Meios-irmãos apaixonados e com 2 filhos lutam por direito a casamento na Espanha

Ana e Daniel se conheceram há pouco mais de uma década, quando ela completou 20 anos e se interessou em ir atrás do irmão que nunca tinha encontrado

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Meios-irmãos apaixonados e com 2 filhos lutam por direito a casamento na Espanha
Daniel e Ana Parra, casal de irmãos espanhóis. (Foto: Reprodução/Instagram)

IVAN FINOTTI

MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) – Meios-irmãos por parte do pai, Ana e Daniel Parra estão tentando mudar a lei da Espanha para que possam se casar e, assim, oficializar a relação amorosa que mantêm há nove anos. Os dois já tem dois filhos, de três e cinco anos -em cujas certidões de nascimento constam os nomes dos irmãos como pais legítimos das crianças.

Isso foi possível graças a um antecedente jurídico de 2012. Na época, um casal de irmãos da Galícia, Daniel e Rosa Moya Peña, conseguiram, após 35 anos de convivência, vencer a batalha legal para serem reconhecidos como pais de seus filhos, então com 26 e 19 anos.

O Código Civil espanhol proíbe, no entanto, o casamento entre parentes diretos -ainda que o incesto tenha deixado de ser considerado delito no país em 1978.

“Na Suécia, por exemplo, eles nos deixariam casar. Falamos com alguns advogados e eles nos disseram que não seria tão difícil, mas é muito tempo e dinheiro”, disse Ana Parra ao jornal El Español. De fato, no país nórdico é permitido que meios-irmãos se casem, apesar de irmãos de mesmo pai e mesma mãe não possam fazer o mesmo.

À reportagem, o magistrado Ignacio González Vega, especialista em Código Penal e membro do grupo Juízes pela Democracia, afirma que os irmãos talvez conseguissem se casar na Espanha com uma espécie de burla às regras.

Primeiro, Ana teria de renunciar ao pai verdadeiro, que na certidão de nascimento a assumiu como pai adotivo. Depois, teria que encontrar outro homem que a assumisse como filha adotiva. Assim, os meios-irmãos de pai passariam a ter pai e mãe diferentes nos documentos.

“Mas, como ela é maior de idade, é muito complicado”, afirmou Daniel Parra. “As sociedades precisam avançar e não ficar ancoradas no tradicionalismo. Os homossexuais não tinham permissão para se casar e agora podem. Nós nos amamos e é isso que deve prevalecer. Não prejudicamos ninguém. É por isso que queremos que as pessoas conheçam nossa história real”, disse Ana.

Ana e Daniel se conheceram há pouco mais de uma década, quando ela completou 20 anos e se interessou em ir atrás do irmão que nunca tinha encontrado. Criada por um pai adotivo, Ana sempre soube da existência de Daniel, mas não tinha contato com seu verdadeiro pai, que só criou o rapaz.

Ela o encontrou pelas redes sociais, e logo eles se conheceram -Daniel tinha 17 anos na época. Ambos viviam na região de Barcelona e, segundo contam, a ligação foi imediata. “Tentamos manter um relacionamento fraternal, mas era difícil”, disse Daniel ao El Español.

Quando Ana foi morar sozinha, ele passou a visitá-la com frequência. “No final, Dani passava mais tempo no meu apartamento do que em casa”, eles contaram, ainda na mesma entrevista. “Até que começamos a morar juntos.”

O primeiro beijo aconteceu numa festa de amigos e, após algum tempo angustiado com sentimento de culpa, o casal resolveu ir a Londres, para longe dos olhos de qualquer conhecido, e viver uma espécie de lua de mel.

Na volta, decidiram ir a público contar sua história em um programa de TV. “Queremos dizer que, além de irmãos, somos um casal, estamos apaixonados”, disseram. Era 2017.

Foi após esse programa que eles resolveram averiguar a possibilidade de ter filhos. Por haver vínculo sanguíneo, sua futura prole poderia nascer com algum tipo de necessidade especial.

“O ginecologista nos disse que, no nosso caso, o risco de eles nascerem com algum tipo de doença recessiva seria 4% maior do que o de um casal que não compartilha gene”, contou Ana. “O chefe de genética do Hospital Vall d’Hebron, em Barcelona, fez um estudo genético, e nem Dani nem eu compartilhamos doenças recessivas, portanto o risco seria menor do que se eu engravidasse de outra pessoa”, acrescentou.

Mesmo assim, eles lidam com comentários críticos e de ódio em suas redes sociais, que são abertas e onde eles postam fotos das crianças. “Ponho fotos dos meus filhos porque ainda nos escrevem dizendo que eles devem ter algum tipo de síndrome. Mas eles são perfeitamente saudáveis e bonitos”, disse Ana.

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