Taxa de assassinatos cai 20% nas principais cidades dos EUA em 2024, diz consultoria
Ocorrências levantadas por estudo consideram incidentes em que houve intenção de matar
ISABELA ROCHA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O índice de assassinatos nas principais cidades dos Estados Unidos caiu 19,9% nos quatro primeiros meses de 2024 comparado com o mesmo período no ano passado, de acordo com dados da consultoria AH Datalytics. A tendência é que a queda se acentue nos próximos meses, e o índice final pode atingir o menor nível em cinco anos, segundo Jeff Asher, analista de dados cofundador da empresa.
Dentre as principais cidades americanas, Boston (-83,33%), Austin (-40%) e Nova Orleans (-39,73%) apresentaram as maiores quedas. As ocorrências em Denver (estabilidade), Los Angeles (+ 9,46%) e Atlanta (+15,38%) não seguiram a tendência das demais.
Procurado pela reportagem, o Departamento de Polícia de Boston disse trabalhar em parceria com a prefeitura para combater o crime na cidade. Os policiais se baseiam em uma análise de dados e focam abordar “indivíduos que estão impulsionado o crime”, sem detalhar como fazem essa classificação. A prefeitura, por sua vez, oferece serviços como equipes especializadas em traumas que apoiam vítimas de violência e empregos para estudantes das escolas públicas que queiram trabalhar nas férias.
“Essas estratégias foram implementadas, mas nunca são estáticas. Elas são ajustadas diariamente baseadas na necessidade da população e para abordar o que esteja acontecendo na cidade”, afirmou na nota a porta-voz do departamento, Mariellen Burns.
As ocorrências contabilizadas pela consultoria foram classificadas especificamente como assassinatos, termo que na definição americana indica mortes em que o criminoso teve a intenção de matar.
Em 2020, o aumento da taxa de assassinatos nos EUA foi de quase 30% -o maior já registrado em um ano na base de dados, iniciada em 1960, escreveu Asher. A taxa começou a cair de novo em 2022.
Durante a pandemia da Covid-19, a abordagem de pessoas e lugares violentos pela polícia ficou mais difícil; programas de prevenção da violência –como o acompanhamento de jovens se envolvendo em problemas– foram pausados; a venda de armas aumentou, e a população ficou mais estressada, o que pode ter causado o aumento nas ocorrências, disse Alex Piquero, professor de sociologia e criminologia da Universidade de Miami. Com a saída total do isolamento em 2022, as taxas começaram a cair.
O declínio visto até agora em 2024 é uma continuação dessa queda, afirma o especialista. A tendência é que a taxa continue em recuo de dois dígitos até o fim do ano. Se não atingir os níveis de 2019, provavelmente chegará perto, segundo ele. “Espero que, quando atingirmos o patamar de 2019, as pessoas não digam ‘ganhamos’, mas sim ‘vamos continuar fazendo as coisas que sabemos que estão efetivamente prevenindo crimes'”, afirmou Piquero.
O combate ao crime ocupa a sétima posição na lista de prioridades dos americanos -58% afirmam que o tema deveria ser priorizado pelo presidente e pelo Congresso, de acordo com pesquisa realizada em janeiro pelo Pew Research Center.
Apesar disso, o tema não deve ter grande influência na corrida presidencial americana, declarou Daron Shaw, professor de ciências políticas da Universidade do Texas em Austin. A questão tende a ser vista por eleitores como uma pauta municipal e estadual. Trata-se, porém, de um ponto sensível para democratas, que tentam conectar-se com um eleitorado jovem focado no combate à violência policial.
“O tema em si pode ser parte da discussão eleitoral, mas não acho que as pessoas vão decidir entre Donald Trump e Joe Biden baseado na abordagem deles sobre o crime”, disse Shaw.