Putin é autor de seu próprio exílio, diz premiê do Reino Unido no G20
Russo é alvo de um mandado de prisão internacional por crimes de guerra e corria o risco de ser preso em solo brasileiro

CLARA BALBI
O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, usou palavras fortes ao falar sobre o líder da Rússia, Vladimir Putin, em um encontro com a imprensa às margens do G20 nesta terça-feira (19).
“Pelo terceiro ano seguido, Putin não participou da cúpula. Ele é o autor de seu próprio exílio, e no milésimo dia da guerra ilegal da Rússia contra a Ucrânia, eu declaro novamente, dê fim a esta guerra. Saia da Ucrânia agora”, disse elo britânico.
O russo é alvo de um mandado de prisão internacional por crimes de guerra e corria o risco de ser preso em solo brasileiro caso comparecesse ao evento.
Questionado sobre a menção relativamente curta ao conflito no Leste Europeu na declaração final do evento, contudo, o premiê desconversou. Disse que usou todas as chances que tinha, tanto no encontro oficial de líderes quanto nas reuniões bilaterais de que participou, mas que o comunicado “obviamente foi negociado por um grupo bastante diverso” e que o texto ao final era “absolutamente claro” sobre as determinações da Carta da ONU acerca do respeito à soberania e à integridade territorial dos países.
Além disso, acrescentou o líder, o G7 -grupo dos países industrializados liderado pelos Estados Unidos- publicou seu próprio comunicado sobre o tema no sábado (16). No texto, seus países-membros se comprometem a “impor custos severos à Rússia” por sua guerra contra a Ucrânia.
Ao lado dos demais membros do G7, o Reino Unido pressionou para que a declaração final da cúpula condenasse a Rússia pelo conflito. Ao final, porém, o documento não citou o país -que, também membro do G20, foi representado por seu chanceler, Serguei Lavrov, nas negociações.
O comunicado ainda acabou por dedicar menos linhas à Guerra da Ucrânia do que ao conflito Israel-Hamas. O trecho relativo aos enfrentamentos na Faixa de Gaza foi considerado uma vitória das nações emergentes, que insistiram na menção à região.
A declaração de Starmer desta terça se dá em um momento de escalada do conflito no Leste Europeu. Um ataque aéreo de Moscou contra o território ucraniano no domingo (17) levou o presidente americano, Joe Biden, a permitir que Kiev utilize armas de longo alcance para atacar os vizinhos invasores.
A decisão dá margem para que Putin acione a sua cartilha nuclear. O russo ameaçou diretamente os EUA e seus aliados com armas atômicas caso Volodimir Zelenski, o presidente ucraniano, empregasse mísseis ocidentais contra a Rússia.
Starmer minimizou, porém, uma pergunta de um jornalista que questionou se os britânicos deveriam se preparar para uma guerra nuclear.
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“A Rússia tem uma retórica irresponsável que não deterá o nosso apoio [à Ucrânia]”, disse.
Além do conflito, Starmer também mencionou reuniões que teve com outros chefes de Estado ao longo da cúpula, como o indiano Narendra Modi, a italiana Giorgia Meloni e o japonês Shigeru Ishiba.
Ainda citou iniciativas firmadas com o Brasil, uma das quais uma aliança global pela energia limpa, projeto que busca acelerar a transição energética, diminuir impostos, aumentar a segurança energética e reduzir as emissões de carbono pelo mundo.
Por fim, Starmer enfatizou a importância de dialogar com a China, com cujo líder, Xi Jinping, ele se reuniu na véspera. Esta foi a primeira reunião entre líderes dos dois países em seis anos. “Em um momento de enorme volatilidade, acredito que ambos reconhecemos a importância de interagir”, disse o britânico.
“É claro que ainda haverá áreas em que não concordamos”, prosseguiu, citando o apoio dos chineses a Moscou, de quem são parceiros estratégicos, e a situação em Hong Kong, ex-colônia britânica que tem sido alvo de cada vez mais repressão por parte de Pequim. O movimento pró-democracia do território autônomo sofreu um novo golpe nesta mesma terça, quando 45 ex-políticos e ativistas foram condenados em um julgamento em massa.
“O aprendizado que a história nos traz é que, quanto mais estamos dispostos a lidar com os problemas, mais seguro fica o mundo. Concordamos em deixar este canal de comunicação aberto [com a China]”, completou o premiê.