Ultradireita da Espanha, Vox faz aliança para governar 10 grandes cidades

Entre as 50 capitais de províncias, os populares estarão no poder em 30 delas

Folhapress Folhapress -
Ultradireita da Espanha, Vox faz aliança para governar 10 grandes cidades
Esquerda vence eleição presidencial mas perde força política na Espanha. (Foto: Agência Brasil)

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Junto com o conservador Partido Popular (PP), a agremiação de ultradireita Vox conquistou dez grandes cidades espanholas após as eleições locais do final de maio -aliança que pode ser um prelúdio do pleito do mês que vem, que definirá o Legislativo e um eventual novo primeiro-ministro.

Entre as 50 capitais de províncias, os populares estarão no poder em 30 delas -e em cinco dividirão o governo com o controverso partido fundado em 2013 por seus dissidentes. Alcalá de Henares, onde nasceu o escritor Miguel de Cervantes, Móstoles, nos arredores de Madri, e as cidades autônomas de Ceuta e Melilha também serão governadas pela aliança.

O PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), que atualmente governa a Espanha, conquistou quatro capitais, como Barcelona, Vitoria, Cuenca e León.

“Em mais de 140 municípios de toda a Espanha, o bom senso prevalecerá”, afirmou neste sábado (17) o presidente da agremiação, Santiago Abascal. Com esses acordos, o Vox quer mais do uma simples troca de partidos -o grupo político pretende colocar em marcha a sua agenda conservadora, segundo comunicado dessa que é a terceira força política do Parlamento.

Um dos objetivos é acabar com secretarias municipais “ideológicas”, nas palavras do partido, como as de Igualdade -na visão do Vox, os órgãos “esbanjaram” milhões de euros e “não resolveram problemas reais”.

Segunda cidade mais populosa da província de Alicante, Elche está nas mãos da coalizão. Lá funcionará a Secretaria de Família e Idosos sob a liderança da vereadora do Vox Aurora Rodil, que, neste sábado, disse que defenderia a vida dos “nascidos” e dos “nascituros”. Está no papel ainda o fim da ciclovia dessa cidade.

Em Ciudad Real, onde o PP incluiu o Vox no governo mesmo sem precisar do partido para conseguir o poder, planeja-se promover “as famílias e a natalidade”, “conservar os espaços naturais sem demagogia ambientalista”, “ampliar o orçamento da Semana Santa” e “reestruturar as secretarias sem nomenclaturas ideológicas”.

O combate às alterações climáticas também pode ficar fora dos planos na gestão desses municípios. Notório negacionista do aquecimento global, o partido chegou a afirmar por meio de seu porta-voz, em 2021, que um informe do IPCC (painel de especialistas das mudanças no clima da ONU) sobre as consequências da crise ambiental era “o maior alerta de pânico climático”. Na mesma ocasião, Abascal, líder do partido, classificou o aquecimento do planeta de “religião climática”.

A vitória da aliança de direita levou o premiê espanhol, o socialista Pedro Sánchez, a antecipar as eleições legislativas de novembro para 23 de julho. As pesquisas indicam que o PP alcançará a maioria em grande parte dos redutos eleitorais -mas, para formar um governo, precisará se aliar ao Vox. A ameaça de um governo ultraconservador foi o tema central da campanha para a reeleição de Sánchez.

“Estamos numa maré de direita na Espanha”, disse Miguel Ángel Revilla, governador da Cantábria, numa entrevista coletiva após a divulgação dos resultados iniciais no dia 28 de abril. Em relação às últimas eleições, o PP cresceu de 23% para 31%, o PSOE diminuiu de 29% para 28% e o Vox duplicou sua votação geral, de 3,5% para 7%. Outros partidos não alcançaram 3% da votação geral.

A aliança entre conservadores e ultradireitistas, porém, dá mostras de que terá seus desafios. Na última sexta-feira (16), o deputado do Vox da casa legislativa de Valência José María Llanos afirmou que “a violência de gênero não existe e a violência machista não existe”. A avalanche de críticas o levou a se pronunciar no Twitter em poucas horas.

“Gostaria de retificar e condenar todos os tipos de violência contra as mulheres, incluindo a violência sexista. O que nego é a existência de violência de gênero”, afirmou. Ele disse que tentará erradicar “todos os tipos de violência” por meio de marcos legais que “permitam que todas as vítimas sejam protegidas”.

O líder do PP, Alberto Núñez Feijóo, correu para apagar o incêndio e apresentar uma imagem mais moderada. “A violência de gênero existe e cada assassinato de uma mulher nos choca como sociedade”, tuitou o político. “No PP não daremos nenhum passo atrás na luta contra este flagelo”, acrescentou.

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