Queernejo: especialista explica fenômeno musical que mistura sertanejo com temas LGBT
Um dos protagnonistas do cenário é Gabeu, filho de Solimões


Inegável que a moda sertaneja já conquistou o devido lugar de destaque no Brasil, com duplas icônicas sendo lançadas ao sucesso e fama, como Vitor e Léo, Zezé Di Camargo e Luciano e Rionegro e Solimões.
Esta última, inclusive, conta com um diferencial que, de forma poética, mostra como a música pode evoluir ao passo em que a responsabilidade é deixada para as próximas gerações.
Isso porque, Gabriel “Gabeu” Silva, filho de Solimões, foi um dos precursores responsável pela popularização do que viria a ser conhecido como Queernejo, subcultura do gênero musical que promove maior ligação com temas e vivências da comunidade Queer/LGBTQIA+.

Gabel ao lado do pai, o cantor Solimões. (Foto: Redes Sociais)
No single “Amor Rural”, lançado em 2019 e que já conta com 1,8 milhão de visualizações no YouTube, o artista traz elementos clássicos do sertanejo, com a vida no campo, trajes típicos e um arranjo musical bem tradicional.
O diferencial é, claramente, a caracterização e trejeitos de Gabeu, abertamente homossexual, com temáticas e enredos voltados para o romance gay, como no trecho: “Tô tentando não pensar, mas no plantio do meu pomar, o teu sorriso é semente, faz nascer uma mangueira”.
Tudo se adapta
Em entrevista ao Portal 6, o violonista, etnomusicólogo e professor dos cursos de Música da Universidade Federal de Goiás, Fernando Llanos, sustentou que, de forma geral, é natural que estilos musicais, até os mais tradicionais, sofram alterações ou recebam influência de outros com o passar do tempo.

Fernando Llano é etnomusicólogo e professor dos cursos de Música da Universidade Federal de Goiás (Fonte: Arquivo Pessoal)
“Raramente um estilo musical permanece intacto com o passar do tempo, mesmo os mais conservadores ou “raiz”. A linguagem musical é como a nossa fala no dia a dia: não nos comunicamos como faz 50 anos atrás, usamos outras palavras, criamos outras tantas, preservamos algumas […] Não se trata de uma tendência, mas sim de uma condição intrínseca de toda e qualquer manifestação cultural expressiva”, pontuou.
Para além, o especialista destacou a importância de outros nomes importantes no meio, como Alice Marcone, Gali Galó, Zerzil, Reddy Allor, mas sobretudo Gabel, “que conseguiu articular um discurso político e cultural em que o queernejo se converte numa arena para tensionar e questionar a heteronormatividade, ao mesmo tempo que celebra a pluralidade”.
Pluralidade e desafio
Por mais que não seja um tópico pesquisado diretamente, ele contou que visões e vivências plurais são temas rotineiramente discutidos entre os alunos na UFG e como estes pontos se conectam com a música.
Por mais que o tema possa gerar certa repercussão negativa, especialmente por estar inserido em um gênero tradicionalmente heteronormativo e atrelado a pautas ligadas a direita, o professor vê com otimismo essa união, destacando que a dinâmica de trocas e misturas nunca é pacífica, mas sempre negociada.
“Esta presença não é apenas simbólica: transforma canções, palcos e plateias, ampliando a representação de corpos, afetos e identidades que estiveram historicamente silenciados. Acredito que, ao ocupar esses espaços, se questiona a noção de “normalidade” musical e social, pavimentando caminhos para que outras alteridades, hoje à margem, encontrem voz e visibilidade nas práticas musicais em nosso país”, finalizou.
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