“Em Anápolis, o PT se mostra isolado e não tem mostrado disposição para dialogar com o campo de esquerda”, critica Eugênio Lourenço pré-candidato do PSOL

Apesar da crítica, o psolista diz que ambos podem caminhar juntos caso haja segundo turno na cidade

Pedro Hara Pedro Hara -
Eugênio Lourenço Dias. (Foto: Arquivo Pessoal)

Pré-candidato do PSOL em Anápolis, o advogado e professor universitário Eugênio Lourenço entrou recentemente na disputa eleitoral. Na segunda rodada da Paraná Pesquisas/Portal 6 marcou 0,5% e afirmou ter sido um bom índice.

Ao ‘6 perguntas para‘ desta semana, Eugênio diz que no primeiro turno o PSOL não deve caminhar com o PT, que está “isolado” e não tem “disposição para dialogar com o campo da esquerda”. Ele traça um paralelo com Goiânia, onde o partido está junto das outras forças do espectro.

Porém, pondera que no segundo turno as duas siglas podem estar lado a lado para “reerguer a cidade de Anápolis”.

Para Eugênio, a gestão governamental precisa atuar para ‘criar ações, projetos e programas para entrelaçar o curto, médio e longo prazo’ para ser uma “cidade efetivamente cuidadora de suas cidadãs e cidadãos e que seja capaz de gerar oportunidades por meio de políticas públicas eficientes, eficazes e efetivas.

Questionado sobre compor com os evangélicos do município, o pré-candidato diz que o PSOL “mostra que não é difícil e nem limitado o diálogo com os evangélicos”, e cita o deputado federal Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ), uma das principais lideranças do partido nacionalmente. 

1. O PSOL tem feito alianças com o PT pelo país para disputar as eleições municipais. Por que em Anápolis vai ser diferente?

Veja bem, alianças são possíveis quando há diálogo, escuta e a busca por unidade em uma construção coletiva. Com base nisso, elenco, ao menos, três motivos para o que você chama de ação diferente em Anápolis: Primeiro, o PSOL, em âmbito nacional, estipulou como prioridades eleger Guilherme Boulos em São Paulo e reeleger Edmilson Rodrigues em Belém. Nos dois casos, a aliança já estava formada: a primeira, a partir de um acordo que envolvia o apoio do PSOL à candidatura do presidente Lula e a retirada da possível candidatura de Boulos ao governo de São Paulo; a segunda, Edmilson tem como seu vice o petista Edilson Moura, companheiros de longa data. No Rio Grande do Sul, em dezembro de 2023, PSOL e PT iniciaram conversas para uma possível aliança visando Luciana Genro do PSOL como pré-candidata a prefeita e Tamyres Rodrigues do PT como vice.

Em Anápolis, o PT se mostra isolado e não tem mostrado disposição para dialogar com o campo de esquerda, ao contrário do PT de Goiânia que nos buscou para construir a unidade do campo de esquerda e eleger Adriana Accorsi prefeita. Segundo, entendemos que a polarização que foi instituída no Brasil, sobretudo a partir das eleições presidenciais de 2018, não contribui para o que o momento eleitoral exige: um amplo debate sobre os problemas reais que assolam a população de Anápolis e formas de superá-los. Terceiro, o PSOL se consolidou por unificar diversas frentes de luta no campo popular e democrático e acumulou condições materiais para participar do debate sobre a cidade que queremos e, assim, se mostrar como uma potencial alternativa qualificada para transpor os limites da polarização que se instaurou no jogo político nacional.

2. Poderão estar juntos no segundo turno? 

O segundo turno é outro campeonato. Acredito que, uma vez tendo a população ao nosso lado e acreditando no nosso projeto, em um eventual segundo turno, buscaremos o diálogo necessário para compormos uma força única no campo popular, progressista e democrático para sairmos vitoriosos e reerguermos a cidade de Anápolis ao nível de condições de vida que ela não deveria ter perdido, mas que infelizmente ocorreu nesta desastrosa gestão que se encerra com este pleito.

