Casa Branca fala em ‘ambiguidade estratégica proposital’ de Trump após divergências sobre Irã
Presidente americano também voltou atrás em falas em um espaço de poucas horas


VICTOR LACOMBE, SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No espaço de alguns dias, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aparentemente abandonou sua política isolacionista para justificar um bombardeio direto ao Irã, defender uma reaproximação entre Washington e a Otan, e criticar o presidente da Rússia, Vladimir Putin, por sua invasão da Ucrânia.
O presidente americano também voltou atrás em falas em um espaço de poucas horas, dizendo, por exemplo, que não pretende mais suspender sanções contra o Irã ele havia dito que estudava fazê-lo após elogiar Teerã por manter o cessar-fogo contra Israel.
A alternância entre postura dura e suave com aliados e inimigos e entre uma política externa isolacionista e intervencionista vem confundindo analistas e estudiosos de relações internacionais bem como países de todo o mundo.
Em resposta a questionamentos, a Casa Branca, entretanto, diz que tudo segue um plano bem estabelecido: Trump, disse a porta-voz Karoline Leavitt, pratica a “ambiguidade estratégia proposital” como tática de negociação. “Os líderes mundiais o temem, o respeitam, prestam atenção a cada palavra que diz”, afirmou.
Leavitt disse ainda que o presidente americano “conduz os eventos mundiais e não é guiado por eles. O mundo está mudando por causa de Donald Trump, e Donald Trump não mudou por causa do mundo”.
Especialistas discordam. Quando ordenou o bombardeio sem precedentes de instalações nucleares iranianas no último dia 21, Trump foi visto como reagindo a uma realidade ditada não pelos EUA, mas sim pelo primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu que entrou em guerra com o Irã dizendo ter o objetivo de impedir a produção de uma arma nuclear.
Ao mesmo tempo, autoridades militares israelenses admitiam sob reserva não ter capacidade de atingir as centrífugas de urânio em Fordow, o complexo enterrado em uma montanha no Irã.
Apenas os EUA, diziam, tem o equipamento necessário para fazê-lo e assim, Trump ordenou um ataque com bombas antibunker carregadas por bombardeiros B-2 Spirit, armas que só Washington possui.
A extensão do dano causado pela ação ainda não está claro, com a Casa Branca defendendo que ele foi “de moderado a severo” (e com Trump dizendo que o programa nuclear do Irã foi obliterado) ao mesmo tempo em que relatórios preliminares de inteligência apontam que o Irã precisará de poucos meses para se reerguer.
Depois de ajudar a mediar um cessar-fogo entre Tel Aviv e Teerã, Trump disse que os EUA tentariam voltar à mesa de negociação para conseguir um novo acordo nuclear com o regime iraniano, mas disse não achar que isso seria necessário. Já nesta sexta, disse que “sem dúvidas” autorizaria novos ataques contra o país persa caso o regime volte a enriquecer urânio.
Apoiadores de Trump para os quais as promessas de campanha isolacionistas do republicano foram importantes na hora de decidir seu voto demonstraram apreensão com a decisão do presidente de envolver os EUA em outra guerra no Oriente Médio.
Outra promessa de Trump, a de que acabaria com a Guerra da Ucrânia rapidamente, permanece distante da realidade mesmo dizendo que faria de tudo para encerrar o conflito, o presidente oscila entre criticar o ucraniano Volodimir Zelenski e o russo Vladimir Putin, ora emboscando um durante visita oficial à Casa Branca, ora dizendo a líderes europeus que o outro não está interessado na paz.