Dólar e Bolsa fecham em queda, com eleição dos EUA e força de commodities no exterior
Semana começou com os investidores atentos à cena dos Estados Unidos, de olho, em especial, nas implicações sobre os juros
O dólar fechou em queda de 0,14% nesta segunda-feira (21), a R$ 5,692, em dia embalado pela percepção de força da economia dos Estados Unidos e pelas apostas de vitória do republicano Donald Trump nas eleições presidenciais do país.
A decisão de juros da China também reverberou nos mercados, em especial no de commodities.
A moeda começou o dia em alta e chegou a R$ 5,735 na máxima do dia, mas reverteu ganhos no início da tarde. Já a Bolsa também fechou em queda de 0,10%, a 130.361 pontos.
A semana começou com os investidores atentos à cena dos Estados Unidos, de olho, em especial, nas implicações sobre os juros do Fed (Federal Reserve, o banco central americano).
Nos últimos dias, dados econômicos de consumo e emprego endossaram expectativas de cortes graduais nas próximas decisões de política monetária da autarquia. Na ferramenta CME Fed Watch, uma redução de 0,25 ponto percentual tinha 87% de probabilidade, e a manutenção da taxa na banda atual de 4,75% e 5% reunia os 13% restantes.
Esse cenário elevou os rendimentos dos Treasuries, os títulos ligados ao Tesouro americano, o que, por sua vez, dava mais atratividade ao dólar no mercado internacional. Nesta sessão, o rendimento do título de dez anos -referência global para decisões de investimento- subiu 2,62% ponto, a 4,189%.
A proximidade das eleições presidenciais dos EUA também se fez presente nesta sessão. As apostas do mercado em uma vitória do Partido Republicano no início de novembro têm aumentado de forma significativa na plataforma Polymarket, ferramenta utilizada pelos investidores para observar a dinâmica do pleito.
As chances de Donald Trump retornar à Casa Branca eram de 63%, e as de uma vitória da democrata Kamala Harris marcavam 37%.
As apostas também preveem uma “red sweep” (uma “varredura vermelha”, em referência ao partido de Trump) em todo o país, com previsões de maioria republicana no Congresso.
A possibilidade de vitória do ex-presidente remetia, nos mercados, às propostas econômicas prometidas por ele. Trump propõe aumentar tarifas entre 10% e 20% sobre praticamente todas as importações dos EUA e em pelo menos 60% sobre as da China.
As propostas de aumento tarifário e corte de impostos são consideradas inflacionárias, o que, na política monetária, significa juros altos por mais tempo -algo positivo para o dólar.
“Estamos vendo os holofotes sendo redirecionados para os EUA, onde os mercados temem não apenas o retorno de Trump à Casa Branca, mas também uma vitória em massa do Partido Republicano em todo o Congresso. Esse cenário seria, sem dúvida, o menos favorável para os mercados emergentes”, disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.
Os fatores positivos ao dólar foram contrabalançados pelos favoráveis a moedas de países emergentes nesta sessão. Preços de commodities importantes, como o petróleo e o minério de ferro, se recuperaram na esteira de novos anúncios da China.
O banco central chinês cortou as taxas de juros nesta segunda como parte de um pacote de medidas de estímulo para reanimar a economia.
O mercado brasileiro, assim como outros emergentes, tem estado atento ao desenrolar dos planos econômicos da China, principal consumidor de commodities do mundo. O corte de juros deu fôlego ao minério de ferro, que subiu 1,45% na Bolsa de Dalian, enquanto o barril de petróleo Brent avançou mais de 1,50% em Londres.
O Brasil, grande exportador de ambas as matérias-primas, costuma se beneficiar quando as duas se valorizam no exterior, tendo em vista os efeitos positivos sobre a balança comercial do país.
Mas os ruídos fiscais da cena doméstica limitaram os efeitos positivos sobre os ativos brasileiros.
O mercado segue preocupado com a capacidade do governo de equilibrar as contas públicas. Planos de corte de gastos, anunciados na semana passada pela ministra Simone Tebet (Planejamento) e pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda), devem ser detalhados após o segundo turno das eleições presidenciais, em 27 de outubro.
Os anúncios de medidas que irão compor a revisão, no entanto, só serão feitos quando “o governo estiver todo alinhado em relação aos propósitos”, afirmou Haddad.
De acordo com o economista-chefe da Genial Investimentos, José Marcio Camargo, “a falta de indicações sobre quais reformas estão em discussão e quanto será economizado caso o projeto seja aprovado gera mais dúvidas entre os investidores sobre o que será efetivamente enviado ao Congresso”.
“Diante do elevado nível de incerteza fiscal, o governo somente consegue captar recursos para financiar a dívida em prazos cada vez menores a custos mais elevados e pressão permanente sobre o real”.
Já na cena corporativa, Hypera enfrentou um dia de alta volatilidade. Depois de engatarem o pregão com perdas que chegaram a 17%, em meio ao anúncio de um programa de otimização do capital de giro, as ações dispararam e fecharam com ganhos de 1,90%, em resposta à proposta de fusão pelo laboratório EMS.
Grande parte da pressão negativa veio da Petrobras, em queda de 1,57%, apesar da alta do petróleo no exterior. Os investidores reagiram à recomendação do banco HSBC, que cortou a nota dos ADRs (os títulos da petroleira negociados nos Estados Unidos) de “compra” para “espera”.
Vale também foi na contramão do minério de ferro e fechou em queda de 0,36%, a poucos dias da divulgação do balanço do último trimestre. Investidores também repercutiram ainda detalhes de acordo de cerca de R$ 170 bilhões que deve ser assinado nesta semana pela mineradora, pela BHP e pela Samarco com autoridades brasileiras relacionado ao rompimento de barragem em Mariana (MG) em 2015.
As perdas no Ibovespa só não foram maiores por causa da Embraer, que subiu 4,16% após reportar que entregou 57 aeronaves não relacionadas à defesa nos três meses encerrados em setembro -33% a mais que no ano passado.