3. O que o PSOL pretende emplacar como prioridade no debate pela sucessão em Anápolis?

Temos a certeza de que a gestão governamental precisa atuar no sentido de criar ações, projetos e programas que entrelacem o curto, o médio e o longo prazos. Para tanto, a partir da concepção do “Direito ao Futuro – Cidades”, criado a partir dos debates realizados em âmbito nacional das instâncias partidárias, entendemos que como prioridade precisamos resgatar a importância de vivermos em uma cidade acolhedora. Uma cidade que leve a sério a questão da crise climática, seja tecnologicamente avançada, em que a saúde seja preventiva e que o atendimento seja para todos em todas as suas modalidades, que a mobilidade urbana seja para todos, que a educação seja inclusiva e garantidora da ampliação da capacidade criativa dos estudantes, que a segurança pública seja capaz de resgatar a confiança da população ao aparelho estatal de repressão; ou seja, uma cidade efetivamente cuidadora de suas cidadãs e cidadãos e que seja capaz de gerar oportunidades por meio de políticas públicas eficientes, eficazes e efetivas.

Para que tudo isso dê certo, entendemos que a participação popular e democrática seja o ideal e o respeito às/aos servidoras/res públicas/os seja, de fato, um pré-requisito para a efetivação de uma cidade respeitosa e acolhedora com os seus. Por isso, implantaremos um sistema de decisões coletivas territorializadas que colaborarão para a formação de políticas públicas e orientação dos gastos da prefeitura. Portanto, baseados no planejamento e no orçamento participativos e democraticamente construídos. 

4. Há uma máxima na cidade, que para ser competitiva uma chapa para prefeito precisa ter católico e evangélico na composição. Está levando isso em conta?

Precisamos superar determinados mitos. Hoje, um dos grandes líderes do PSOL na Câmara Federal é o deputado Pastor Henrique Vieira, liderança comunitária de qualidade ímpar no campo democrático e popular. Estamos conversando com várias lideranças, religiosas ou não. O que precisamos avançar é no tom do projeto: a construção de uma aliança para resgatar a cidade para a população! Nosso lema no PSOL diz: É no PSOL que as lutas se encontram! As lutas das diversas matrizes religiosas, dos movimentos populares e sociais do espectro democrático e progressista se encontram no PSOL. De alguma forma, esta composição de lutas estará representada na chapa majoritária do PSOL, tendo ou não representantes destas duas importantes forças existentes na cidade.

Esperamos que as pessoas que defendam a Vida em sua plenitude, que concordam que a cidadã e o cidadão anapolino devem ter saúde, educação, segurança pública, emprego e mobilidade urbana decentes, componham conosco e venham fortalecer a nossa caminhada. Andaremos lado a lado.

5. E como dialogar com os evangélicos? A maioria deles são apoiadores do bolsonarismo

Como mencionei acima, o deputado federal Henrique Vieira é pastor. O PSOL sabe dialogar com todas as forças. O que nos une é a defesa à democracia, à participação popular nas decisões que à população importa e a construção de uma cidade inclusiva e acolhedora para todas e todos. Maioria é um estado, uma situação de momento e isto se altera. Temos filiadas e filiados que são católicos, evangélicos, das religiões de matrizes africanas, enfim, temos pessoas que não comungam com as práticas, a ideologia e o pensamento político do movimento que você menciona na pergunta. Assim sendo, o PSOL mostra que não é difícil e nem limitado o diálogo com os evangélicos.

6. Como acabar com as mini-cracolândias que tem se formado pela cidade e diminuir a quantidade de pessoas em situação de rua em Anápolis?

É uma situação crítica e deve ser tratada com a devida seriedade com que o tema exige. Primeiro, devemos questionar sobre como se chegou a tal situação? Onde falhamos? Uso aqui o tempo verbal indicando que somos todos membros de uma sociedade que olha o que ocorre, mas não enxerga o seu significado até que se torne um problema para si, ainda que isso só se verifique, de fato, quando se torna um problema para uma determinada parcela da sociedade local, que se sente por ele ameaçada. Dito isso, este fenômeno deve ser envolvido por uma dinâmica de várias políticas públicas integradas, que nos condicione ao direito à saúde pública, ao trabalho e ao emprego e à proteção à vida. Medidas paliativas e segregadoras de retirada do local não se mostraram efetivas em outras cidades, pois mostraram um abandono sequencial, retorno e recrudescimento da situação. Este termo é muito caro: situação de rua. Portanto, deveria ser algo momentâneo, ocasional, transitório. Se deixou de ser assim, foi porque a sociedade falhou por não debater o assunto e o poder público falhou por não estimular o debate e propor ações para solucioná-lo.

Uma cidade acolhedora precisa garantir políticas públicas integradas que garanta condições de vida para tal população e fenômenos como 0este devem ser tratados como prioridade para a efetivação do acolhimento e integração à vida social de nossa cidade.

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