‘Se faz urgente a consolidação das políticas públicas para a Cultura em Anápolis’, analisa Luiz Sérgio Fragelli

Produtor e realizador cultural é o convidado da semana do '6 perguntas para'

Pedro Hara Pedro Hara -
‘Se faz urgente a consolidação das políticas públicas para a Cultura em Anápolis’, analisa Luiz Sérgio Fragelli
Luiz Sérgio Fragelli, produtor e realizador cultural. (Foto: Divulgação)

Luiz Sérgio Fragelli é o entrevistado da semana do ‘6 perguntas para’. À Rápidas, o produtor e realizador cultural apresenta uma análise detalhada das ações culturais em Anápolis, destacando o papel da Território Cultural e a relevância do cinema na cidade.

Luiz Sérgio Fragelli enfatiza a importância da profissionalização do setor cultural, o impacto econômico positivo do cinema e a necessidade de comunicação eficaz para mudar percepções sobre a cultura local.

O produtor e realizador cultural também discute a ausência de uma Secretaria Municipal de Cultura e a movimentação dos pré-candidatos nessa área, além de destacar propostas para fortalecer a Cultura em Anápolis, como leis de fomento e investimento em formação profissional e infraestrutura cultural.

Luiz Sérgio Fragelli conclui a entrevista ressaltando a importância da união da classe cultural e o aprimoramento das políticas públicas para impulsionar o setor.

6 perguntas para Luiz Sérgio Fragelli

1. Desde que começou 2024, a Território Cultural tem realizado uma série de ações relacionadas à Cultura e especificamente ao cinema em Anápolis que têm reverberado profundamente no município. Como isso é possível?

Luiz Sérgio Fragelli – Esse é o objetivo, fazer com que as propostas cheguem até as pessoas e possam, de alguma maneira, fazer parte do cotidiano delas. Agora, como estamos conseguindo alcançar esse objetivo? Tudo que está sendo feito foi pensado, estudado em cada detalhe e planejado para que pudesse atender aos profissionais da Cultura da cidade, criando chances de qualificação e profissionalização do setor cultural em Anápolis e pudesse chegar ao público, que é o maior beneficiado, criando acesso e inclusão às pessoas. Temos conhecimento e pertencimento sobre o que estamos propondo, isso permite ter controle sobre o trabalho que está sendo realizado. Esse trabalho está sendo feito por muitas mãos, pessoas qualificadas que têm a liberdade de propor e de se afirmar enquanto profissionais de ponta em suas áreas e, todos nós, acreditamos no poder da Cultura e da sua influência na transformação da sociedade. Essa verdade que trazemos, esse amor que nos move, acaba contagiando as pessoas à nossa volta, o que vai propagando cada vez mais as iniciativas que estão sendo realizadas e que cada dia fazem com que surjam novas parcerias, e essas parcerias estão sendo fundamentais para a construção e consolidação das propostas.

Especificamente, o cinema tem o incentivo da Lei de Fomento à Cultura, Lei Paulo Gustavo, que injetou no setor audiovisual da cidade mais de 3 milhões este ano, através de editais. O cinema tem profissionais qualificados, que se dedicam à criação e produção do cinema nas terras de Ana, e é uma área que exige estudo e conhecimento. Aquela máxima de que basta uma ideia e uma câmera na mão é puro romantismo; fazer cinema é caro, a tecnologia é cara, a dedicação é exclusiva e requer muito estudo. Assim, cada vez mais a área vem se profissionalizando, mas o retorno é alto para a economia local. Em um levantamento feito pela Território Cultural, no pós-pandemia, a área audiovisual em Anápolis já movimentou mais de 4 milhões na cidade. O retorno para a economia local é enorme, além de levar o nome da cidade pelo mundo todo; temos vários filmes e diretores premiados nacional e internacionalmente.

O que mais estamos fazendo por essas pessoas é dar apoio, ajudar na qualificação do setor e mostrar que elas são capazes e que podem produzir cinema com qualidade mesmo estando no interior de Goiás. Outras ações pensadas e executadas ao público estão atendendo uma demanda de eventos com qualidade, propostas acessíveis para toda a família, de forma gratuita, que têm as características de formação de público e de lazer qualificado. São várias ações combinadas entre elas, que vêm chamando a atenção pelo conjunto da obra e conseguindo cada vez mais adeptos: festivais temáticos de cinema, cinema com clássicos, cine clube, a sala pública de cinema, o drive-in e as ações de gratuidade, que estão acontecendo no Cine Prime, formam um bloco de ações que está gerando bastante impacto na cidade. Aproveito para falar que uma estrutura como a do Cine Prime, abrir as portas para um cinema não comercial impactou muito as nossas ações; essa é uma das parcerias. Outra parceria é a mídia da cidade, que está dando repercussão aos eventos, o que ajuda a furar a bolha dos algoritmos das redes sociais, em especial a parceria com o Portal 6, que eleva nossas ações a outro patamar.

2. Você acredita que essas ações que estão sendo realizadas contribuem de fato com a cidade?

LSF – Acredito demais. Temos uma cidade linda, boa para se viver, mas que não conhece sua Cultura, não valoriza sua história e não reconhece seus artistas. A Cultura também tem esse papel, de formar público, de transformar as pessoas através da informação e levar essa informação pelas artes. Os artistas, em geral, criam uma interpretação, em suas obras, do mundo à nossa volta. Consumir Cultura e arte é ter a capacidade de identificar, através de outros olhares, a resposta para muitos dos problemas enfrentados pela sociedade contemporânea. A Cultura ajuda a construir cidadãos mais críticos e conscientes de sua realidade. Vou continuar fazendo o que eu puder para levar Cultura para as pessoas. A Cultura cria um ambiente de respeito e de amor, de aceitação das pessoas como elas são.

