Rio Sena ainda está poluído 20% do tempo, mostram análises
Rio foi utilizado no dia 31 de julho para as provas masculina e feminina do triatlo individual
ANDRÉ FONTENELLE
O gráfico da qualidade da água no rio Sena nos últimos dois meses mostra que em aproximadamente 20% dos dias o nível de coliformes fecais esteve acima do aceitável para a realização das competições olímpicas.
Uma imagem com o gráfico foi fornecida nesta segunda (5) pelo comitê organizador de Paris-2024 (Cojop), depois que a reportagem questionou a aparente falta de transparência da entidade em relação aos números.
O Sena foi utilizado no dia 31 de julho para as provas masculina e feminina do triatlo individual; e nesta segunda (5) para a prova do revezamento misto. Todos os treinos de aclimatação à água foram cancelados, porém.
No dia 31, segundo o gráfico, a condição do rio estava dentro do permitido pela federação internacional de triatlo (até 1000 bactérias Escherichia coli por 100 mililitros de água). Na última medição disponível, em 3 de agosto, porém, em dois pontos a concentração da bactéria estava acima desse patamar.
O que chama a atenção no gráfico dos últimos dois meses é a queda abrupta da contaminação a partir do dia 26 de junho, exatamente um mês antes da abertura dos Jogos. Ela chegou a se aproximar de 10 mil bactérias por 100 ml, dez vezes acima do nível aceitável.
Dali em diante, a quantidade de bactérias só ultrapassa o limite por volta dos dias 10, 12, 22, 28 e 29 de julho e 1, 2 e 3 de agosto. O principal motivo seriam as chuvas que caíram nesses períodos.
A situação é um pouco diferente em relação a outra bactéria medida, a Enterococcus. Em dois meses, houve dezesseis picos acima do adequado (até 400 bactérias por 100 ml).
O Cojop garante que está sendo transparente, mas se recusa a publicar os números das duas medições feitas diariamente em quatro pontos do rio Sena (ponte l’Alma, ponte Gros Caillou, ponte Invalides e ponte Alexandre 3º).
Extraoficialmente, assessores do comitê explicam que os atletas, maiores interessados nas análises, recebem os relatórios, e que nada os impede de compartilhá-los publicamente.
O Cojop teme que a divulgação da contaminação bacteriana pela imprensa leve a interpretações erradas sobre as condições do rio para a competição, já que esse é apenas um dos fatores para a tomada de decisões. Há outros, como a correnteza e a previsão do tempo.
“O conjunto de informações é compartilhado com os atletas”, disse Anne Descamps, porta-voz do Cojop. “Mas, em se tratando de uma análise e de uma compreensão do grande público, é realmente importante ter essa vigilância na análise dos resultados.”
A ONG Surf Rider, que luta pela boa qualidade da água do planeta, reclama que tem sido impedida de fazer análises independentes. Anne Descamps afirmou que o rio está livre para qualquer entidade colher amostras. Porém, Lionel Cheylus, porta-voz da Surf Rider, ressalva que o trecho usado para competições continua fechado a terceiros.
A Bélgica desistiu de participar da prova desta segunda (5) no rio Sena. Uma das atletas belgas, Claire Michel, teria tido problemas intestinais após nadar no Sena. Porém, o comitê olímpico belga desmentiu a informação, divulgada na véspera pela imprensa local, de que ela teria sido hospitalizada.
A federação suíça de triatlo também negou que o atleta Adrien Briffod tenha sofrido contaminação pela bactéria E. coli, como noticiado no domingo.
A equipe brasileira de revezamento misto terminou em oitavo lugar a prova do revezamento misto, com Miguel Hidalgo, Djenyfer Arnold, Manoel Messias e Vittoria Lopes.
Após a prova, os brasileiros minimizaram o problema da contaminação. Para eles, um caso isolado pode ser atribuído à queda de imunidade natural depois do esforço de uma competição olímpica.
Ainda há duas provas previstas para o rio Sena nestes Jogos, as maratonas aquáticas feminina e masculina, respectivamente na quinta (8) e na sexta-feira (9). Caso não seja possível realizá-las no Sena, elas serão transferidas para Vaires-sur-Marne, sede do remo olímpico, 20 km a leste de Paris.