Bióloga descobre possível forma de tratar o câncer de pâncreas, um dos mais agressivos

A proposta da cientista do Instituto de Pesquisa em Saúde de Aragón (IIS Aragón) foi reconhecida pela L'Oréal-UNESCO para Mulheres na Ciência

Magno Oliver Magno Oliver -
Bióloga descobre possível forma de tratar o câncer de pâncreas, um dos mais agressivos
(Foto: Reprodução / Instituto de Investigación Sanitaria Aragón)

O câncer de pâncreas é uma doença silenciosa e traiçoeira: ele costuma crescer sem sintomas, apresentar diagnóstico tardio e resistir a intervenções tradicionais. Mesmo com quimioterapia, imunoterapia e outros tratamentos avançados, a resposta terapêutica frequentemente é limitada e muitos fármacos simplesmente não penetram efetivamente no tumor.

É nesse contexto que surge uma proposta inovadora liderada pela bióloga espanhola Alejandra González: em vez de lutar diretamente contra as células malignas, por que não modificar o “terreno” onde elas se instalam?

Sua ideia é induzir a formação temporária de vasos linfáticos no interior do tumor, de modo a drenar líquidos acumulados, reduzir a pressão interna e permitir que as drogas alcancem melhor seu alvo. A proposta da cientista do Instituto de Pesquisa em Saúde de Aragón (IIS Aragón) foi reconhecida pela L’Oréal-UNESCO para Mulheres na Ciência

Bióloga descobre possível forma de tratar o câncer de pâncreas, um dos mais agressivos

Tumores de pâncreas costumam se envolver por uma densa matriz fibrosa e acumular fluido entre as células, isso gera uma pressão interna elevada que comprime vasos sanguíneos e dificulta a chegada de medicamentos. Mesmo que a quimioterapia ou outras terapias fossem eficazes, elas acabam sendo barradas por essa barreira física.

A inovação de González é justamente interferir nessa barreira: estimular a formação de vasos linfáticos funcionais no tumor para que o excesso de fluido seja drenado temporariamente. Assim, a pressão cai, o microambiente se altera e os medicamentos podem se propagar melhor no tecido tumoral.

O trabalho já está em andamento com modelos experimentais em especial em roedores e em dispositivos laboratoriais chamados “chips microfluídicos”, que simulam o ambiente mecânico humano. Esses chips permitem controlar a rigidez do tecido, a dinâmica de fluxo e observar como o tumor e os vasos reagem em condições controladas.

Com esses modelos, os cientistas puderam verificar que, ao reduzir a pressão e induzir vasos linfáticos, o transporte de fármacos no interior do tumor aumentou, melhorando sua eficácia esperada.

Além disso, a abordagem de González chama atenção pelo seu caráter “préparatório”: ela não substitui quimioterapia ou imunoterapia, mas busca tornar o tumor mais acessível a esses tratamentos.

A pesquisa já lhe rendeu reconhecimento importante, como o prêmio L’Oréal-UNESCO “For Women in Science 2025”. Ela une conhecimentos de biologia vascular, microengenharia e oncologia para enfrentar um obstáculo muitas vezes ignorado: as propriedades físicas do tumor.

No entanto, há muitos desafios a vencer: testar essa estratégia em animais maiores, avaliar segurança, verificar efeitos colaterais, adaptar a humanos.

Se a estratégia for validada em estudos clínicos, poderemos ver um novo paradigma: não atacar o tumor “de fora para dentro”, mas intervir no ambiente mecânico para abrir caminho para terapias existentes. Isso poderia reverter um dos grandes obstáculos na oncologia moderna: o fato de muitos fármacos promissores não funcionarem porque não alcançam o tumor em quantidade suficiente.

Em casos do câncer de pâncreas, onde a taxa de sobrevivência ainda é muito baixa e os avanços lentos, essa abordagem abre uma esperança tangível. Ainda não é uma cura, mas pode se tornar parte de um arsenal terapêutico mais eficiente e complementar.

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Magno Oliver

Magno Oliver

Jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás. Escreve para o Portal 6 desde julho de 2023.

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