Doria faz ‘tour do perdão’, encontra 4 antigos desafetos na mesma semana e se diz zen

Ex-tucano posou sorridente ao lado dos nomes com quem já teve desavenças

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Doria faz ‘tour do perdão’, encontra 4 antigos desafetos na mesma semana e se diz zen
João Doria, ex-governador de São Paulo. (Foto: Reprodução)

CAROLINA LINHARES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ex-governador João Doria registrou nesta semana uma série de encontros com ex-desafetos da política —o “tour do perdão” teve Geraldo Alckmin (PSB), Andrea Matarazzo (PSD), Bruno Araújo (PSDB) e Rodrigo Garcia (PSDB).

O ex-tucano posou sorridente ao lado dos nomes com quem já teve desavenças, em episódios que marcaram seu isolamento gradual no PSDB, que acabou com a desistência de concorrer à Presidência da República e sua desfiliação, em outubro de 2022.

Desde então, Doria voltou a se dedicar ao Grupo Lide, entidade que reúne empresários e da qual ele é fundador.

Questionado pela reportagem, afirmou que a aproximação com diversos adversários em poucos dias não foi planejada e que os encontros se devem aos eventos do Lide. “Estou zen, paz e amor”, brincou. Os conflitos do passado não teriam sido mencionados.

O ex-governador diz ainda que não planeja voltar à política apesar de se manter em evidência e frequentar os bastidores do poder por causa de sua atividade no Lide.

O ex-governador Rodrigo Garcia, que foi vice de Doria, foi um dos palestrantes do Seminário Lide Justiça, realizado na manhã desta quinta-feira (7), em São Paulo.

Na quarta-feira (6), Doria esteve com o ex-presidente do PSDB Bruno Araújo e com o ex-secretário e ex-vereador Andrea Matarazzo no encontro mundial das unidades do Lide, em São Paulo. Araújo é sócio do Lide nos Emirados Árabes, e Matarazzo, na Itália.

Já o encontro com Alckmin foi no domingo (3). O atual vice-presidente e ex-governador esteve na casa de Doria por mais de duas horas. Segundo aliados de Alckmin, a reunião foi solicitada por Doria, que disse ter tratado de economia com o outrora padrinho político.

Relembre os desentendimentos de Doria com cada político.

GERALDO ALCKMIN

O então governador Geraldo Alckmin foi o principal patrocinador da entrada de Doria na política e foi seu aliado no PSDB, defendendo seu nome nas prévias tucanas para a Prefeitura de São Paulo em 2016. As primeiras rusgas entre eles começaram já no ano seguinte, quando Alckmin era presidenciável pelo partido e Doria começou a se cacifar para o pleito nacional com uma série de viagens pelo país.

Em 2018, a distância entre eles aumentou. Doria se elegeu ao Governo de São Paulo fazendo campanha colada com Jair Bolsonaro (PL), algo que Alckmin desaprovou.

Após o primeiro turno, em uma reunião da cúpula tucana, Alckmin, então presidente do partido, disse a Doria: “traidor eu não sou”, em um episódio que se tornou um marco do desgaste na relação dos então tucanos.

O rompimento, porém, veio mais tarde, em 2021, quando Alckmin pretendia concorrer ao Governo de São Paulo pelo PSDB e Doria filiou seu então vice, Rodrigo Garcia, ao partido para disputar o Palácio dos Bandeirantes.

Em dezembro de 2021, Alckmin deixou o PSDB após 33 anos e, numa costura para ser candidato a vice-presidente na chapa de Lula (PT), acabou se filiando ao PSB.

ANDREA MATARAZZO

Foi no processo de prévias para a Prefeitura de São Paulo, em 2016, que Matarazzo rompeu com Doria e saiu do PSDB, partido que integrou por 25 anos. Ele abandonou o processo de prévias e declarou que seguir disputando seria “legitimar uma fraude”.

“Não tem espaço para mim no partido que coaduna com a compra de votos, com abuso de poder econômico e com o tipo de manobras que fizeram”, disse na época.

Doria se defendeu e negou irregularidades nas prévias —ele acabou eleito para a prefeitura no primeiro turno.
Matarazzo, por sua vez, se filiou ao PSD. Atualmente, ele voltou a se aproximar do PSDB e foi sondado pelo partido para ser candidato à prefeitura da capital no ano que vem.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, os tucanos estão divididos entre lançar uma candidatura própria ou apoiar o prefeito Ricardo Nunes (MDB). Outra opção considerada é apoiar Tabata Amaral (PSB).

BRUNO ARAÚJO

Bruno Araújo foi eleito presidente do PSDB, em 2019, com a bênção de Doria, mas depois se tornou um dos principais algozes da candidatura presidencial do então tucano em 2022. Nos bastidores, Araújo foi um dos responsáveis pela costura que resultou no lançamento da candidatura de Simone Tebet (MDB) em vez de Doria na chamada terceira via.

Uma série de tropeços de articulação de Doria dentro do partido acabaram afastando os aliados, mas o episódio que marcou a separação foi um jantar organizado pelo então governador, no Palácio dos Bandeirantes, em fevereiro de 2021, em que aliados sugeriram que ele assumisse o partido no lugar de Araújo, que também estava à mesa.

A partir de então, Araújo deu espaço para que Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, se firmasse como opositor interno de Doria e disputasse prévias presidenciais contra o paulista. Mesmo com a vitória nas prévias, a candidatura de Doria era desacreditada no partido e não era defendida por Araújo.

Em 2022, Doria chegou a convidar Araújo para coordenar sua campanha presidencial. Um segundo evento, no entanto, fez degringolar a relação entre eles. O então presidente do PSDB afirmou em um jantar com empresários, em abril daquele ano, que o partido não teria candidato a presidente, áudio que foi vazado e chegou a Doria.

Doria destituiu Araújo da coordenação da campanha, e o tucano publicou nas redes, em tom de deboche: “Ufa. Comando que nunca fiz questão de exercer”.

RODRIGO GARCIA

Doria não chegou a romper com seu vice e sucessor no Governo de São Paulo, mas a aliança teve altos e baixos. Como mostrou a Folha de S.Paulo, houve uma discussão dura entre eles, em março de 2022, quando Doria ameaçou não deixar o cargo para o aliado e não concorrer à Presidência, mas acabou voltando atrás.

Interlocutores de Rodrigo opinavam que a proximidade com Doria trazia prejuízos à imagem do tucano, que acabou não se reelegendo em 2022. Por isso, eles mantiveram distância durante a campanha eleitoral.

Quando, no segundo turno, Rodrigo apoiou Jair Bolsonaro, de quem Doria se tornou um rival na pandemia, o ex-governador disse discordar.

“Eu respeito a posição do Rodrigo. Mas essa não é a minha posição. Embora eu discorde, eu não me sinto à vontade para criticar o Rodrigo, que tem autonomia plena. Mas eu pessoalmente tenho uma visão diferente”, disse Doria à Folha de S.Paulo.

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