Bangladesh reduz cotas para empregos públicos após 115 mortes em protestos

Rejeitando a decisão de uma instância inferior, a divisão de apelação da Suprema Corte determinou que 93% dos empregos públicos de Bangladesh devem ser abertos a candidatos por mérito

Folhapress Folhapress -
População de Bangladesh. (Foto: UNICEF/ONU)
População de Bangladesh. (Foto: UNICEF/ONU)

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após uma onda de protestos de estudantes durante a semana, o Supremo Tribunal de Bangladesh anulou neste domingo (21) a maior parte das cotas de empregos no governo. As manifestações foram provocadas pela revolta contra o sistema que reserva de 30% das vagas no serviço público para familiares de pessoas que lutaram pela independência do país, em 1971.

Rejeitando a decisão de uma instância inferior, a divisão de apelação da Suprema Corte determinou que 93% dos empregos públicos de Bangladesh devem ser abertos a candidatos por mérito, disse o procurador-geral Abu Mohammad Amin Uddin à agência de notícias Reuters. Com isso, 5% das vagas se destinarão às famílias dos combatentes, e os 2% restantes atendem pessoas com deficiência e outros grupos.

“Os estudantes deixaram claro que não fazem parte da violência e dos incêndios criminosos que ocorreram em Bangladesh desde segunda-feira”, disse o procurador-geral. “Espero que a normalidade retorne após a decisão de hoje e que pessoas com segundas intenções parem de instigar os outros.”

Os atos se intensificaram a partir da terça-feira (16). Até agora, os confrontos entre policiais e manifestantes deixaram pelo menos 115 mortos ao longo da semana, segundo estimativa feita pela agência de notícias AFP com base nas vítimas relatadas em hospitais de todo o país. Autoridades ainda não divulgaram um balanço sobre as mortes.

O sistema de cotas foi abolido em 2018, no governo da atual primeira-ministra Sheikh Hasina, mas um tribunal inferior o retomou no mês passado, fixando as cotas em 56% e iniciando a onda de protestos. Os serviços de internet e telecomunicações foram cortados em uma tentativa de conter os atos e estão suspensos desde quinta-feira (18). As autoridades também proibiram reuniões públicas.

Sem que a polícia conseguisse impedir as marchas, no entanto, Bangladesh impôs um toque de recolher na sexta-feira (19) e mobilizou militares para patrulhar as ruas da capital, Daca, onde foram montados postos de controle do Exército. Após uma pausa para abastecimento, o toque de recolher foi reestabelecido até as 15h do horário local (6h no horário de Brasília), segundo a mídia do país.

As manifestações –as maiores desde que Hasina foi reeleita para um quarto mandato consecutivo neste ano– também foram impulsionadas pelo alto desemprego entre os jovens, que representam quase um quinto de uma população de 170 milhões. Segundo analistas, a violência também é estimulada por problemas econômicos mais amplos, como inflação alta e reservas estrangeiras em declínio.

Os protestos abriram antigas e sensíveis divisões políticas entre aqueles que lutaram pela independência de Bangladesh do Paquistão, em 1971, e aqueles acusados de colaborar com Islamabad.

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