Tensão entre Lula e militares não deve interferir em decisão sobre sigilo de Pazuello
Deputado eleito foi inocentado em processo interno do Exército por ter participado de um ato político de Jair Bolsonaro
JULIANA BRAGA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A CGU (Controladoria-Geral da União) não deve levar em conta a tensão política entre o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e os militares ao decidir sobre o sigilo das investigações contra o general Eduardo Pazuello (PL-RJ). A interlocutores, o ministro Vinícius Carvalho tem dito que o parecer sobre o assunto será estritamente técnico.
O agora deputado eleito foi inocentado em processo interno do Exército por ter participado de um ato político ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em maio de 2021. O exercício de atividades políticas é vedado aos militares da ativa. O Exército estabeleceu um sigilo de 100 anos sob a justificativa de preservar informações pessoais.
O reportagem apurou que o ministro da Defesa, José Múcio, só tratou do assunto com Carvalho uma vez, durante a primeira reunião ministerial da nova gestão. Na ocasião, pediu apenas um tempo para a desmobilização dos acampamentos golpistas, o que ocorreu após o ataque às sedes dos Três Poderes em Brasília em 8 de janeiro.
A avaliação inicial é de que não há razões técnicas para se manter o sigilo. Por se tratar de uma investigação sobre a atuação de Pazuello nas Forças Armadas, as eventuais informações pessoais que constarem no documento podem simplesmente ser tarjadas.
A expectativa é de que a CGU conclua a análise pedida por Lula sobre os sigilos de cem anos já na próxima semana. A pasta entregará um relatório mais amplo, sobre os critérios a serem adotados e orientações mais específicas.
Já na ocasião, alguns dos sigilos mais polêmicos devem ser divulgados também. Eles serão respondidos por meio da LAI (Lei de Acesso à Informação) nas demandas já feitas anteriormente.
O comando do Exército negou por duas vezes ao jornal Folha de S.Paulo o pedido de acesso aos documentos relativos ao processo de Pazuello. Houve recurso e a CGU atendeu parcialmente ao pedido, liberando apenas o extrato resumido do procedimento administrativo.
Lula demitiu o comandante do Exército, general Júlio Cesar de Arruda, em meio a uma crise de confiança aberta após os ataques do dia 8 de janeiro, em Brasília no último sábado (21). Em seu lugar, nomeou o general Tomás Paiva.