O que é o pó rosa usado para apagar fogo que colore os céus de Los Angeles?
Produto é considerado seguro para as pessoas, mas há preocupações quanto ao impacto sobre a vida selvagem nas matas da área
Aviões que combatem os incêndios na Califórnia despejam um pó sobre o fogo, criando uma nuvem cor-de-rosa que tem chamado atenção.
QUE MATERIAL É ESTE?
O pó rosa é chamado Phos-chek e é um retardante de chamas que ajuda a conter os incêndios. Supressores de fogo aéreos como este são geralmente uma mistura de água, fosfato de amônio (composto usado também em fertilizantes) e óxido de ferro. Este último ingrediente é adicionado para torná-lo visível -dando ao produto a cor vibrante no céu de Los Angeles, explicou à rede americana CBS o professor de engenharia civil e ambiental da Universidade do Sul da Califórnia Daniel McCurry.
Serviço Florestal já usou 13 aeronaves para despejar o pó nos focos de cinco incêndios florestais que atingem a região. O Phos-chek ajuda a privar as chamas de oxigênio e diminuir o ritmo de queima até a extinção do foco, resfriando as vegetações, solo e outras superfícies atingidas.
A empresa Perimeter, que fornece o pó, disse à CBS que o fosfato muda a forma com que a celulose nas plantas se decompõe e as torna não inflamáveis. Centenas de milhares de galões têm sido empregados nos últimos dias para tentar conter o avanço do fogo sobre outros bairros através dos penhascos e outras áreas verdes que são de difícil acesso a bombeiros pelo solo, explicou o Departamento de Bombeiros da Califórnia.
Apesar de ser, em média, muito eficiente, o pó rosa tem suas limitações. Ventos fortes podem tornar muito perigoso para os aviões voarem em baixas altitudes, necessárias para o depósito do produto, e podem dispersar ainda o conteúdo da área de queimada antes mesmo que ele atinja o solo.
As companhias elétricas da região também estão apostando no pó para tentar proteger postes e a fiação elétrica dos bairros, segundo a CBS Los Angeles. Postes têm seus entornos limpos de entulhos e destroços dos incêndios e depois recebem um spray do pó. Porções são generosas e devem cobrir a maior superfície possível, até rachaduras, para que as cinzas não ganhem espaço. Assim, elas não realimentam chamas que possam se aproximar.
PRODUTO É TÓXICO
O retardante de chamas é considerado seguro para as pessoas. Mas há preocupações sobre o seu impacto sobre a vida selvagem nas matas da área. O Serviço Florestal proíbe o uso de supressores aéreos sobre leitos de rios, córregos e outros corpos de água e também em habitats de espécies ameaçadas, “exceto quando a vida humana ou segurança pública estão ameaçadas” devido aos possíveis efeitos na saúde de peixes e outros animais terrestres.
McCurry diz que ele e outros pesquisadores testaram produtos semelhantes e encontraram metais pesados em um deles, frequentemente usado pelo Serviço Florestal dos EUA. O pesquisador acredita que é possível que o uso destes retardantes esteja ligado ao pico de crômio e outros metais pesados verificados na água próxima às regiões de incêndios. “É difícil, mas não impossível, provar de onde um metal pesado veio. Estamos trabalhando nisso”.
A Perimeter alegou ao canal que a pesquisa do professor foi feita em uma fórmula que não era usada na Califórnia e não é mais adotada pelo Serviço Florestal. A companhia ainda garantiu não adicionar metais ao seu produto, mas que eles estão naturalmente presentes em todos os fertilizantes com fosfato de amônio, e que seus supressores aéreos de fogo “são exaustivamente testados pelo Serviço Florestal dos EUA e estão de acordo ou superam todos os protocolos de saúde e segurança”.
Pó pode ser “mal necessário”. Pela sua eficiência e rapidez, o uso dos retardantes de chamas acaba protegendo a população de outro problema: a inalação de partículas microscópicas tóxicas na fumaça dos incêndios, que causa não só problemas respiratórios como cardíacos ao penetrar nos pulmões e na corrente sanguínea. Além disso, a fumaça está associada a riscos maiores de demência, apontou uma pesquisa do último ano da Associação de Alzheimer dos EUA, o que justifica o seu uso em casos de emergências como esta.