3. Muita gente reclama sobre o setor cultural em Anápolis e diz que a cidade não tem nada para fazer. Como você avalia esse cenário?

LSF – Acredito que não fazem isso por mal; é mais por falta de informação, falta de conhecimento de tudo o que está acontecendo aqui na cidade. As pessoas ainda veem a Cultura como se falássemos de Cultura no final da década de 70, no final da ditadura. Elas não associam como Cultura, por exemplo, a ida a um show de um artista ou ao cinema dentro do shopping. Para a grande maioria, isso não é Cultura. As pessoas não concebem que se faz cinema aqui em Anápolis. Cinema, para elas, é ir ao shopping ou assistir a um filme no streaming.

Muito dessa culpa é da classe cultural, por termos dificuldade em comunicar tudo que está sendo feito. Os artistas ficam apegados a sua bolha ou não conseguem verba dentro dos projetos para investir na comunicação. Temos cineastas aqui exibindo filmes mundo afora, temos escolas de música, de dança e de artes que exportam talento pelo planeta. As escolas de artes do município não comportam a quantidade de pessoas que procuram para se inscrever todos os anos. Temos um atleta anapolino disputando a vaga olímpica no break dance, entre tantas outras coisas que acontecem por aqui.

Mas pegando o exemplo da Território Cultural, é importante fazer as coisas com seriedade e respeito, num ambiente transparente, que seja acessível a todo tipo de público. É preciso educar pela Cultura, começar as ações no horário previsto e criar ambientes que recebam confortavelmente as pessoas. Temos que pensar na experiência que estamos criando e ofertando às pessoas, para que elas possam repercutir e cada vez mais tenhamos mais público nos eventos. O boca a boca ainda é a melhor propaganda, e as pessoas contam para as outras dos sucessos e dos fracassos. Temos que estar atentos ao que entregamos ao público.

4. Hoje não temos uma Secretaria de Cultura, contrariando a linha nacional com a volta do Ministério da Cultura. Como percebe isso? Uma diretoria é suficiente?

LSF – Sendo bem prático, infelizmente, Cultura não é política de estado, é política de governo. Então, independentemente de ser secretaria ou diretoria, é importante que a gestão que esteja à frente do município tenha boa vontade e invista em Cultura.

Como produtor cultural, como um profissional que trabalha com Cultura na cidade há mais de vinte anos, foi um baque perder a secretaria de Cultura, porque isso faz parte da nossa luta e das nossas conquistas. Perder esse status foi perder uma batalha. Por outro lado, as leis de fomento e as outras políticas públicas continuaram acontecendo. É importante não perder nada e seguir ganhando divisas e adeptos à nossa causa e à nossa caminhada.

5. Estamos próximos do processo eleitoral. O que você, como produtor e realizador cultural, percebe da movimentação dos pré-candidatos nesta área?

LSF – Precisamos pensar e discutir isso com urgência. A classe cultural da cidade até então não conseguia se unir para pensar na importância de ter um representante que seja da Cultura. Temos vários que levantam a bandeira, mas não fazem nenhuma ação concreta em favor da Cultura, porque não são da área.

Temos duas leis que estão sendo discutidas com a câmara e que estão na mão do presidente da casa. Uma ação do Conselho Municipal de Cultura, no qual estou presidente, que quer rever a lei do Fundo Municipal de Cultura criando gatilhos dentro dela, como prazos para lançamento e pagamento do edital e que o valor do prêmio não possa retroceder. A outra lei que foi entregue à casa das leis municipais foi a lei de fomento através do incentivo fiscal, nos moldes da Rouanet e da Lei Goyazes. Essa é uma lei que pode dar outro significado à Cultura na cidade. Precisamos aumentar o investimento em Cultura para que o setor possa crescer e dar vazão às demandas que existem.

Num momento tão sensível de troca no poder executivo da cidade, é importante que a classe se una. É importante termos segurança legal e importante que a Cultura esteja na discussão dos candidatos a prefeito e que a sociedade entenda o quão isso é relevante e cobre Cultura gratuita e de qualidade. Vou citar como exemplo os estados e municípios espanhóis e alemães, que brigam para ver quem mais investe em Cultura nos orçamentos. Temos que seguir essa direção e investir em Cultura.

6. Qual seria o ideal de Cultura para Anápolis?

LSF – Uma Cultura descentralizada, planejada, que invista em seus profissionais, que crie cada vez mais chances de formação para o maior número de pessoas, que seja acessível e inclusiva, que crie pertencimento e orgulho de ser anapolino. Temos que ser mais bairristas.

Uma Cultura que forme profissionais que revertam o investimento para a cidade, uma Cultura que vá além de ensinar especificidades artísticas, uma Cultura que forme cidadãos conscientes da sua responsabilidade com o mundo à sua volta.

Uma Cultura que consolide seus aparelhos e equipamentos culturais para que eles atendam à população.

Uma Cultura que cuide dos seus profissionais, dando estrutura para que eles possam trabalhar e viver do seu trabalho.

Urgente envolver os empresários nessa discussão. Somos uma cidade que gera um alto valor econômico, mas que não investe na própria cidade ou não retorna o tanto que poderia retornar para o município.

Também se faz urgente a consolidação das políticas públicas da cidade. As políticas vigentes não atendem mais ao setor cultural; é preciso avançar.

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*Colaborou Denilson Boaventura

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