O CEO da Liga dos Cidadãos Latino-Americanos Unidos (Lulac, na sigla em inglês), Juan Proaño, afirma que Donald Trump pode implementar uma das políticas de imigração mais restritivas dos Estados Unidos. Durante sua campanha, o republicano prometeu realizar a maior deportação em massa do país, uma de suas principais bandeiras.
À frente da maior e mais antiga organização de direitos civis da comunidade hispânica, fundada em 1929, Proaño destaca que, se as propostas de Trump forem concretizadas, isso pode levar à perda do status de refugiados e à expulsão em massa dessas pessoas.
“Estamos falando sobre voltar aos anos 1940, quando os EUA confinaram cidadãos de origem japonesa em campos de internamento após o ataque a Pearl Harbor”, afirmou.
ENTREVISTA
Pergunta: A votação de latinos em Trump neste ano foi recorde para um candidato republicano desde 1976. O que explica esse resultado?
Juan Proaño: É preciso separar algumas coisas. Analisando os dados de votação, vimos que as mulheres latinas votaram em taxas semelhantes a 2016. A maior mudança ocorreu entre os homens latinos. Desde 2016, especialmente no Texas, já havia sinais de melhora para Trump entre eleitores hispânicos. Pesquisadores acreditavam que Kamala Harris atingiria mais de 55% dos votos latinos, mas ela ficou em torno de 52%. Trump não venceu a maioria, mas obteve uma grande vantagem entre os homens latinos em todo o país, o que mudou significativamente o comportamento eleitoral.
P: Essa mudança está ligada ao discurso da direita? Há relação com religião?
JP: Existe uma diversidade entre a população latina nos EUA. Muitos latinos cidadãos, que já vivem aqui há gerações, apoiam a contenção da imigração ilegal na fronteira. E muitos não acreditam que Trump realmente vá deportar 10 milhões de pessoas, assim como ele prometeu construir o muro com o México, o que nunca aconteceu. A narrativa dele sobre a economia também atraiu esse público.
P: Você acredita que Trump cumprirá essas promessas?
JP: Acredito que ele vai tentar implementar uma reforma de imigração. O número de 10 milhões de deportações é gigantesco. Estimativas sugerem que deportar 1 milhão de pessoas custaria cerca de US$ 900 bilhões. Quem pagaria essa conta? Não há efetivo suficiente para executar uma ação desse porte, a menos que ele decida usar o Exército, o que é ilegal.
P: Ele tem mencionado o uso do Exército.
JP: Ele fala sobre diversas medidas, incluindo desnaturalizar cidadãos e deportá-los. No entanto, ainda precisamos ver como isso será executado na prática.
P: No governo Obama, mais pessoas foram deportadas do que no governo Trump. Como você diferencia essas abordagens?
JP: Obama deportou cerca de 3,6 milhões de pessoas, mas a maioria das deportações ocorria na fronteira. Não havia a criação de campos de detenção ou busca ativa em massa. Trump, por outro lado, fala em buscar imigrantes em igrejas, escolas e cidades-santuário, o que nos remete ao cenário de campos de internamento da década de 1940. As pessoas não estão preparadas para esse tipo de abordagem.
P: O que mais te preocupa?
JP: A definição de “ilegalidade”. Beneficiários de programas como o Daca e o TPS, que são refugiados e imigrantes em situação legal, também são alvos dessa retórica. Stephen Miller, conselheiro de Trump, tem se referido a todos esses grupos como ilegais, o que pode levar à revogação de proteções legais existentes.
RAIO-X | JUAN PROAÑO
Idade: 51 anos
Cidade natal: Miami
Cargo: CEO da Lulac desde 2023
Formação: Borough of Manhattan Community College (BMCC)
Carreira: Cofundador da Plus Three, empresa de tecnologia para organizações sem fins lucrativos.