Tarcísio e Nunes divergem sobre aumento de passagem em ano eleitoral
Defasagem tem incomodado governador de SP, que tem dito reiteradamente para seus secretários que deverá subir tarifa
CARLOS PETROCILO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O reajuste da tarifa do transporte público na cidade de São Paulo tem colocado em lados opostos o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o prefeito Ricardo Nunes (MDB). O valor de R$ 4,40 é o mesmo desde janeiro de 2020, apesar de a inflação no período ter sido de 26% (R$ 5,55).
A defasagem tem incomodado Tarcísio, que tem dito reiteradamente para os seus secretários que deverá subir a tarifa no ano que vem. Por outro lado, Nunes calcula que o aumento da passagem trará prejuízos à sua campanha de tentativa de reeleição. Os dois são aliados.
Na capital, com o sistema de integração, as passagens de ônibus e das linhas férreas seguem o mesmo valor. A gestão Nunes desembolsou R$ 5,3 bilhões em subsídios para as empresas de ônibus até o início de novembro. Responsável pelos gastos com metrô e trens, o governo estadual não informou quanto repassou.
De acordo com os cálculos da SPTrans de 2021, o custo real de uma passagem era de R$ 8,71 para saldar gastos com frota, manutenção, combustível, mão de obra e infraestrutura dos terminais.
A NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos) disse que valor médio nacional da tarifa atualmente é de R$ 4,60. Segundo a entidade, no ano que vem ele subirá para R$ 4,90 devido ao veto do presidente Lula à manutenção da desoneração da folha de pagamento.
A SPtrans sugeriu em um estudo apresentado ao prefeito no segundo semestre de 2021 o valor de R$ 5,10 para a tarifa. Porém, no ano passado, tanto Nunes quantos os governadores João Doria (sem partido) e Rodrigo Garcia (PSDB) concordaram em não aplicar o reajuste.
Rodrigo buscou a reeleição em 2022, mas acabou em terceiro lugar na disputa. Assim como Nunes, ele apoiou Tarcísio no segundo turno contra Fernando Haddad (PT).
A atual gestão estadual diz que já entregou R$ 300 milhões ao Metrô neste ano. “De forma a custear a operação da empresa, ainda impactada pela queda na demanda de passageiros -reflexos da pandemia-, e pelo congelamento da tarifa, que é uma política do governo do estado em benefício da população”, afirma a Secretaria de Comunicação.
Tarcísio, conforme a reportagem apurou, está incomodado pelo fato de o Metrô ser deficitário. A empresa teve um prejuízo de R$ 651 milhões no primeiro semestre deste ano. Em todo o ano de 2022, havia sido de R$ 1,2 bilhão.
A gestão estadual também disse, na nota, que o Metrô vem adotando “diversas medidas para seu equilíbrio econômico-financeiro e discute com o Governo de SP um plano para o saneamento de suas contas, por meio de medidas para otimização administrativa e revisões contratuais”.
Já o prefeito afirma que não houve conversa com Tarcísio referente ao reajuste. “Esse tema está bem complexo, tínhamos 9 milhões de passageiros/dia em 2019 e agora são 7 milhões. Precisamos incentivar o uso do transporte coletivo e manter a tarifa é o principal”, disse Nunes à Folha. Em 2024, ele tentará a reeleição com apoio de Tarcísio.
Uma das apostas de Nunes para ganhar popularidade é promover a tarifa zero para os ônibus. O prefeito solicitou um estudo do modelo gratuito à SPTrans, mas a medida é complexa.
Entre as alternativas para sustentar a ideia estão a constituição de uma taxa a ser paga pelas empresas de acordo com a quantidade de funcionários e venda de espaços publicitários em ônibus.
Porém, a legislação trabalhista que prevê o vale transporte é federal, enquanto a Lei Cidade Limpa proíbe anúncios em ônibus.
O próprio Tarcísio é contrário à tarifa zero sugerida por Nunes. Na semana passada, o prefeito falou sobre a possibilidade de instituir a gratuidade nos ônibus aos domingos ou no período noturno. “Sou absolutamente contra”, disse Tarcísio na sexta (24). “Tarifa zero é algo que não faz sentido, não se sustenta e nós [governo estadual] não vamos embarcar.”
Mesmo com a cobrança de passagem, o transporte público está cada vez mais caro para os cofres públicos. O setor convive com crise de financiamento antes mesmo da pandemia de Covid.
Com o fim da pandemia, ônibus e metrô ainda não alcançaram o público de antes. Em 2019, os ônibus transportavam, em média, 9,5 milhões de pessoas por dia. Neste ano, a média é de 7,2 milhões passageiros ao dia.
No metrô, a média em dias úteis despencou de 3,7 milhões em 2019 para 2,2 milhões atuais.
Como a conta não fecha, o SPUrbanuss, sindicato das empresas que operam o transporte público na cidade, também tem pleiteado à gestão Nunes o aumento da passagem, mas ele tem resistido às pressões pelo reajuste.
Em meio a isso, o subsídio pago pela Prefeitura de São Paulo às empresas para mitigar prejuízos com tarifa e algumas gratuidades disparou com a atual gestão.
Em 2019, o subsídio foi de R$ 3,3 bilhões e, neste ano, chegou a R$ 5,3 milhões até novembro. Há uma expectativa de que até o final de 2023 o custeio se aproxime de R$ 6 bilhões.
“Além de manter o valor da tarifa congelado, este investimento permite 870 mil embarques de idosos, na média dos dias úteis, cerca de 730 mil embarques de estudantes com gratuidade ou desconto na tarifa e 330 mil viagens de pessoas com deficiência, que podem utilizar o sistema de ônibus gratuitamente”, diz a prefeitura em nota.
Para 2024, a proposta de orçamento do Executivo municipal prevê um gasto de R$ 5,1 bilhões com o subsídio.