Abril azul: psicóloga explica melhor forma para inserir o autista no mercado de trabalho
A partir de um processo seletivo é bem feito, a empresa pode de fato se beneficiar pelo trabalhador em si


Com base em estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil tem mais de 2 milhões de pessoas no Transtorno do Espectro Autista (TEA), dos quais, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 85% estão fora do mercado de trabalho.
Esse desemprego massivo não é obra do acaso. Foi como explicou, em entrevista ao Portal 6, a psicóloga clínica Patricia Santana, ao afirmar que o grande desafio para a entrada desse público em novas carreiras se deve a desinformação.

Natalia Santana atua como psicóloga há cerca de oito anos. (Foto;: Reprodução)
“A falta de conhecimento sobre o autismo, sobre como trabalhar com ele, ainda é o principal desafio no ambiente de trabalho. A empresa que contrata um funcionário com TEA muitas vezes não sabe como se adaptar ou como cobrar desse funcionário”, explicou a professora da Faculdade Estácio.
A especialista destacou que, apesar de cada caso ser único, não se deve encarar trabalhadores autistas como incapazes. É, sim, necessário reconhecer que de fato pode haver limitações em alguns aspectos, o que não significa que o indivíduo não possua autonomia ou capacidade para desenvolver as tarefas.
“Se a empresa sabe que o indivíduo está no TEA, não convém colocá-lo em atividades ou situações que exijam muita desenvoltura social, não que seja uma norma geral, mas esse é um ponto em que vários pacientes têm mais dificuldade”, salientou.
Natalia também explicou que, para que haja tal compreensão, é imperativo que não apenas os cargos de direção, mas todos os membros da equipe tenham ciência e empatia com as particularidades de pessoas com autismo.
Esse cuidado começa, inclusive, no processo de seleção do funcionário. Não convém, por exemplo, incluir o candidato com TEA em dinâmicas de grupo ou similares, sendo interessante até mesmo fornecer outros meios para que ele possa demonstrar a experiência, como a apresentação de portfólios.
“A partir de um processo seletivo é bem feito, a empresa pode de fato se beneficiar pelo trabalhador em si. São, de forma geral, pessoas processuais, que trabalham de forma sistêmica, com atenção aos detalhes, memorização”, salientou.
Não só de um lado
A psicóloga também afirmou que não se deve esperar apenas das empresas uma postura que facilite o ingresso e permanência de pessoas com TEA no mercado de trabalho, uma vez que também deve haver esforço por parte dos trabalhadores.
“Às vezes, o candidato com o autismo nunca passou por uma entrevista de emprego, não tem essa desenvoltura ainda, daí realmente na hora não sabe como se portar e não é viável que a empresa efetue a contratação”, pontuou.
Por conta disso, é essencial que a pessoa com TEA tenha o compromisso e o interesse em buscar acompanhamento psicológico, especialmente antes de um processo seletivo.