‘Meu filho me ensinou a dizer não’, diz Fernanda Vasconcellos sobre retomada da carreira
Neste sábado (4), a atriz retoma a carreira com a estreia da nova temporada da peça "Sra. Klein" no Teatro Bravos, em Pinheiros, zona oeste da capital paulista
MARIA PAULA GIACOMELLI – Fernanda Vasconcellos, 39, fez sua primeira grande pausa desde que começou a atuar, aos 13 anos. A atriz que deu vida a personagens marcantes das duas últimas décadas decidiu que, quando tivesse um filho, ficaria seis meses em casa. Acabou ficando quase três anos.
“Quando o Romeo nasceu, eu imaginava, na minha fantasia, que voltaria logo a trabalhar, só que fui me descobrindo uma mãe que não consegue largar o filho”, diz em entrevista ao F5. Romeo é fruto do relacionamento de 11 anos com o também ator Cássio Reis, 46, e nasceu em junho de 2022.
A gestação deu lugar ao confinamento exigido durante a pandemia de coronavírus, na qual se manteve reclusa. Os meses foram se passando e as vontades e prioridades, mudando. Por isso, ela se deixou curtir a maternidade com calma.
“Eu nunca tinha dito ‘não’ –e foi importante para mim. Meu filho me ensinou a dizer não. Agora, um projeto tem que ser bom para mim e para ele”, afirma. Por isso, nada de intensas leituras de roteiros, 12 horas de gravação intermináveis e fins de semana dedicados apenas ao trabalho.
Neste sábado (4), a atriz retoma a carreira com a estreia da nova temporada da peça “Sra. Klein” no Teatro Bravos, em Pinheiros, zona oeste da capital paulista. O projeto aborda a relação tóxica entre Melanie Klein (Ana Beatriz Nogueira) e a filha Melitta (Fernanda).
Contracenar com Ana Beatriz, com quem trabalhou em “A Vida da Gente” (2011), foi o que mais a convenceu a aceitar o convite, já que recusou outras propostas durante a pausa, mas poder ter flexibilidade também contou. As leituras de textos são feitas por chamada de vídeo e as apresentações serão apenas aos sábados e domingos.
Na peça, Melanie e Melitta são psicanalistas e vivem uma relação disfuncional que chega ao estopim após a morte de Hans, filho e irmão das duas, respectivamente. “Elas vivem uma relação muito conflituosa com sentimentos contraditórios”, avalia. “A Melitta é agressiva e, em alguns momentos, ela quer ser a mãe e, em outros, têm inveja dela.”
A atriz admite que o texto é complexo até mesmo para quem faz análise, o que é o seu caso. “Faço há oito anos três vezes na semana e, se pudesse, faria mais”, diz aos risos. “Sentimento dá trabalho, é profundo e leva tempo. Acredito que merece dedicação, como tudo o que importa na vida.”
Fernanda vai completar 40 anos em setembro deste ano e acumula quase três décadas de carreira. Ela se anima ao se definir como CDF, característica que faz parte do tesão que sente pela profissão. “Eu não gosto só da parte da atuação, gosto da dedicação. Adoro investigar o personagem, o tempo de estudo para compreendê-lo”, afirma. “Nesse período que fiquei fora, o tempo todo eu sentia falta, mas quis me dedicar ao meu filho.”
Para a nova fase que se aproxima, ela quer aprender a viver cada vez menos no automático, ter mais paciência e aceitar que não se controla a vida. Com cautela, ela reflete que ficar mais velha não é uma preocupação.
“Vou deixar em aberto para não cair em contradição; não sei se vou ter a mesma resposta mais pra frente”, afirma. “Eu gostava dos meus 20 anos, aproveitei bastante. [Com o passar dos anos] você ganha, assim como perde. Envelhecer não deve ser uma tarefa fácil, você lida com perdas e frustrações. Mas não necessariamente deve ser ruim.”