‘Tudo que foi possível fazer, foi feito’, garante médico sobre óbito de criança em Anápolis

Marcelo Daher, um dos maiores infectologistas da cidade, atendeu Lucas Rodrigues em seus dois últimos dias de vida

Danilo Boaventura Danilo Boaventura -
‘Tudo que foi possível fazer, foi feito’, garante médico sobre óbito de criança em Anápolis

A Escola Municipal Pedro Ludovico Teixeira, na Vila Jaiara, esteva de luto nesta quinta-feira (16). Alunos, pais e professores da unidade ainda se recuperam da perda de Lucas Ferreira Nascimento, que tinha apenas 12 anos e frequentava o 7º ano do ensino fundamental. Há uma semana atrás ele caiu no pátio, quebrou o pulso e não conseguiu mais retornar às aulas.

Devido a uma infecção, ainda não precisamente identificada, ele veio a óbito na noite de terça-feira (14). Esperado para sair em até 30 dias, o laudo a ser produzido pelo Instituto Médico Legal (IML) pode esclarecer por qual tipo de bactéria Lucas teve vida abreviada.

Marcelo Daher, um dos maiores infectologistas da cidade, foi o médico que atendeu o garoto em seus dois últimos dias. A reportagem do Portal 6 foi recebida pelo profissional durante a tarde para uma entrevista na sede da Secretaria Municipal de Saúde (Semusa). ‘Humanamente, tudo o que foi possível fazer, foi feito’, adiantou o infectologista.

Algumas doenças cursam de uma maneira que muito súbita, muito violenta e muito rápida – como foi o caso dele. Apesar da medicação ter sido instituída adequadamente, na dose correta, e a contento, o organismo não reagiu”

A trajetória do quadro clínico, narrado pela direção do Hospital Municipal Jamel Cecílio, sustenta que Lucas Rodrigues em nenhum momento teve o atendimento negligenciado, nem na parte ortopédica, tampouco quando descoberto a infecção.

Terça-feira, 07 de novembro – Lucas cai na escola e fratura o punho esquerdo. Levado para o Hospital Municipal, ele é atendido. Mas como não estava em jejum, o braço dele foi apenas imobilizado e orientado a voltar no dia seguinte para fazer a chamada ‘redução de punho’ (colocar o osso novamente no lugar).

Quarta-feira, 08 de novembro – Em jejum, Lucas retorna ao hospital pela manhã e recebe uma anestesia local no braço. O osso é colocado novamente no lugar, coloca gesso e recebe alta no mesmo dia.

Quinta-feira, 09 de novembro – Lucas retorna ao Hospital Municipal para avaliação e, na consulta, se queixa de dor no membro quebrado e recebe analgésico.

Sábado, 11 de novembro – Lucas é atendido na UPA da Vila Esperança por sentir dor na perna. Medicado, ele é liberado e volta para casa.

Domingo, 12 de novembro – Lucas é atendido no Cais Progresso com dormência nas pernas e é transferido ao Hospital Municipal e internado pelo setor de ortopedia, já apresentado vesículas (bolhas) na face. Acionados, médicos do setor de clínica médica solicitaram exames como tomografia e de sangue.

Segunda-feira, 13 de novembro – Lucas é encaminhado ao setor de reta-guarda (semi UTI) do Hospital Municipal por apresentar uma piora súbita do quadro clínico e é diagnosticado com uma infecção grave a partir dos exames de sangue. A administração de antibióticos é feita imediatamente. Exames ortopédicos, porém, apresentaram nenhuma alteração. No mesmo dia uma vaga de UTI foi solicitada para que o paciente ficasse em uma unidade de maior suporte e o médico infectologista Marcelo Daher passou a acompanhar o caso. Lucas já estava em estado grave.

Terça-feira, 14 de novembro – Lucas é transferido para a UTI pediátrica da Santa Casa, apresenta falência múltiplas dos órgãos e vem a óbito.

HIPÓTESES

A gente fez as hipóteses diagnósticas. Ele já estava medicado adequadamente e precisava de um suporte mais avançado porque piorar o quadro clínico. O que precisava ser feito naquele momento, estava sendo feito. Existem algumas possibilidades diagnósticas que a gente pensa no momento e que são doenças infecciosas muito desagradáveis, que evoluem muito rápido. Não depende da gente ou não depende do medicamento para que você consiga tirar o paciente do quadro grave”

Marcelo suspeita que a bactéria causadora do óbito de Lucas tenha sido a estafilococos. “É a minha hipótese para o quadro”, disse. “Essa bactéria tem um curso infeccioso muito rápido e com um desfecho muito ruim”, complementa.

E aí os nossos esforços não são suficientes para manter o paciente vivo. O organismo fica totalmente inerte com essa infecção. Ela neutralizando as células de defesa, não permitindo combater a infecção”. 

Segundo Marcelo, dois antibióticos (ceftriaxona e clindamicina) foram administrados rapidamente, assim que detectado que Lucas estava com infecção. “E aí os antibióticos tem o seu tempo de agir e o organismo precisa responder também. Se o organismo estiver neutralizado [pela bactéria] o antibiótico sozinho vai demorar mais tempo para agir”, explica.

Questionado pela reportagem se o o laudo SVO (Serviço de Verificação de Óbito) pode esclarecer de vez o caso, o infectologista termina dizendo que “ele vai dar uma posição mais clara ou talvez vai só elucidar algumas coisas e descartar algumas outras possibilidades”.

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