Morador da periferia de Anápolis tem filme selecionado para mostra de Buenos Aires
Documentário experimental flerta com a ficção científica e foi gravado com um celular acoplado a uma lente macro
“Eu queria realizar um filme dentro de um espaço muito reduzido, levando ao extremo as minhas limitações de espaço e equipamentos. Era uma espécie de desafio, eu acho”, explica o diretor de cinema Rei Souza, morador da periferia de Anápolis que traz esse cotidiano para suas obras.
Mondo LXXV é feito a partir de imagens da revista National Geographic dos anos 1970. Nelas, o autor encontrou um resgate de memórias da infância, ainda na escola. O filme será exibido no dia 03 de maio às 19 horas, durante o DocBuenosAires, na capital Argentina.
O documentário experimental flerta com a ficção científica e foi gravado com um celular acoplado a uma lente macro. São quase quatro mil fotos trabalhadas em uma edição minuciosa. O filme chegou à versão final depois de um ano. Como resultado, Mondo LXXV traz um processo: da natureza selvagem para a civilização que, esgotada, vai para a corrida espacial em uma busca por outros universos, outros mundos a serem explorados.
O artista tem raízes nas artes visuais e trabalha com vídeos, fotografias, videoarte e outros experimentos. Com qualquer dispositivo que capte imagens ele é capaz de transformar a vida cotidiana da periferia anapolina em arte.
Urgência da arte
“Eu sou um autor da periferia e venho de um lugar que é de carências. Então eu aprendi muito com isso: de tentar realizar com o que eu tenho”, enfatiza Rei. Ele enxerga dificuldades em lidar com os editais de financiamento, que têm uma lógica muito própria, por isso opta por um caminho mais solitário na realização seus filmes. Geralmente é ele quem produz, grava e edita sons e imagens.
O artista trabalha com produções não-comerciais, mas a percepção sobre os festivais goianos e a troca de experiências com outros profissionais levam Rei Souza a um lugar de solidez cada vez maior. “Eu sempre fui do presente, de tentar realizar as coisas com o que tenho. Pegar essa carência e dialogar com o espaço, tentar resgatar, dar vida ao meu imaginário através dessas limitações. Meu estilo nasce daí, de tentar encontrar soluções para expandir”, finaliza Rei.
*Conteúdo originalmente publicado no Te Amo Anápolis