativa de abolir, com grave ameaça ou violência, o Estado democrático de Direito e golpe de Estado, além de dano ao patrimônio da União e associação criminosa armada, todos previstos no Código Penal.
De acordo com a PGR, com base em informações entregues pela Câmara, houve danos a vidros, móveis, computadores, totens informativos, obras de arte, pórticos, câmeras de circuito fechado de TV, equipamentos de segurança e veículos.
Cinco dias após o ataque, Pacheco sugeriu ao procurador-geral da República, Augusto Aras, a prisão preventiva e o bloqueio de bens dos vândalos que invadiram o Senado e foram presos em flagrante.
A partir disso, na semana passada, a Procuradoria-Geral da República apresentou denúncia contra 39 pessoas suspeitas de envolvimento nos atos golpistas e de depredação ao prédio.
A PGR enquadrou os suspeitos nos crimes de associação criminosa armada, abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado, dano e deterioração do patrimônio público tombado.
O Ministério Público Federal quer a condenação de todos denunciados, a decretação de prisão preventiva (sem prazo para terminar) e o bloqueio de R$ 40 milhões em bens e direitos dos alvos para reparar os danos materiais e coletivos causados.
No total, 44 pessoas foram presas em flagrante pela Polícia Legislativa no dia 8 de janeiro —39 por policiais do Senado e cinco por policiais da Câmara dos Deputados.
Desde então, Pacheco pediu empenho para que a Secretaria de Polícia e a Advocacia do Senado identificassem os invasores e ajudassem a estabelecer o envolvimento de cada um.
Senadores desconfiam que os golpistas que depredaram o Congresso tiveram treinamento policial ou de outras forças de segurança, e conheciam a planta do prédio.
O senador Marcos do Val (Podemos-ES) chamou a atenção dos colegas para o fato de que os vândalos sabiam que a água conseguiria minimizar os efeitos do gás lacrimogêneo.
A Polícia do Senado também informou à Mesa Diretora que o grupo parecia saber onde estavam mangueiras, hidrantes e extintores de incêndio. Cerca de 500 bombas de efeito moral disponíveis foram usadas no dia.
Dois homens acusados de terem tentado explodir um caminhão de combustível perto do Aeroporto de Brasília participaram de uma audiência pública que questionava a eleição de Lula (PT) e a atuação do STF (Supremo Tribunal Federal) e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Desde então, a informação acendeu o alerta da cúpula do Senado. A Secretaria de Polícia da Casa decidiu, no entanto, não revelar quem autorizou a entrada da dupla no prédio para não invadir a privacidade do gabinete parlamentar.
No Senado, o prejuízo é estimado em cerca de R$ 4 milhões. Segundo a diretoria-geral da Casa, a conta envolve, inclusive, os custos para repor os materiais da Polícia Legislativa que foram usados —como as bombas.
Os invasores urinaram em uma tapeçaria de Burle Marx que estava exposta, danificaram um tinteiro de bronze da época do Império, um quadro de 1890 que retrata a assinatura da Constituição, e uma mesa do Palácio Monroe, onde funcionou a segunda sede do Senado, no Rio de Janeiro.
A escultura “Painel Vermelho”, de Athos Bulcão, também sofreu avarias. Segundo servidores responsáveis pela área de preservação do Senado, 20 ml da tinta usada para restauração da obra custam em torno de R$ 800.
O grupo depredou a antessala do presidente do Senado, mas não conseguiu entrar no gabinete. Os vândalos só conseguiram entrar na área privativa do gabinete do senador José Serra (PSDB-SP), que fica perto do plenário.
Boa parte dos vidros e espelhos quebrados no Salão Azul já tinham sido trocados até esta quarta-feira. A porta principal do plenário, estilhaçada pelos invasores, também foi recolocada.
Já o carpete do Salão Azul, encharcado com o uso de mangueiras de incêndio, deve ser substituído no final de fevereiro. Funcionários da limpeza ainda tentam recuperar o piso do Salão Nobre.
A Casa corre contra o tempo para consertar a maioria dos estragos até a posse dos 27 senadores eleitos, em 1º de fevereiro. Cada um dos empossados terá direito a convidar até 45 pessoas para a cerimônia.