NELSON DE SÁ
PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) – A morte da brasileira Juliana Marins acontece duas semanas antes da viagem do presidente da Indonésia ao Brasil para a cúpula dos países do grupo Brics e depois para uma visita bilateral.
O país foi anunciado em janeiro último, pelo governo brasileiro, como mais novo integrante pleno do bloco, que também tem China e Rússia, entre outros. Tem “a maior população e a maior economia do Sudeste Asiático”, enfatizava o Itamaraty no comunicado. O país tem 281 milhões de habitantes -o Brasil tem 212 milhões, segundo estimativa mais recente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Após a morte, o tom da gestão Lula (PT) já foi outro, afirmando ter cobrado o resgate do governo indonésio “no mais alto nível”, uma referência, presume-se, ao próprio presidente Prabowo Subianto.
Ecoou os milhares de brasileiros que inundaram os comentários do perfil de Prabowo no Instagram, nos últimos dias, com cobrança ainda mais forte. Questionavam-no diretamente pela suposta lentidão no resgate e pela suposta apresentação de informação falsa para a família.
Em resposta às pressões, uma autoridade do palácio presidencial apareceu na terça-feira (24) para falar que Prabowo estava “preocupado” com a jovem brasileira. Que não dá atenção apenas às “coisas macro”, mas também aos indivíduos, àquilo que é “de pessoa para pessoa”.
Também para garantir expressamente que aqueles que “pedem a atenção do presidente através de mídia social” estavam sendo ouvidos. Prabowo estaria monitorando os pedidos online, tanto de brasileiros como indonésios, e teria enviado uma equipe à província de Nusa Tenggara Ocidental.
Foi o governador da província quem comandou a operação de resgate, mas o foco dos brasileiros se fixou no presidente -que é ex-general do Exército e ex-ministro da defesa. O episódio é um choque inesperado para uma relação que o Brasil vinha buscando há tempos.
O presidente anterior, Joko Widodo, era resistente a um papel internacional maior para a Indonésia. Prabowo, que teve seu apoio para se eleger, é o oposto. Não só aceitou o convite do Brics, mas viajou a China e Rússia, mostrou-se disposto a ser protagonista no novo quadro multipolar.
O vínculo com o Brasil prometia ser tão grande quanto o dos parceiros asiáticos —ao menos no plano brasileiro de viabilizar uma frente de defesa das florestas tropicais, encabeçada por ambos, para pressionar os países desenvolvidos por recursos contra o desmatamento.
Com a confirmação da morte, o tom em mídia social dos brasileiros aumentou em agressividade e acusação, remetendo àquele de dez anos atrás, quando a Indonésia executou um traficante brasileiro, gerando revolta aberta em mídia social –e também entre políticos, inclusive a então presidente Dilma Rousseff.
Prabowo pode estar repensando a viagem, mas ainda não há evidência de que vá desistir de estar na cúpula Brics.