Haddad avalia manter no FMI indicado por governo Bolsonaro e gera incômodo no PT

Possibilidade começou a ser ventilada no início semana passada entre integrantes do Executivo

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Haddad avalia manter no FMI indicado por governo Bolsonaro e gera incômodo no PT
Ministro aponta que as 11 mil empresas atendidas pelo Perse faturam mais hoje do que antes da pandemia (Foto: Reprodução/Valter Campanato/Agência Brasil)

ALEXA SALOMÃO, IDIANA TOMAZELLI E CATIA SEABRA

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ministro Fernando Haddad (Fazenda) avalia manter o economista Afonso Bevilaqua como representante do Brasil no FMI (Fundo Monetário Internacional). A permanência do diretor na instituição é defendida pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

De acordo com relatos feitos à reportagem, Haddad analisa a sugestão, e alguns representantes do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já dão como certo que Bevilaqua fica no órgão —onde atua como diretor-executivo do Brasil.

A possibilidade começou a ser ventilada no início semana passada entre integrantes do Executivo e causou surpresa e até irritação entre aliados do PT.

A avaliação é que a vaga no FMI é um posto nobre, para a qual inúmeros aliados do governo estão qualificados. Para essa ala, não faz sentido que o governo Lula mantenha no posto um economista que foi indicado pelo governo Jair Bolsonaro (PL).

Bevilaqua já se tornou alvo de reclamações no atual governo após o presidente da Argentina, Alberto Fernández, se queixar a Lula, em abril, da falta de apoio do Brasil à renegociação que o país vizinho buscava junto ao fundo.

Na época, segundo relatos de pessoas a par das conversas, a Argentina transmitiu a mensagem de que o diretor brasileiro estava sendo um dos mais rigorosos nas exigências e condições, uma postura inesperada pelo país vizinho.

Ainda de acordo com os relatos, foi nesse contexto que Campos Neto começou a defender o nome de Bevilaqua no FMI, assumindo a posição de entusiasta de sua permanência.

Desde então, o diretor do FMI e Haddad já tiveram quatro encontros, segundo a agenda pública do ministro da Fazenda.

O primeiro deles foi em 15 de maio, apenas entre os dois. O segundo ocorreu dois dias depois, em reunião de Haddad com primeira vice-diretora-gerente do FMI, Gita Gopinath.

Ele também esteve com o ministro da Fazenda em 6 de setembro, no gabinete da pasta em São Paulo, de acordo com a agenda oficial. O economista ainda participou de uma videoconferência em 4 de outubro com a equipe econômica brasileira e membros do governo da Espanha.

Bevilaqua assumiu o posto em 2019, sucedendo Alexandre Tombini —que ingressou na vaga em 2016, após atuar como presidente do BC na gestão de Dilma Rousseff (PT).

Entre 2020 e 2021, ele trabalhou para amenizar as divergências entre o governo brasileiro e o fundo.

O então ministro da Economia, Paulo Guedes, discordou das projeções da instituição para o desempenho da economia local e dispensou formalmente os trabalhos da entidade no país, que mantinha escritório no Brasil desde 1999.

O economista vem de família de militares com forte atuação na política brasileira. Entre seus ascendentes diretos estão Benjamin Constant, um dos fundadores da República. Seu avô, também oficial, Peri Constant Bevilaqua, defendeu a posse de João Goulart na chamada Campanha da Legalidade em 1961. Após o golpe de 1964, filiou-se ao MDB e atuou em favor da anistia para presos e exilados políticos.

No passado, Bevilaqua não teve uma boa relação com o governo Lula.

Ele foi diretor de Política Econômica do Banco Central de 2003 a 2007 e, no período, virou símbolo de conservadorismo nas decisões do Copom (Comitê de Política Monetária). Deixou o cargo alegando razões pessoais, mas sob críticas.

Na época, integrantes do governo pediam uma redução mais rápida da taxa básica de juros, então em 13% ao ano —patamar similar ao atual.

O então presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, contemporizou a saída, argumentando que ninguém ficava para sempre no BC. Curiosamente, um dos críticos de Bevilaqua na época era Paulo Nogueira Batista Jr., economista que havia sido indicado justamente para diretoria executiva do FMI.

A diretoria executiva do fundo tem 24 diretores. Os ocupantes são eleitos por países-membros ou por grupos de países. Cabe a ela a agenda diária da instituição.

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