Países não resolvem problemas de criminalidade porque não há vontade, diz Bukele
Presidente reeleito de El Salvador mencionou Lula durante discurso: "nunca mencionou a questão da segurança pública"
O presidente reeleito de El Salvador, Nayib Bukele, 42, afirmou em discurso após o pleito deste domingo (4) que os países não resolvem problemas relacionados à criminalidade por falta de vontade política. Ao comentar especificamente o Brasil, o líder salvadorenho disse “jamais ter mencionado” o tema da segurança pública em conversas com o homólogo brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“O que incomoda muitos governos é que El Salvador mostra que tudo pode ser feito de boa vontade”, disse o líder após votar em San Salvador, a capital do país. “E quando um país não resolve seus problemas, especialmente de criminalidade, é porque não há vontade de resolvê-los. Em alguns casos, porque eles [autoridades] são parceiros de criminosos.”
“Falei algumas vezes com o presidente Lula. Mas ele nunca mencionou a questão da segurança pública para mim. Imagino que tenha sua própria maneira de abordagem e de lidar com a situação”, afirmou.
Considerado referência para setores da direita na América Latina, Bukele ganhou popularidade após implementar políticas linha-dura de combate à criminalidade em El Salvador. Por anos, a insegurança foi a maior fonte de preocupação dos salvadorenhos – o país figurava entre os mais perigosos do mundo.
Em 2015, um dos anos mais violentos da história recente de El Salvador, mais de 106 pessoas foram assassinadas para cada 100 mil habitantes. A título de comparação, no mesmo ano, a taxa de homicídios dolosos no Brasil foi de 25,7 por 100 mil, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
A situação mudou nos últimos anos, sob o governo de Bukele. Atualmente, nove em cada dez habitantes dizem se sentir seguros na nação centro-americana.
Para chegar a esses números, o líder eliminou praticamente todos os contrapesos da jovem democracia local e lançou uma enorme operação de encarceramento em massa.
No pacote do “milagre salvadorenho”, como as políticas de Bukele vêm sendo chamadas, vigora um estado de exceção renovado todos os meses há quase dois anos. O instrumento, aplicado pela Assembleia governista após uma onda de violência que fez 87 vítimas em um único fim de semana de março de 2022, suspende o direito de associação e reunião, cessa a inviolabilidade das comunicações e priva os cidadãos do direito de serem imediatamente informados sobre o motivo de eventuais detenções que sofram.
Hoje, o país tem mais de 100 mil presos – em grande parte inocentes, segundo diversas organizações de direitos humanos – em um universo de 6 milhões de habitantes.
“Atacar o crime tem muitas consequências”, disse Bukele. “Mas a primeira, para um sócio dos criminosos, é que ele perde o negócio. Tem que ser [eleito] alguém que não se preocupa com criminosos, que não se importa com a economia criminosa, que esteja disposto a quebrar a economia do crime e colocar os criminosos na prisão para que isso [criminalidade] possa ser resolvido.”
Bukele disse duvidar que a receita de El Salvador para combater a criminalidade possa ser “copiada e colada” por outros Estados. Ele afirmou, contudo, que seu país – descrito por ele como pequeno e pobre – pode servir de exemplo para outras nações.
Com 70,25% das urnas apuradas na manhã desta segunda, Bukele tinha 83% dos votos, segundo o site do TSE (Tribunal Supremo Eleitoral). Na véspera, antes mesmo de as urnas serem fechadas, ele já havia comemorado a sua vitória.