Psiquiatra identifica sinal precoce em bebês que pode indicar TDAH
Alterações constantes no sono durante os primeiros meses de vida podem servir de alerta para o transtorno, segundo especialista da Unicamp

Um comportamento aparentemente comum entre os bebês — o de demorar a dormir ou acordar várias vezes durante a noite — pode ter relação com algo mais sério do que simples agitação infantil.
De acordo com o psiquiatra Sérgio Nolasco, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), problemas persistentes de sono nos primeiros anos de vida podem ser um sinal precoce do TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade).
A observação foi feita durante o 17º Congresso Brasileiro de Adolescência, promovido pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) em Porto Alegre (RS).
O médico explicou à Revista Crescer que crianças que apresentam distúrbios de sono desde cedo têm maior probabilidade de desenvolver o transtorno mais adiante.
Segundo ele, o TDAH está ligado a um atraso no amadurecimento do córtex cerebral, a região do cérebro responsável pelo controle da atenção e das emoções. Essa imaturidade também afeta o funcionamento dos ritmos biológicos, o que pode tornar o sono mais irregular.
Pesquisas reforçam a ligação entre sono e TDAH
Estudos recentes têm reforçado essa associação. Uma pesquisa conduzida na Suécia, com mais de 2.500 crianças de até 18 meses, mostrou que aquelas com problemas graves de sono apresentaram maior risco de diagnóstico de TDAH na infância.
Após acompanhamento de mais de cinco anos, apenas as crianças que tinham dificuldade crônica para dormir desenvolveram o transtorno. Nenhuma das que dormiam bem apresentou sintomas compatíveis com o diagnóstico.
Os pesquisadores destacaram que, embora os resultados ainda sejam iniciais, os dados ajudam a identificar padrões que podem orientar pais e profissionais de saúde na observação precoce de sinais comportamentais.
Quando o sono diz mais do que parece
De acordo com Nolasco, pessoas com TDAH — crianças ou adultos — frequentemente relatam dificuldade em relaxar e “desligar a mente” na hora de dormir.
Esse comportamento, explica o especialista, pode estar relacionado a alterações genéticas em genes que regulam o relógio biológico, o chamado ritmo circadiano.
“Há quem funcione melhor no período da tarde e apresente um desempenho cognitivo inferior pela manhã. No caso do TDAH, isso costuma ser constante, e não apenas uma fase”, detalha o psiquiatra.
Alguns países, inclusive, chegaram a atrasar o início das aulas para adolescentes, depois de constatarem que a concentração melhora quando o cérebro está mais ativo no fim do dia.
Atenção aos sinais
O médico reforça que nem toda alteração no sono indica TDAH, mas que o acompanhamento atento dos pais e pediatras é essencial.
Quando a criança apresenta sono irregular, irritabilidade frequente e dificuldade de concentração à medida que cresce, é importante buscar avaliação médica especializada.
Identificar sinais precoces pode fazer diferença no tratamento, já que a intervenção precoce ajuda a minimizar os impactos do transtorno na vida escolar e social da criança.