Dados da Receita ligam Vorcaro a empresa dona de casa de R$ 36 mi da qual ele diz ser só inquilino

Desde que a informação veio à tona, em maio, banqueiro nunca admitiu ter conexões com a Super Empreendimentos e Participações SA, empresa que é a dona do imóvel

Folhapress Folhapress -
Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, é preso pela PF enquanto tentava sair do país
Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, foi preso pela Polícia Federal (Foto: Reprodução)

JOANA CUNHA E IRAN ALVES – Desde que veio à tona, em maio, a informação de que o banqueiro Daniel Vorcaro usava uma casa de R$ 36 milhões em Brasília onde recebeu políticos como o senador Ciro Nogueira (PP) e o deputado Hugo Motta (Republicanos), o banqueiro nunca admitiu ter conexões com a Super Empreendimentos e Participações SA, empresa que é a dona do imóvel.

Segundo a assessoria do banqueiro, ele é apenas inquilino. Mas dados oficiais da Receita Federal apontam a existência de vínculos entre Vorcaro e a Super por meio de endereços, telefones e pessoas.

A empresa voltou ao noticiário depois do escândalo do banco Master por ter doado, em 2024, um apartamento de quase R$ 4,4 milhões a uma mulher citada em operação policial de 2022 contra o tráfico de drogas. A defesa dela nega a acusação.

Levantamento realizado pela Folha no cadastro nacional de pessoas jurídicas e juntas comerciais mostra que o telefone de pelo menos três empresas do banqueiro é o mesmo de uma diretora da Super Empreendimentos chamada Ana Claudia Queiroz de Paiva.

O número de telefone que ela fornece à Receita no registro de sua microempresa, ACQ Consultoria e Gestão, é o mesmo das firmas Viking, Vinc e Star Music, de Vorcaro.

Ana Claudia tem outras conexões com a família. Ela e Fabiano Zettel —cunhado do banqueiro— são sócios na empresa Storm, de acordo com dados atualizados da Receita Federal. Ela ainda é diretora das empresas Adonay e Ren, que também têm Zettel na direção.

Embora seja atualmente diretora de empresas com capital social de cifras milionárias (e até bilionária no caso da Super), em 2020, em uma disputa judicial na qual buscava ressarcimento em torno de R$ 14 mil, Ana Claudia pediu justiça gratuita, argumentando que não poderia arcar com as custas do processo e honorários advocatícios “sem prejuízo do seu próprio sustento e de sua família”. O caso envolvia um processo que ela abriu para cobrar um inquilino que deixara de pagar as parcelas de um aluguel mensal de R$ 1.550 em um imóvel.

Em 2024, ela entrou em um financiamento para adquirir um imóvel de R$ 2,4 milhões em um condomínio de Belo Horizonte, transação na qual já deu entrada de R$ 1,1 milhão em recursos próprios, de acordo com a matrícula do imóvel. No mesmo ano, ela passou a pagar financiamento de um apartamento de R$ 1,3 milhão em São Paulo.

A reportagem tentou contato com Ana Claudia pelos emails das empresas e telefones da mãe e do ex-marido, mas não teve resposta.

Entre as conexões dos negócios de Vorcaro com a diretora da Super há uma coincidência de endereços. A Adonay, em que Ana Claudia atua como diretora, está localizada em um complexo comercial da avenida Raja Gabaglia, em Belo Horizonte, no mesmo endereço da Viking, empresa da qual Vorcaro é sócio. O apartamento de quase R$ 4,4 milhões doado pela Super foi comprado da Viking nove meses antes.

Com R$ 100 milhões de capital, a Viking é uma empresa de participações que ficou conhecida na ocasião da prisão de Vorcaro, por ser proprietária do jato em que o dono do Banco Master pretendia embarcar para viajar a Malta no dia em que foi preso, em 17 de novembro. Ele foi solto 12 dias depois.

A sala comercial da Raja Gabaglia também abriga a empresa Vinc, de Vorcaro, e a FSW, que tem como sócia a Moriah, uma empresa de Zettel.

Fabiano Zettel foi diretor da Super na época em que foram comprados a casa de Brasília e o apartamento de quase R$ 4,4 milhões, que depois foi doado. Ele entrou na Super em agosto de 2021 e saiu em julho de 2024.

De acordo com documentos registrados na Jucesp (Junta Comercial do Estado de São Paulo), a Super possui atualmente um capital social de quase R$ 2,6 bilhões, tendo um fundo chamado Termópilas como principal acionista.

O fundo é administrado pela Reag, que foi um dos alvos da Carbono Oculto —operação realizada em agosto, que mira a relação entre setor de combustíveis, PCC e empresas financeiras.

Informações da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) mostram que o Termópilas é controlado por um outro fundo de investimentos, que é seu cotista. Não é possível saber quem é o beneficiário final.

Procurados, advogados e assessores do dono do banco Master responderam, em nota, que um dos sócios da Super é cunhado do banqueiro.

A reportagem procurou a assessoria de Zettel para comentar a informação, mas ele não se manifestou.

“A defesa de Daniel Vorcaro esclarece que a relação de seu cliente com a empresa Super é comercial, envolvendo operações de compra e venda de ativos e contratos de inquilinato. Ressalta ainda que um dos sócios da empresa é cunhado de Vorcaro, fato de conhecimento público. A defesa esclarece ainda que Ana Claudia Queiroz de Paiva é administradora de empresas e presta serviços a uma das empresas de Vorcaro e que seu contrato não prevê exclusividade e se dá dentro da normalidade nesse tipo de serviço”, diz o comunicado de Vorcaro.

Folhapress

Folhapress

Maior agência de notícias do Brasil. Pertence ao Grupo Folha.

Você tem WhatsApp ou Telegram? É só entrar em um dos grupos do Portal 6 para receber, em primeira mão, nossas principais notícias e reportagens. Basta clicar aqui e escolher.

+ Notícias