Trabalhadores e estudantes ficam em casa um dia após megaoperação policial no Rio

Ação policial é considerada a mais letal da história fluminense, com registro de tiroteios, caos em ruas e veículos queimados

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Trabalhadores e estudantes ficam em casa um dia após megaoperação policial no Rio
PM acompanha cenário após operação. no Rio de Janeiro. (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

LEONARDO VIECELI, ALÉXIA SOUSA E LOLA FERREIRA – RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A fisioterapeuta Marcia Saldanha, 26, evitou sair de casa para trabalhar nesta quarta-feira (29). Ela vive na Baixada Fluminense e reagendou atendimentos domiciliares que faria a clientes na cidade do Rio de Janeiro.

A decisão buscou evitar riscos no deslocamento um dia após uma megaoperação contra o Comando Vermelho gerar um cenário de guerra nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio.

A ação policial é considerada a mais letal da história fluminense, com registro de tiroteios, caos em ruas e veículos queimados. O número de mortos chegou a 119, segundo contagem oficial.

“A gente não sabe o que vai acontecer, porque foram muitas mortes. O alvoroço foi muito grande. Então, é para se resguardar no dia de hoje”, diz Marcia.

Ela não é a única que evitou a saída para o trabalho. Parte dos órgãos públicos e das empresas resolveu deixar funcionários em casa nesta quarta, enquanto escolas e universidades suspenderam aulas presenciais.

As medidas foram tomadas mesmo com a operação normal dos modais de transporte, segundo a prefeitura carioca.

“Parecia uma guerra, e fiquei muito temerosa em voltar a trabalhar. Graças a Deus, fui liberada para trabalhar em home office hoje. Estávamos todos com medo de encarar os sustos novamente”, disse a moradora da Baixada Fluminense Flávia Lima, 42, que é servidora da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).

Em nota, o órgão de pesquisas da área de saúde confirmou a liberação de trabalho remoto no Rio nesta quarta, com exceção de atividades essenciais.

O editor de livros Thadeu Santos, 38, trabalha no centro do Rio e mora em Jacarepaguá, na zona sudoeste. Ele e os colegas também foram orientados a atuar em home office.

“Muitos funcionários moram próximo a áreas de confronto ou passam pelas vias próximas aos confrontos. E acho que todo mundo passa por vias que foram bloqueadas ontem. Foi uma decisão geral, e a empresa tem boa infraestrutura para home office”, diz.

Em regiões como a zona sul do Rio, afastada de onde ocorreu a megaoperação policial, quem andou por ruas e avenidas percebeu um trânsito menos intenso do que o habitual na manhã desta quarta.

A zona sul reúne bairros com vocação turística. A lista inclui locais como Copacabana, Ipanema, Leblon e Botafogo.

“Criou-se um pânico em todo mundo, principalmente nos jovens, que ficaram acessando as redes sociais e vendo tudo”, afirma a jornalista Luciana Leall, 44, que mora na zona sul.

Ela conta que sua filha e outros colegas não foram para a escola nesta quarta.

“Por mais que estejamos longe geograficamente [da área da operação], a rede social e a internet nos deixam muitos próximos. Estamos vivendo esse pânico em conjunto, enquanto comunidade, enquanto sociedade. Tudo isso é muito triste e assustador”, afirma.

O IMPACTO NA EDUCAÇÃO

Segundo a Secretaria Municipal de Educação, escolas dos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte, estão com aulas presenciais suspensas nesta quarta. Os dois locais somam 49 instituições, disse a pasta.
Ainda de acordo com a secretaria, as demais escolas da rede municipal funcionam regularmente.

A reitoria da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) informou que as aulas e as atividades administrativas presenciais, exceto as consideradas essenciais, permanecerão suspensas durante todo o dia no Rio e em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

“A UFRJ mantém-se vigilante e acompanhando atentamente a evolução da situação de segurança pública”, acrescentou.
A reitoria da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) disse que as atividades presenciais permanecerão suspensas nesta quarta no Rio e na região metropolitana, com exceção de funções consideradas essenciais.

“A decisão fundamenta-se no comprometimento com condições de mobilidade urbana em segurança, pensando no impacto do deslocamento da comunidade universitária e a regularidade dos serviços essenciais, bem como na necessidade de preservar a integridade de estudantes, servidores e colaboradores”, afirmou a Uerj.

A UFF (Universidade Federal Fluminense), por sua vez, anunciou a suspensão de atividades acadêmicas e administrativas presenciais em Niterói, na região metropolitana, nesta quarta.

“A decisão considera os possíveis impactos na segurança pública, nas condições de deslocamento e no funcionamento dos transportes, que afetam parte significativa da comunidade universitária que reside na capital fluminense”, completou.

A PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) disse que as aulas presenciais desta quarta foram transferidas para a modalidade remota.

“Os docentes foram orientados a disponibilizar a gravação das aulas na plataforma Moodle, de forma a permitir o acesso para aqueles que estiverem impossibilitados de participar de forma síncrona.”

Outras instituições também mantiveram a suspensão de atividades presenciais nesta quarta. É o caso do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

“A Superintendência do Iphan no Rio de Janeiro informa que, temporariamente, permanece com atendimento presencial suspenso. Durante este período, as atividades de fiscalização estarão interrompidas e o trabalho das equipes será realizado em regime de home office”, disse o órgão.

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