“Tomara que o próximo prefeito não tenha nenhuma ligação com a Prefeitura atual”, aponta Walter Vosgrau para melhorar saúde em Anápolis
Cirurgião cardiovascular que atendeu por mais de 20 anos no SUS em Anápolis é o entrevistado desta semana do '6 perguntas para'
Walter Vosgrau tem mais de 40 anos dedicados à medicina. Destes, o cirurgião cardiovascular dedicou 23 em Anápolis atendendo prioritariamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no Hospital Evangélico Goiano (HEG).
Após mais de duas décadas atendendo pacientes do município, ele foi forçado a deixar o SUS, sem previsão de retorno.
Ao ‘6 perguntas para’ deste domingo (04), ele lamenta a “ganância” da atual administração do HEG, que, segundo o profissional, deseja receber valores acima dos que são pagos na rede pública.
A perspectiva de Vosgrau sobre a saúde no município também não é das melhores. Ele enxerga que o município está “totalmente desassistido” e entregue ao “desastre” na terceirização do serviço público às organizações sociais (OS’s).
6 perguntas para Walter Vosgrau
1. Qual seu sentimento em relação à condução do SUS na rede municipal de Anápolis?
Walter Vosgrau: “Meu sentimento é de perda e acho que foi um desastre essa Prefeitura no que diz respeito não só ao SUS, mas a saúde total da cidade de Anápolis. Podem falar o que quiserem em palanque, mas se você sair na rua e perguntar para qualquer um, vai ver que o município está totalmente desassistido”.
2. Em que medida a introdução de OS contribuiu para piora da situação?
WV: “É um desastre. Acho que tem uma OS que é a que está cuidando do HEANA que faz o trabalho direito. O resto acho que é um grande gasto de dinheiro sem uma resolução que poderia ser melhor na cidade. Basta ver outros municípios que estão com o SUS muito mais encaminhados sem precisar de OS”.
3. O que o próximo prefeito de Anápolis deveria fazer para diminuir a fila dos pacientes cardíacos com alto risco de morte?
WV: “Tomara que o próximo prefeito não tenha nenhuma ligação com a Prefeitura atual. Vamos ver se o povo anapolino consegue por um prefeito que realmente pense no povo anapolino. No meu entender, para poder diminuir a fila, era só deixar o cirurgião operar. Coisa que a Prefeitura e a diretoria do Hospital Evangélico parou. Espero que a próxima Prefeitura consiga resgatar isso. Por quase 20 anos eu operei e nunca teve fila de espera. Agora, acabaram de me mandar um marca passo que está em 94 na fila, nunca teve isso na cidade de Anápolis. A única justificativa é a má gestão do dinheiro público e eles não quererem que isso vá pra frente”.
4. E o que o atual ainda pode fazer para atenuar esse quadro?
WV: “Pensar que essa atual Prefeitura vai fazer alguma coisa para mudar? É piada!”.
5. Um hospital público do coração faz falta em Goiás ou os convênios com particulares são suficientes?
WV: “Você não precisa de um hospital público para operar coração. Precisa ter um hospital que aceite operar pelo valor que o SUS quer pagar, como era o Evangélico antes da atual administração. A gente sempre operou lá, todas as diretorias que passaram sempre nos deixaram operar pelo valor do SUS. O problema é que o pessoal é ganancioso, quer mais do que o SUS paga e isso é quase que impossível. Pode ser hospital particular, mas que queira atender o SUS.
Agora se não tiver nenhum hospital privado que queira atender SUS, aí você tem que passar ou para a rede estadual ou federal. Mas talvez se tivesse um hospital que se especializasse exclusivamente em cardiologia, com certeza o município ganharia muito, poderia ajudar não só o município, mas o estado inteiro”.
6. Você tem mais de duas décadas de dedicação à medicina. O que ainda que te move para continuar atendendo?
WV: “São mais de duas décadas em Anápolis, porque mexendo com medicina eu tenho 40 anos. Desses meus 40 anos, 37 foram dedicados ao SUS. Eu sempre operei mais no SUS do que em convênio ou particular e isso é estatístico. Quando eu trabalhava em Goiânia, a minha residência foi feita em hospital que atendia SUS.
O que me move é que eu gosto de medicina, sempre gostei, sempre fiz porque acho que nasci com vontade de ser médico. E faço o que gosto. Quando você faz o que gosta, infelizmente para os outros é um problema, pois você faz isso com alegria, felicidade, devoção. Enquanto eu tiver saúde, gana, eu vou continuar tentando trabalhar. Hoje não mais pelo SUS em Anápolis, pois tive que parar meu serviço de 23 anos no Evangélico, mas espero que os doentes continuem tendo algum lugar para ir”.